Antiga Sé - 05

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O servo me deixa em uma sala do prédio, mantida por lamparinas a óleo. A sala tem várias mesas e cadeiras, algumas pilhas de papéis, além de penas e tinteiro. Aguardo por algum tempo, até que o meu contratante aparece pela porta, carregando alguns pacotes. Ele me aponta um lugar na mesa e nós tomamos os nossos lugares. Ainda em tom sério ele começa a falar.

- Ronnie já disse o seu nome, Adri. Também me explicou que é uma nômade e que trabalha ocasionalmente para ele. O trabalho que precisa ser feito é bem simples, mas perigoso devido ao valor da entrega.

- Certo, e que tipo de entrega estamos falando, senhor...?

- Paulo. A entrega é isto...  Livros especiais.

Ele desembrulha o pacote, mostrando 3 livros de capa dura, embalados individualmente com cuidado entre panos. Ele me passa um para eu examinar. A encadernação parece ser recente, enquanto o conteúdo é ricamente ilustrado com desenhos técnicos de engrenagens e dispositivos. Eu consigo ler rapidamente algumas passagens, parecendo estar escrito em uma linguagem estrangeira. Eu devolvo o livro para o Paulo, que o embrulha com cuidado e o guarda de volta no pacote, junto com os outros dois livros.

- Parece alemão, é algum tipo de manual técnico.

- Quase isto. São as instruções para montar motores mecânicos, com descrição detalhada das peças e de da montagem.

- São os originais? Parecem novos demais.

- São cópias. Os originais estão em lugar seguro. O seu trabalho é simples... Preciso que o livro seja levado até o tradutor, que vive na região da  antiga Cidade Universitária.

- É muito longe, mas posso fazer isto. Legar alguns livros até lá não parece difícil.

- Não é você que vai levar. Apenas guiar quem irá carrega-los.

- Nesta situação, tudo muda de figura. Vou ter que proteger alguém que não tem costume de viajar através de metade de São Paulo, sendo responsável por ele e o que ele carrega.

- Eu garanto que a pessoa que irá levar os livros é de minha inteira confiança, sendo capaz de se proteger e te proteger facilmente durante toda viagem.

- Isto pode até ser verdade, mas esta pessoa conhece bem São Paulo? Sabe como explorar lugares ou passar por áreas de grande risco sem chamar a atenção?

- Não. E é por isto que você foi recomendada para este trabalho pelo Ronnie.

Eu resmungo algo um pouco contrariada. Ele quer ter a absoluta certeza que os livros serão entregues e não roubados. E também não confia em mim para fazer o transporte sozinha. Provavelmente terei problemas em levar a entrega, sendo a babá de alguém.

- Então terei que levar e trazer o seu carregador de livros?

- Não, apenas o deixe na Cidade Universitária. Ele irá encontrar alguém, e esta pessoa te dará uma carta de recomendação, comprovando que completou o trabalho. Ao voltar para a Sé te pagarei pelo seu trabalho, ao apresentar a carta.

- E se algo acontecer com o teu carregador de livros?

- Recupere eles e traga de volta para mim. Receberá metade do pagamento.

- E quanto é o pagamento?

Paulo me fala um valor razoável se eu vivesse na Sé. O dinheiro de um lugar não vale no outro, pois cada comunidade forja seu próprio dinheiro. O que ganhasse aqui, não poderia gastar em outro lugar. Passamos quase meia hora discutindo como eu receberia o meu pagamento. De pagamento em dinheiro local passamos a produtos e serviços. Após outra hora conversando o que seria pago e quando seria pago, acertamos o pagamento em troca do aluguel de um quarto da pousada a minha escolha por um mês, além de comida, bebida e tudo que precisar durante este período. Ficamos de acordo que eu poderia levar outras mensagens e entregas pelas comunidades que eu passar pelo caminho, já que seria necessário comprar mantimentos e buscar um lugar seguro para descansar. Era o melhor para a segurança do livro, apesar de demorar mais para terminar a entrega. A viagem vai começar em alguns dias, após Paulo enviar um pombo-correio ao seu contato, avisando da chegada do livro.

Nômade AdriOnde histórias criam vida. Descubra agora