Separações - 01

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Quando eu retorno exausta para a pousada, levando uma mochila a mais com alguns lingotes de prata e outra com tudo que poderia ser essencial para o Arthur, me perguntava por quanto tempo o Atlas poderá continuar vivo naquela arena.

Por melhor lutador que ele seja, por mais espetacular que ele consiga lutar, ele mesmo não poderá continuar a viver daquela forma por um longo tempo. Ferimentos de combate, idade, treinamento constante e outras coisas irão colocar a prova a ganância dele em ficar rico. Eu penso "rico", tentando entende-lo. Para alguém que conseguiu um valor considerável, ele entregou sem pensar duas vezes para mim. O que tive que fazer por ele foi necessário para ajudar a Luana, mas o valor dos lingotes de prata era realmente bem alto...

Começo a subir as escadas dentro da pousada, sentindo dores enquanto eu me movimento.. Perco alguns momentos pensando como posso ajudar o Arthur a ter um futuro melhor, seja talvez separando um destes lingotes para ele ou mesmo adotando-o como meu filho. Fecho os olhos por um instante, pensando na palavra "filho", tentando pegar uma orientação para mim mesma e para o Arthur. Agora não poderia viver apenas por mim mesma, teria que proteger e guiar o Arthur enquanto eu pudesse e ele permitisse.

Ao abrir a porta do quarto eu vejo Arthur e Lucas conversando sentados no chão, lendo alguns livros de medicina espalhados no chão, os mesmos livros que o Lucas carregava em sua mochila. Chego no meio de uma explicação sobre como tratar de uma perna quebrada. Peço para eles continuarem a estudar, passando algum tempo organizando as coisas do Arthur. Roupas, calçados, mantimentos, uma faca para se defender, um cantil com água, algumas ferramentas básicas como talheres, uma adaga de cortar couro e dois metros de corda e um gancho. Os dois continuam a conversar sobre como tratar de ossos quebrados, mas notei o interesse dos dois na minha organização da mochila do Arthur.

Após terminado os estudos deles e a organização das mochilas para a viagem do dia seguinte, nós três comemos algumas frutas e carne seca. Marcos sabe que iremos partir cedo amanhã, então não perdi o meu tempo indo falar com ele no outro quarto que aluguei para ele; A uma certa altura da noite, Marcos bate na porta, convidando Lucas para irem ver as lutas na arena. Lucas aceita ir, após eu avisar o Marcos que viajaremos cedo. Os dois deixam a pousada, irem apostar algo de valor e ver pessoas lutando como bichos em uma rinha.

Passo algum tempo conversando com o Arthur, explicando o que faríamos dali em diante. A primeira coisa era chegar na Cidade Universitária para terminar o meu trabalho de guia com os dois, para depois disto retornar e resolver alguns negócios pendentes na Lapa, para ajudar a minha amiga Luana. Arthur escuta com atenção e faz algumas perguntas em relação a rotas e tempo de viagem. Porém ele demonstrou algum receio enquanto conversava comigo.

- Eu vou fazer o que prometi. Você já está livre, mas posso guia-lo para a Floresta da Luz, ou deixar viajar comigo até que decidimos um modo de vida mais seguro para você. Talvez alguém para te criar com outras crianças. Ou então me deixar ser sua responsável. Mas se for assim, terá que continuar comigo e aceitar as minhas ordens até que tenha idade suficiente para se casar.

Eu conversava com o Arthur enquanto eu me deitava exausta na cama. Sentia algumas pontadas de dor latejando, devido a intensidade do "trabalho" que tive que fazer com Atlas e seus amigos. Arthur senta perto de mim na cama, continuando a conversa. Ele notava o meu cansaço, mas era ingênuo demais para entender o que aconteceu comigo.

- Qual idade? Quinze?

- Talvez dezoito, talvez dezesseis, não sei exatamente quando. Depende do quanto você for capaz de aprender comigo e com os outros nômades. Aos treze eu já viajava sem o meu pai, mas era acompanhada pelos amigos de confiança dele, pelo menos até os quinze anos.

- E se eu não quiser?

- Pela lei dos nômades, se você é menor que quinze e não tem pais, alguém mais velho que você terá que ser seu guia e responsável até a idade adulta. Se não for comigo, terá que ser com outra pessoa. Mas não poderá mais ficar sozinho no mundo. Tem algum outro parente vivo?

Nômade AdriOnde histórias criam vida. Descubra agora