Antiga Sé - Final

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Já era o segundo dia na Sé, e já estava preparando tudo para deixar a região. Antônio e Lucas estavam terminando os preparativos de viagem, enquanto Paulo estava fazendo seus próprios preparativos junto com quem seria o responsável de levar os 3 livros para serem traduzidos na Cidade Universitária. Até que as duas partes estejam prontas, teria parte do dia livre para resolver os assuntos pessoais que faltavam.

Após me arrumar eu vou em direção da praça do templo, atravessando o local e me dirigindo até a entrada da estação da Sé. Considerada a comunidade subterrânea mais extensa e populosa de toda província de São Paulo, com mais de 30 ou 40 níveis de túneis com gerações inteiras de pessoas que nunca viu a luz do sol, é sem dúvida um mundo a parte. Outro fator importante é que a Sé é o ponto central de várias linhas de túneis do antigo metrô paulistano, sendo que o povo que vive apenas no subterrâneo usa esta junção para fazer a movimentação de mercadorias e pessoas por toda São Paulo. Porém a permissão para ir de uma comunidade a outra fixada em cada antiga estação do metrô são são muito restritas e limitadas, portanto são poucas pessoas comuns que conseguem ir além de uma ou duas estações-comunidades pelo subterrâneo.

O primeiro nível é o único que os visitantes são permitidos pisar. Ali existem lojas de todos os tipos, mantidas diretamente pelos moradores dos túneis. Animais subterrâneos, como felinos dos túneis e cães da noite são populares para abate ou companhia. Roupas produzidas usando seda de casulo de mariposa dos túneis, ferramentas diversas, alimentos e bebidas típicas de cada comunidade são vendidos a valores razoáveis aqui e ganham um bom preço em comunidades mais distantes. Quem transporta várias garrafas de bebida da Sé para Mogi das Cruzes consegue levantar uma pequena fortuna, apesar da viagem ser quase suicida pela distância e o risco envolvidos. Todo o lugar é iluminado por tochas a óleo nos lugares mais escuros, mesmo durante o dia. Em um determinado ponto do primeiro nível é possível ver uma grande abertura de ventilação em forma de um grande buraco circular, que permite ver algumas dezenas de níveis para dentro do subterrâneo. A profundidade é tamanha que não é possível ver o fundo, sendo que caberia vários prédios encima um dos outros lá dentro para poder chegar da superfície ao fundo.

Após ter olhado em volta por alguns momentos eu passo a visitar cada loja, carregando em minha mochila vários papéis, envelopes e um tinteiro e pena (canetas de bico são caras demais nestes dias), avisando que sou mensageira e irei ir para a Arena do Pacaembu e também para a Cidade Universitária, oferecendo os meus serviços de mensagens. Algumas pessoas aceitam que eu envie suas mensagens, ditando para mim a sua mensagem e depois dizendo o nome do destinatário, o destino da mensagem e como entregar.

Após coletar quase umas vinte cartas, visito a sala onde o líder da comunidade do subterrâneo da Sé recebe os comerciantes e mensageiros. Aguardo alguns momentos na porta, até que a serva de meia idade me permite entrar na sala. Sou recebida por um homem magro e idoso, de barba curta e poucos cabelos, bem cabelos grisalhos e com o tom de pele negra, apesar de ser um tanto pálida devido a falta de luz do sol. Se chamava Pedro.

- Ouvi através dos outros que é uma mensageira.

- Correto. Vou levar dois viajantes para a Cidade Universitária, parando rapidamente na Arena do Pacaembu. Já coletei algumas mensagens para entregar nos dois lugares, mas vim aqui oferecer os meus serviços a sua pessoa e comunidade, caso seja de seu interesse.

- E qual o motivo de precisar de seus serviços, se posso mandar um mensageiro do meu povo pelos túneis, de modo mais rápido e seguro?

- Eu cobro mais barato, e ninguém vai perguntar a mim o que o prefeito dos túneis da Sé quer, enviando um mensageiro passar por várias comunidades sem dizer a elas qual são os seus interesses.

Nômade AdriOnde histórias criam vida. Descubra agora