Deixo a praça de jogos da antiga Sé, aproveitando a noite daquela comunidade. Me aproximo de um velho bar da região, para poder comer e beber algo.
O lugar já devia ter cara de antigo quando foi construído. A decoração velha do lugar com alguns cartazes e jornais desbotados emoldurados na parede contando as noticias da época de cada pulso... As mesas com cadeiras de madeira bem simples, mas confortáveis e práticas. O lugar estava movimentado, mas não exatamente cheio. Pego um lugar do lado do balcão e peço uma cerveja caseira do lugar e um pouco de carne feita na brasa.
A bebida chega primeiro e bebo alguns goles, olhando discretamente ao redor. Pessoas de vários lugares, idades e aparências diferentes. Comerciantes, apostadores, viajantes, talvez alguns mensageiros profissionais, trabalhadores da região e até mesmo um ou outro escravo ou servo (ex escravo que compra sua liberdade, mas continua trabalhando para o seu dono) comprando algo para seus senhores.
Passo algum tempo conversando com algumas pessoas do bar, trocando algumas novidades sobre a região. Nada que seja de real importância, mas necessário quando se visita um povoado. Escuto de algumas pessoas que a região da Liberdade está se isolando, enquanto a da Mariana começou a ficar perigosa de se visitar, devido ao numero crescente de capturas e ataques de bandidos na área. Imagino se Antônio está levantando algum tipo de informação diferente para mim.
Não demora muito para a minha comida chegar, mas antes da primeira mordia um rapaz bronzeado, de cabeça raspada mas com uma marca pálida no pescoço, onde deveria ter a coleira de escravo se aproxime de mim, deixando um papel dobrado do meu lado e um saco de pano amarrado na minha frente, sem falar nada. Puxo o papel, olhando sem muito interesse, lendo a mensagem "Preciso de seus serviços. Estou na terceira mesa.". Olho para o saquinho de pano discretamente, encontrando uma dúzia de moedas de médio valor, o suficiente para pagar uns dois dias de estadia na Sé. São todas moedas da região, sem nenhum valor em outros lugares fora daqui. Ao olhar para a terceira mesa, vejo um homem gordo, de cabelos pretos curtos bem penteados e usando roupas de boa qualidade. Guardo o saquinho de moedas no bolso e depois pego o meu espeto de carne e o meu copo e vou até a terceira mesa, Ele aponta um lugar e eu me sento a frente dele, tomando um gole de bebida.
- Me recomendaram os seus serviços. - A voz dele é rouca e cansada, mas muito séria.
- Quem? - Não deixo de notar o servo dele na entrada do bar, nos observando a distância. Mesmo se eu saísse de lá, provavelmente o servo me seguiria ou me traria de volta, dependendo do caso.
- Ronnie. Ele me sugeriu que você seria capaz de resolver alguns problemas para mim.
- Que tipo de serviço? - Aproveito para comer o meu espeto de carne, enquanto escuto a resposta dele. Não sei se terei muito tempo de reclamar da comida daqui...
- Entregar algumas mensagens e transportar algo. Nada urgente, mas é algo que tem que ser feito de modo correto. Algo para não ter prejuízo.
- Pode me dar mais detalhes?
- Aqui não é hora e nem lugar de explicar isto. Podemos ir no meu local de trabalho, agora ou amanhã de manhã.
- Me dê uma meia hora e eu vou te encontrar
Eu concordo com ele, Apesar de não gostar muito da ideia de ir a um lugar desconhecido, negócios são negócios. E se Ronnie me indicou, das duas uma, ou o trabalho é bem importante ou ele quer me tirar de circulação por um tempo da cidade. Talvez os dois. Deixo combinado para que o servo dele me guie até o local de trabalho dele. Penso em perguntar o nome, mas o anel de prata com aquele símbolo de triangulo que ele usa é o suficiente para entender que poucas perguntas pagam mais no final. Porém não se pode recusar um trabalho deste tipo de gente sem causar algum tipo de atrito perigoso.
O meu futuro contratante sai do bar, sem comer nada após ter acertado o encontro comigo. Mas não me sinto muito a vontade para terminar de comer ou beber. Aguardo mais um tempo no bar, conversando com algumas pessoas por alguns momentos e saio, sendo acompanhada pelo servo. Ele me guia por algumas ruas e vielas, passando por uma praça e depois chegando em um dos muros que limitam a proteção da antiga Sé.
O vigia que cuida do portão nos observa, entregando para cada um uma ficha de ferro, indicando que é o nosso passe de retorno. Guardo a minha do bolso da calça, pouco a vontade. Sair da proteção dos muros a noite nunca é saudável. O servo me guia através de outro conjunto de ruas até chegar a um prédio velho, de tom acinzentado, com a pintura rachada e descascada. Na entrada tem dois outros rapazes, segurando barras de ferro, vigiando a entrada do prédio. Ao ver o servo que me guiava, eles abrem a porta para nós, permitindo passagem.
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Nômade Adri
Science FictionHistórias da nômade Adriana, que sobrevive em uma São Paulo pós-apocalíptica depois de um desastre natural que afetou todo o mundo gerações atrás. Literatura adulta.