Palavra de Chapeleiro

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Os nobres se retiravam aos poucos mas a cada segundo um novo membro curioso se juntava a Maise, Aragon e a Lebre, que agora comia as folhas coloridas que caíam da árvore onde se escondiam.

- Estes são os boatos. - Um dos gêmeos sentou no chão atrás da árvore e olhava para os outros, que não desviavam o olhar da Rainha Branca e os membros mais próximos da família. - Dizem que tudo está se tornando  frio e sem cor. As terras da Rainha Vermelha perderam o seu tom e calor.

O outro gêmeo tropeçou na raiz da árvore e bateu nas costas de Maise quase a derrubando.

- E pouco depois de a Rainha morrer com grande dor, Guilhermo e Alice trocaram juras de amor.

O primeiro suspirou.

- Não lhes soa cruel?

- Ele deu à ela um anel. - O segundo completou.

Como se não bastasse o aperto em que estavam, o Gato Chershire surgiu flutuando e se deitando em um galho.

- Cuidado com o que fala, garoto. Maise defenderá Guilhermo com unhas e dentes se continuar insuando que ele é maldoso. - Maise tentou pegá-lo pelo rabo mas foi em vão, tocou o vazio. A calda desapareceu e voltou a aparecer em seguida. - No entanto, nem o próprio carrasco nega a si mesmo. Por acaso alguém duvida que ele faria algo diferente do que o terrível pai fez?

- Guilhermo mudou por Alice.

Maise insistiu recuperando sua confiança em seus instintos. Ela bufou.

- E digam o que quiserem. Alice é boa e ainda nos salvará daquele homem sem coração que é Gottan.

Arangon riu sem realmente querer e a Lebre caiu na gargalhada achando que tinha perdido alguma piada. Todos olharam para ela que ainda ria tentando entender, e por fim parou, voltando a encher a boca de folhas e resmungando.

- Alice sequer entende o seu próprio passado.

Aragon mirou Alice ao longe.

- E me pergunto o que ela fará quando descobrir que todos sabiam de sua história e não tiveram coragem de lhe contar. Não haverá nada que se possa fazer, apenas assistir suas atitudes, para muitos, duvidosas.

- Que bonito! - O Chapeleiro surgiu por trás os assustando. A Lebre cuspia suas folhas amedrontada. - Enquanto estamos em uma cerimônia avassaladora, vocês estão escondidos fofocando! Onde foram parar os seus modos, senhoras e senhores?

A Lebre tratrou de tirar um dos sapatos velhos e deu ao Chapeleiro depressa.

- Aceite este belo presente como forma de minhas mais sinceras desculpas.

O Chapeleiro olhou para o sapato surrado fazendo uma breve análise e assentiu.

- Pois, está desculpada. Este é mesmo um belo presente.

- Obrigada.

- Ora, deixe disso. - Maise foi até ele e segurou seu ombro. - Sentimos muito por sua tristeza, Chapeleiro. Mas não achamos que seria adequado prestar uma homenagem à Rainha que sempre odiamos. Não pareceria sincero.

Ele suspirou e olhou os outros que assentiam.

- Eu compreendo. Agora vão para as suas casas. Não há mais nada que ver por aqui.

Aragon soprou sua fumaça neles que tossiram.

- Sabe o que a morte da Rainha Vermelha significa, não sabe, Chapeleiro?

O Chapeleiro engoliu em seco, seus olhos desviaram de todos e suas mãos foram para as costas numa tentativa de manter a postura.

- O céu voltará a ter suas cores. Este é apenas um momento de mudanças mas...

- Mas... - Chershire voou sobre eles que olharam para cima. - Ora, não tente se enganar. Alice escolheu Guilhermo para se casar e você, ainda que não demonstre, está se sentindo traído. Vamos, se dê a chance de duvidar da bondade dela você também.

- Então são estas as bobagens que saem das bocas amigas! - Ele se irritou incrédulo. - Alice veio para salvar o nosso mundo e é assim que vocês agradecem?

- Já contou à ela o que fez para que Gottan voltasse?

Aragon perguntou e ele estremeceu.

- Já disse à ela que Gottan estava preso e que você ficará em seu lugar?

- Cale-se. - Ele disse magoado e todos exclamaram muito tristes.

- O que você fez?! - Maise apertou os punhos com raiva. - Explique-se imediatamente ou irei contar à ela!

- Não faça isso, por favor. - Ele se virou para olhá-la. - Gottan precisava voltar pois, ele é o único rei agora, e não recebe ordens de ninguém.
E sabem, ele não estava preso. Apenas estava em um lugar bem longe da Rainha Vermelha, não sabia de nada do que se passava aqui. Fui até ele e expliquei tudo, no entanto, para ele ter voltado, alguém deveria ir embora. Há um limite de seres neste país e isto precisa ser cumprido.

- Você está mentido. - Maise o descobriu pois, o Chapeleiro não sabia mentir. Suas mãos tremiam e ele não olhava mais nada além dos sapatos desde que começou a falar.

- A verdade... - Aragon começou ignorando o olhar carrancudo que o Chapeleiro lhe lançava. - ... é que assim que o Chapeleiro chegou até Gottan, fez um acordo com ele. Gottan concordou em voltar, desde que o Chapeleiro, como futuro sucessor do trono, reinvidicasse sua nobreza e ficasse em seu lugar. O Chapeleiro irá para aquele mundo cruel e sujo assim que a próxima escuridão chegar.

- Não! - Maise apontou o dedo para o Chapeleiro. - Não! Não e Não! Eu não posso acreditar neste absurdo! Você não vai para lá!

- Não diga nada à ela. - Ele repetiu preocupado. - Se ela interferir Guilhermo não irá gostar e...

- Chapeleiro. - Um dos gêmeos, o que estava sentado no chão, levantou depressa. - Este mundo é seu, não se desfaça dele.

O Chapeleiro baixou sua vista tristemente e negou com a cabeça.

- O meu mundo é onde eu estiver. Eu ficarei bem. - ele cruzou os dedos. - Palavra de Chapeleiro.

Alice e o Chapeleiro (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora