Capítulo 1

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27 de junho de 2016

- Mamãe? - Chamei ainda me espreguiçando. - Já estão todos acordados? - Não recebi nenhuma resposta, talvez minha família estivesse na cozinha tomando o café da manhã, eu posso ter acordado tarde, a noite foi difícil.

Levantei da cama com preguiça, minha cabeça girou um pouco assim que me pus completamente de pé, a casa estava cheirando a mofo e tudo estava escuro.

- O que está acontecendo aqui? - Perguntei em voz alta tentando acender as luzes, mas elas não acendiam.

Caminhei até a janela e a abri, os raios solares invadiram o quarto. A rua estava barulhenta, uma música tocava alto e eu não sabia exatamente de onde vinha o som, algo estava estranho, parecia que havia mais casas nas ruas.

- O que está acontecendo aqui? - Gritei dessa vez.

Me virei e olhei para meu quarto os móveis estavam cobertos por plásticos e havia teias de aranhas espalhadas por todo o lugar, era como se ninguém entrasse no quarto há anos.

- Mamãe? - Chamei novamente saindo do quarto e indo em direção ao quarto dela. - Os senhores estão aqui? Papai? Mamãe?

O que está acontecendo? Onde estão meus pais? Onde estão todos os empregados?  Eram algumas das perguntas que se passavam pela minha cabeça. Se isso era uma brincadeira de mau gosto, eles iriam me pagar por isso.

- Como arrumaram tanto pó? - Perguntei entrando no quarto deles e me deparando com a mesma situação do meu quarto, plásticos cobrindo móveis, uma quantidade assustadora de pó e teias de aranha para todos os lados.

- Onde vocês estão? - Senti as lágrimas começarem a rolar pelas minhas bochechas, eu não estava entendendo e nem achando graça naquela brincadeira toda.

Corri pela casa, passei por todos os cômodos, inclusive os quartos dos empregados, em alguns eu nunca havia se quer entrado antes.

- Eles devem estar do lado de fora da casa. - Falei alto. - Claro Cindy! Não há motivos para se desesperar. - Suspirei aliviada e  caminhei para a porta principal de casa, que dava para rua. - Está tendo uma grande festança no bairro, por isso a música alta, meus pais e os empregados devem estar na festa.

Corri para o lado de fora e ouvi um grande barulho, o que me fez parar e não conseguir mais correr.

- Você está louca? - Um rapaz dentro de um carro começou a gritar comigo. - Eu poderia ter matado você atropelada.

- Me desculpe senhor? - Disse arrumado meu vestido, só agora havia percebido que estava com a mesma roupa que tinha usado na noite passada. Isso era ruim. Muito ruim. Eu poderia virar uma moça mal falada se me vissem usando a mesma roupa de ontem ou acabaria com meu status na sociedade, eu sou elegante demais para usar a mesma roupa dois dias seguidos.

- Você não vai sair da rua garota? - Ele gritou novamente, ele era um rapaz muito mal educado. Com quem ele achava que estava falando? Não conseguiria casar se continuasse tratando damas desde modo.

- Argh. – Bufei irritada, arrumei meu chapéu na cabeça e continuei caminhando seguindo o som da música, dessa vez com mais cuidado, para não ser "quase atropelada" novamente.

As pessoas estavam reunidas em um canto e vestiam roupas muito estranhas, todas aquelas moças com roupas curtas, tenho certeza que essas eram as moças que mamãe dizia "levarem vida fácil", elas eram tão diferentes, era obvio que meus pais não estariam no meio daquelas pessoas.

- Oh, sinto muito. – Disse após me chocar com um homem alto, ele devia ter por volta de quarenta anos, tinha barba e estava uniformizado. – O senhor é policial?

- Sim! – Ele disse com voz grossa.

- Pode me ajudar? – Eu perguntei receosa e ele apenas acenou com a cabeça concordando. – Eu estou procurando por meus pais.

- Você se perdeu no centro da cidade mocinha? – Ele rio. – Não está meio velha pra isso?

- Eu tenho vinte anos e eu não estou perdida, as coisas aqui estão bem diferentes do que eu me lembro mas eu moro bem ali. – Apontei para minha casa e a vi que sua fachada estava muito velha, não estava pintada e parecia abandonada.

- Moça, você não está bem! – Ele disse balançando a cabeça negativamente. – Você ingeriu alguma droga?

- O senhor me respeite que eu sou uma moça de família. – Disse brava, que homem ousado. – Eu só acordei hoje e meus pais não estavam em casa.

- Você não mora naquela casa. – Ele disse seco. – As pessoas que moravam ali morreram há anos.

- Co... Como? –Gaguejei.

- Morreram. – Ele disse olhando meus olhos. – Os olhos não estão vermelhos, deve ter só bebido.

- Eu não bebi. – Me afastei. – Todos os meus empregados morreram? Espera... – Levei as mãos à cabeça num total ato de desespero. – Meus pais morreram?

- Okay. – Ele disse segurando meu braço. – Nós vamos para um hospital primeiro e depois você conta essa sua história na delegacia.

- Eu vou ser pressa? – Gritei no meio da multidão e algumas pessoas me viraram para me olhar.

- Não. – Ele me olhou da cabeça aos pés. – Ao menos que você tenha feito algo de errado. Você fez?

- Não fiz. – Disse rápido e negando com a cabeça.

- Então vamos!

- Eu não posso! – Puxei meu braço e me soltei dele. – É só um pesadelo e já vai acabar.

- Moça?

- Não, sai de perto de mim! – Gritei e me afastei dele.

O policial caminhou vindo em minha direção e eu não sei por que comecei a correr, para longe dele e da minha casa. Corri muito no meio das pessoas até perceber que o policial não estava mais vindo atrás de mim, agora eu só tinha um problema, talvez um grande problema. Onde eu estava?

CindyOnde histórias criam vida. Descubra agora