A Primeira Lei

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- Senhor, antes de ir, devo me desculpar.

Alice estava com os pés na ponte reluzente das Sereias Selenas da Lua, e lançava um olhar de súplica ao ser irritado na sua frente.

- Não quero ouvir! Vá embora! - Ele abanou as mãos, expulsando Alice, mas ela insistiu.

- Por favor... - Ela segurou a mão semelhante à pata de um crocodilo e a criatura se encolheu, surpreso com aquele gesto. - Estou aflita por estar perdida neste lugar. Compreenda que não está sendo fácil para mim, estou mudando completamente.
Entrei em um mundo que desconheço, e aqui eu vi mais trevas do que luz.

Ele soltou sua mão da de Alice e desviou o olhar, mirando um monte de terra, e calma tomou conta do seu tom de voz.

- Seu mundo não é muito diferente disso.

Ele disse e se afastou, cabisbaixo.

- Nenhum mundo é tão perfeito para se chamar de lar, e às vezes nós simplesmente não nos encaixamos em lugar algum. Você diz que está perdida, mas quem não está?

Ele voltou seus olhos para ela esperando uma resposta, mas Alice não teve argumentos para aquelas palavras. Na verdade, nada daquilo era insano, era até muito sensato.

- Quantos conceitos mais terei que mudar para chegar onde devo? Tudo o que me dizem se fixa na minha mente. - Ela levou as mãos à cabeça tendo uma leve frustração. - Eu não gosto de ouví-los. Vocês me fazem repensar à vida e acabam por me dizer que ela não vale à pena? É isso? Se não existe um lugar perfeito para mim, então devo parar de procurar? Onde eu vou viver?

É curioso, mas devo dizer que aquele homem baixinho com a aparência de um crocodilo, que sequer pode entrar num lago para se banhar, lançou um olhar de pena para Alice. Ele resmungou algo que ela não entendeu e correu até a margem do rio.

- Você pode me libertar antes de ir?

Ela arqueou as sobrancelhas e foi até ele. O som das águas correndo se fez mais presente.

- Eu? Libertá-lo? Como poderia?

- Você é a princesa e futura rainha desde mundo, apenas uma ordem basta para que eu possa pular no lago sem que as serias me matem. Venha aqui.

Ele puxou Alice pela mão e a levou até a ponte de pérolas. Era muito alto ali e dava para ver onde esteve antes conversando com aquela sereia de cabelos loiros.

- Me autorize a nadar. - Ele pediu com os olhos amarelos brilhando de ansiedade. - Esse mundo pode não ser cheio de luz mas, existem pequenas coisas que nos consolam até que um dia tudo se acabe. Por que não tentar ser feliz ainda que não esteja onde se quer estar?

Alice pensou um segundo, absorvendo aquelas palavras cheias de esperanças, e logo assentiu, destinada a ajudar aquele homem.
De um primeiro momento, ela não soube o que fazer, mas assim que seus olhos azuis miraram a rocha das sereias, suas palavras saíram com uma força desconhecida.

- O Lago das Sereias Selenas da Lua recebe mais um ser mágico, também digno de frequentar essas águas.

As sereias se mostraram de imediato, nadando cada vez mais perto da ponte, furiosas com o que ouviam.

- Este homem que chamarei de Mentor, está livre para ir e vir onde bem entender e ninguém poderá lhe fazer mal.
Eu, Alice, princesa do País das Maravilhas, assim ordeno.

O homem crocodilo esperou ansioso as Sereias assentirem à contra gosto, e assim que elas fizeram o gesto, ele gargalhou e pulou no lago, se sentindo renovado e gargalhando de tanta alegria.

Alice e o Chapeleiro (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora