Passando pela antiga Mariana - 01

476 3 4
                                    

Já faz um bom tempo...

Eu viajo por algumas longas horas, atravessando uma metrópole e algumas vilas ao redor, com ruas esburacadas a pé. Andando pelas vielas e ruas vazias, vejo várias casas antigas e prédios em ruínas aparentemente vazios, com muros quebrados, plantas e vegetação alta por todo lado. Ao olhar para o céu, no meio das nuvens acinzentadas, percebo que já é o começo do final da tarde. A temperatura começa a cair, com o vento frio e o característico cheiro de fuligem e ferrugem sendo carregado no ar.

Olho ao redor novamente, notando que não estava sendo seguida. Viro a esquerda em uma das ruas em decadência, que segue subindo a uma pequena elevação. Noto alguns roedores e pequenos animais aqui e ali, mas nada de presença humana ou de algum animal mais agressivo. Na esquina tem uma placa de madeira em uma das casas, pintada a mão de forma bem improvisada, indicando o nome do local... "Rua Joaquim Távola".

Sigo por esta rua, vendo as casas antigas, a maioria fechada ou em ruinas. Alguns pequenos prédios ou salões comerciais arrombados, a muito tempo abandonados. A mata já venceu o asfalto, crescendo por cima das rachaduras junto com outras plantas a muito tempo. A todo tempo observo as casas, a procura de algum sinal de vida. Fumaça, luz, cheiros incomuns, alguma casa melhor cuidada ou fortalecida de algum modo.

Após passar pela rua e dar umas duas voltas no quarteirão, tendo absoluta certeza que era a única pessoa na área, escolho com cuidado uma das casas. Não uma casa térrea, fácil de invadir. Ou um prédio, que aparenta ruir ou que não tem muita segurança. Após ponderar e analisar, decido por um velho sobrado.

Com uma corda já bem gasta e um gancho de ferro improvisado, escalo o muro de umas quatro casas a baixo na rua. Examino com cuidado ela, tomando cuidado para não atiçar qualquer animal que tenha tomado o local como toca... E sem entrar nesta casa, escalo do muro para perto da sacada da casa velha, subindo para o telhado em ruinas. Rapidamente me agacho no telhado, e observo ao redor com um binóculos velho, analisado as redondezas...

...E nada é visto ao redor, só ruinas e moradias abandonadas. Aguardo uma meia hora e depois com cuidado passo para o telhado do lado. Paro outra vez para olhar ao redor por alguns minutos... E assim vou de casa em casa, atravessando por cima delas até o sobrado.

Desço pelo telhado, indo para a sacada do quintal dos fundos, e abro com cuidado, observando o quarto. Apenas madeira velha, já bem antiga. As paredes estão bem sujas e trincadas. Com cuidado ando pelo piso, confirmando que ele está rangendo em alguns pontos. Ao chegar no corredor, noto que a escada já ruiu a muito tempo. Não preciso me incomodar com certos animais ou outras pessoas.

Fecho a porta do corredor, improvisando uma barricada com o entulho que acho no quarto e deixo a porta da sacada fechada. Abro a minha mochila, pegando uma manta velha e me enrolo nela, para depois comer uma fruta e beber um pouco de água em uma garrafa de vidro antiga. Noto a luz do dia começar a sumir pelas frestas da sacada dos fundos da casa... E me encolho no canto, tentando descansar ao menos um pouco.

Consigo dormir por algum tempo, sempre com o sono leve e uma mão na faca, outro em um pedaço de ferro que achei naquela casa, ambos escondidos embaixo da manta. Durante a madrugada escuto sons de animais noturnos, que saem para caçar.

Escuto a distância uivos de cães selvagens e o miado de alguns gatos perdidos. O barulho bem distante de motores de algum tipo de veiculo, rondando a área. O som do motor aumenta gradualmente, até eu perceber que está na mesma rua que eu decidi visitar.

Escuto pelo menos 3 motores diferentes e alguns pares de vozes... E o som de vozes de pessoas, mandando examinar as casas. Escuto alguém invadindo a casa vizinha, arrebentando portas e janelas, sem achar nada. Noto a luz de tochas, a procura de algo.

Uma das vozes masculinas grita na entrada da casa... Chuta algum tipo de entulho fazendo muito barulho, soca as paredes, tentando intimidar e vai entrando pela casa. Percebo a luz da tocha percorrendo a parte de baixo da casa. Me enrolo na minha manta, me encolhendo o melhor que puder e respiro fundo. Eles não sabem quantas pessoas são, ou se estão nos arredores.

- Somos do feudo da antiga Mariana! Se rendam agora e farão parte de nós! Mas se a gente te pegar, vão pagar como exemplo!

Noto a luz da tocha percorrendo a parte de baixo da casa, notando a luz atravessando as frestas do piso do quarto onde eu estou. A seguir escuto o som de outro motor parando na frente de casa, e outra pessoa entra, segurando outra tocha...

- Achamos um casal duas casas acima, chefia. Já amarramos bem os dois e o fedido está trazendo os dois, sendo puxados pela moto para não fugirem. O que fazemos com eles?

- Traga os dois para cá, amarrados. Coloca as motos na garagem, a porta está só encostada. Eles carregavam algo?

- Mantimentos para alguns dias, uma pistola velha, com quatro balas e algumas garrafas de água. Nenhum papel, combustível ou ferramenta.

- E eles se renderam ou causaram trabalho? Parecem nômades?

- Não, não tem jeito de nômades. Parecem com aqueles que vivem dentro dos túneis da Praça da Árvore. O rapaz me é familiar... Mas a garota, não. Eles se renderam após a gente prometer que não mataríamos eles.

- Ótimo. A casa está vazia, mas o andar de cima tá ruindo. A escadaria já caiu por completo, junto com o piso de um dos quartos. Por sorte, o quintal dos fundos é grande e dá para dormir lá fora sem se preocupar muito.

Os dois saem da casa... O "banguela" sai em encontro do "fedido", enquanto o chefe deles ajeita o quintal dos fundos, usando um sofá velho e improvisa uma fogueira. Acompanho toda a movimentação pelas frestas e buracos do piso e da janela da sacada, tomando cuidado para não ser notada.

Nômade AdriOnde histórias criam vida. Descubra agora