Passando pela antiga Mariana - 03

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Eu passo a correr rua a cima no meio da noite, sabendo que tinha pouco tempo.

Rapidamente noto uma das casas com a porta da frente arrombada, bem diferente da que eu vi de manhã. Olho para a calçada, com grama amassada e quebrada, vindo da rua. As motos deveriam ter parado ali a pouco. Eu me enrolo na minha manta, escondendo a minha faca debaixo dela com a minha mão esquerda e entro com cuidado na casa antiga em ruinas. Procuro rapidamente a sala destruída, o quarto principal em ruinas e a cozinha despedaçada. Aparentemente o casal estava começando a arrumar o lugar, talvez para viver ali por algum tempo. Noto os potes quebrados com restos de água fresca e alguma comida desperdiçada pelo chão.

Entro no quarto dos fundos da casa e vejo o rapaz desmaiado em uma cama quebrada no chão. Suas mãos e pés estão amarrados a pedaços velhos da cama. A aparência do rapaz era deplorável, cheio de marcas da surra feia que levou. Sem perder tempo eu examino ele, levantando a camisa dele e procurando por tatuagens, marcas especiais, símbolos ou cicatrizes incomuns marcadas no corpo dele, sem achar nada. Ele desperta enquanto eu o examino, gemendo com muita dor em seu corpo.

- Quem...?

- Silêncio.

- Onde ela...

- Morta.

O rapaz engole seco após ouvir a minha mentira dita de forma fria e direta. Solto a corda de uma das mãos que o prendia, deixando para ele o trabalho de se livrar sozinho das outras. enquanto ele soltava a outra mão eu terminava de olhar o quarto dele, notando várias placas de madeira, com símbolos e letras. As placas eram manchadas de tinta... Com certeza usadas para imprimir algo em papel ou em qualquer superfície reta. Examinando com cuidado, eram pequenos mapas de várias partes de São Paulo, mas sem indicação de pontos de referência, lugares ou nomes. Eram apenas um emaranhado de traçados e riscos, que para quem nunca viu um mapa, jamais entenderia completamente de onde eles eram. Penso rapidamente no que fazer naquela situação. Aquelas placas mudavam tudo.

- Vai sair correndo, levando as placas. Vai voltar de onde fugiu ou ir a um lugar seguro. Se não conseguir correr, largue as placas em algum lugar seguro e se esconda até outro dia, para voltar e buscar elas.

- Mas e ela?

- Já está morta. Se voltar a procura dela, vai morrer também por ter visto as tatuagens dela. Se for pego com estas placas, vai morrer por que fez elas. Se falar sobre ela ou sobre as placas, vão te matar. Mas esconda as placas, para destruí-las ou entregar em troca de sua vida, se precisar mais tarde.

O rapaz pensa no que fazer. O meu tom de voz era sério e direto o suficiente para não deixar duvidas da situação dele. Ele não sabia da situação do qual se meteu ao ficar com ela. E irá morrer, se não for capaz de se esconder, ao menos, até que tudo se acalme.

Eu saio do quarto tão rápido quanto entrei, sem falar mais nada com o garoto, deixando para ele decidir o vai fazer. Eu saio da casa levando uma das placas que eu escolhi com cuidado. Era a mais completa de todas, do qual reconheci sendo a que tinha o desenho da tatuagem feita nas costas da garota.

Nômades, mensageiros e andarilhos tinham como costume tatuarem mapas em seus corpos. O mapa principal era tatuado em suas costas, garantindo que suas vidas seriam poupadas em troca do segredo de como saber ler o mapa, desde que o mapa estivesse também correto. Bastava que outra pessoa bem treinada pudesse interpretar o mapa desenhado nas costas, devidamente oculto em desenhos sem relação ou nexo direto com mapas. E interpretar estes mapas levava tempo. De dias a semanas, já que o segredo de como ler e como ele é oculto passa de pai para filho ou entre casais.

Um simples cata-vento poderia esconder um mapa simplificado da antiga província de São Paulo, Antigas cidades ou regiões eram desenhadas como outros animais, plantas ou símbolos estranhos. Bastava que o dono ou dona do mapa ensinasse o leitor. a ler nas costas do dono. Os mapas desenhados nas coxas e braços eram partes de um mapa maior, talvez quebrado em partes, precisando de um espelho para ler sozinho ou examinar o corpo de outra pessoa com cuidado, nos momentos mais calmos. Aquela garota estava ensinando o rapaz como produzir mapas, talhando versões comuns e mais simples em madeira e depois imprimindo em papel ou blocos de cimento, para vender nas comunidades. Por não ter nenhuma tatuagem ainda, ninguém o prenderia para roubar os mapas tatuados em seu corpo. Ele só foi poupado porque o chefe talvez o vendesse como escravo ou usasse ele como meio para forçar a mensageira a ajuda-lo mais tarde. O rapaz estava sendo usado, de qualquer forma, por qualquer um deles. Idiota.

