O nosso grupo chegou fisicamente aos portões da Lapa no meio da tarde, e perdemos quase uma hora sentados no chão, recuperando o nosso fôlego e um pouco da dignidade perdida após tão apressada fuga. Marcos já estava melhor, na medida do possível. Lucas e eu estávamos exaustos, mas com todas as partes do corpo ainda conosco. Quando finalmente chegamos no portão de entrada da comunidade da Lapa, o vigia do portão vem nos checar, para ter certeza que não somos causadores de problema.
Após uma explicação rápida a respeito dos canibais urbanos que encontramos, o vigia nos permite passar para dentro da área segura da Lapa, conseguindo para nós a permissão para ficar dentro da proteção dos muros a noite. Com a fadiga da longa viagem praticamente nos derrubando, conseguimos pegar um apartamento emprestado para usar por alguns dias, cortesia dos contatos do Paulo naquela região. Durante o final da tarde e o resto da noite todos dormiram como pedras, sentindo que finalmente estávamos em segurança.
Nas manhã seguinte houve várias coisas a serem resolvidas. Marcos saiu cedo para efetuar as entregas de alguns produtos e vender algumas coisas que trouxe da Sé que Paulo ordenou que levasse com ele. Eu e o Lucas usamos o período da manhã para entregar parte das mensagens que eu coletei na Sé. Durante a hora do almoço todos nós fomos reunidos por ordem do prefeito da Lapa, que quis ouvir em primeira mão toda a história dos canibais que um dos vigias relatou a ele. Detalhamos tudo que podíamos e passamos quase duas horas respondendo perguntas, orientando onde os canibais viviam e como agiam. No final o nosso grupo foi liberado para continuar os seus afazeres, com a promessa do prefeito da Lapa que irá enviar alguns caçadores de recompensa para caçar os canibais.
Após a liberação Marcos voltou aos afazeres dele, terminando de fazer os negócios inacabados do Paulo na região. Eu e o Lucas terminamos de entregar as mensagens e os pagamentos em moeda local, tendo reunido o suficiente para nos manter na região por alguns dias se necessário. Eu me separo do Lucas por volta da uma da tarde, combinando de encontra-lo no apartamento mais tarde com o Marcos, deixando-o voltar para lá e descansar.
Eu aproveito este momento que estou sozinha para visitar uma amiga na Lapa, Ela é uma mulher de quase quarenta anos, de cabelos longos em tom ruivo bem forte. Ela é um pouco mais magra que o normal, porém isto era esperado de uma outra nômade. Ela tem belas sardas no rosto, apesar da expressão apática em seu rosto. Assim como eu, ela usa roupas cobrindo praticamente todos os braços e pernas completamente. Eu a encontro sentada em um dos bancos na praça do mercado, fumando um cigarro feito de ervas secas, sem nenhuma pressa.
- Ainda perdida no tempo, Luana?
- Sempre que posso, Adriana.
Sento do lado dela no banco e depois pego um dos cigarros dela, fumando em silêncio em sua companhia por alguns minutos. Nós duas observamos os movimentos da praça do mercado, sentindo o efeito das ervas a cada tragada, sentindo a sensação de relaxamento passar em nossas mentes, deixando as nossas mentes mais anuviadas. Discretas, ficamos aguardando em silêncio o efeito daquela erva passar, apenas observando o mundo ao nosso redor por algum tempo.
- Soube que você chegou ontem na cidade, e que fugiu dos canibais, é verdade?
- Sim. Mas quem te contou?
- O próprio vigia. Ele é pago para me avisar quando algum nômade vem até esta comunidade. E ele já te conhece de outras visitas a região.
- E você, como se sente?
- Praticamente morta, ficando aqui contra a vontade.
- Quanto tempo pretende ficar aqui?
- Pelo menos mais alguns meses. Ainda não consegui o suficiente para libertar ele, Adriana.
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Nômade Adri
Science FictionHistórias da nômade Adriana, que sobrevive em uma São Paulo pós-apocalíptica depois de um desastre natural que afetou todo o mundo gerações atrás. Literatura adulta.