O chefe da região desconfiou de algo ao ver o corpo dela nua com aquelas tatuagens estranhas e detalhadas. E com a placa de madeira que ele já tem em mãos, poderia ser fácil para ele explorar a região, após aprender a ler os mapas através da garota. O tempo que ele e os seus capangas estavam abusando dela me permitiu soltar o rapaz e preparar a minha própria fuga.

Eu chego na casa vizinha onde a gangue está, tendo certeza que o rapaz que libertei não me seguiu ou soube para onde eu tinha ido. Escalo o muro da casa do lado e subo para o telhado da casa, olhando do alto o quintal onde os quatro estavam.

Do alto eu vejo o grupo se alternando para se divertir com a mensageira. Enquanto Fedido e Banguela abusam da garota, tanto pela frente quanto por trás, deitados com ela entre os dois, fazendo ela chorar enquanto era comprimida pelos dois afobados que se aproveitavam dela, Não era agradável de se ver.

Mais a frente vejo o chefe examinando a placa de madeira com calma, sentado nú na sua poltrona velha. Observo tudo do alto, vendo os capangas tirarem o proveito dela de todas as formas possíveis, até caírem exaustos no chão após algum bom tempo, ficando exaustos e muito sonolentos.

O chefe a puxa de volta para a poltrona, usando a corda que a prende pelo pescoço. Agora a mensageira estava bem mais servil e obediente, respondendo as perguntas dele prontamente com a cabeça baixa, sem mentir. Ela se recompõe e serve a ele algumas frutas. O chefe, diferente dos dois capangas, parecia ser mais inteligente e de certa forma, mais carismático. Provavelmente ele deve ser realmente da comunidade da antiga Mariana. Ou então deve ter oi saber algo para manter os dois capangas obedecendo a ele tão facilmente. Ele não é mais forte que os dois. E manter a liderança nestes tempos é algo que só quem é rápido, forte ou esperto consegue.

Após uma breve conversa a respeito da placa que acharam, ele a manda sentar novamente no seu colo, para cavalgar outra vez e satisfaze-lo. Ela obedece em silêncio, resignada a sua sorte e se movimentando-se mais a vontade encima dele. A mensageira tenta se manter em segurança, tentando agradar o chefe no que puder, se permitindo ser possuída por ele e passando a se entregar aos poucos, gemendo timidamente. Não havia mais traços da violada e do violador entre os dois daquele momento, apenas do líder e de sua serva. Sem questionamentos ou novas ordens dele, a mensageira troca de posição, ficando deitada de bruços no chão, enquanto ele guiava a cintura dela contra seu corpo, penetrando-a por trás com força, fazendo-a gemer mais alto alto.

Após alguns momentos e ter terminado a farra, os dois voltam para a poltrona e recuperam o fôlego, bebendo água. Após os momentos de recuperação, o chefe a faz sentar-se em seu colo, com as costas voltadas para ele. Ele a toca nas nela nas costas, em um ponto especifico da tatuagem. Ela geme algo, respondendo como "Luz". Ele sorri, ajeitando ela encima de seu membro e voltando a fazer ela se mover devagar. Ele toca em outro ponto das costas tatuadas, ouvindo dela "Arena do Pacamenbú". Ele continua com as suas perguntas, enquanto ela responde em tom servil cada uma delas, satisfazendo a curiosidade e o desejo daquele homem, entregando algumas informações com cuidado e seu corpo... Ela estava tentando se valorizar no que pudesse para aquele que tem em suas mãos a sua vida e destino.

Após a rápida "aula" de geografia ensinada por ela, os dois entrar na casa, para ficarem juntos. Banguela e Fedido dormem pelados, exaustos no meio da grama, perto da fogueira. Escuto alguns sons e gemidos vindo da casa, mas após algum tempo a tocha que fica lá dentro se apaga, e tudo fica em silêncio. Já é hora de eu agir...

Nômade AdriOnde histórias criam vida. Descubra agora