Capítulo 9

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- É idiotice, mas eu pedi para mamãe um copo de alguma e antes dela sair ela me perguntou se eu desejava mais alguma coisa.

- E o que você desejou? - Eles falaram em uníssono.

- Meu único desejo é estragar a festa de casamento deles, mesmo que eu tenha que estragar a festa de cinquenta anos de casados deles. - Repeti exatamente as mesmas palavras daquela noite.

- Então é isso. - Gabriel falou como se fosse óbvio para todos ali.

- Isso o que? - Jorge perguntou.

- Ela desejou estragar a festa deles, mesmo que fosse a de cinquenta anos de casados. - Gabriel se aproximou de mim. - Quando tempo faz que eles casaram?

- Bem eles iam se casar no dia trinta de junho. - Então...


- Amanhã faz cinquenta anos. -Falamos todos juntos.


- E o que isso significa? - Jorge olhou para mim e depois para o Gabriel. - Alguém sabe?

- Significa que o desejo dela vai se tornar realidade. - Gabriel rio. -Amanhã nós vamos estragar uma festa.

- Não.  - Jorge bufou e deu um chute no vento. - Não pode ser.

- Não pode ser o que? - Fiquei intrigada.

- Qual o nome da sua amiga?

- Olívia? Por quê ?

- Oh, merda! - Gabriel falou alto. - É a sua avó, cara?

- Amanhã meus avôs fazem cinquenta anos de casados. - Seu rosto era vago e ficamos os três nos encarando por um tempo, nenhum de nós sabia o que dizer.

***

- Já fazem cinquenta anos. - Quebrei o silêncio.- Eu já morri. Isso não importa mais.

- Cindy, por favor, nós vimos você morrer de raiva não faz nem dez minutos. - Jorge começou a caminhar pelo quarto. - Se ela estragar a festa... - Ele se aproximou do Gabriel. - O que acontece?

- Eu não sei bem. - Ele tirou os óculos e limpou na blusa. - Mas acho que depois disso ela pode descansar em paz, ou sei lá, eu acho que ela está aqui só pelo desejo, depois disso ela some do nada, assim como apareceu.

- Eu não vou estragar a festa. - Interrompi. - E não é por causa da Olívia, mesmo porque eu ainda a odeio, eu não vou estragar por que eu não posso fazer isso com você Jorge.

- E se ela não estragar?

- Talvez ela fique pressa aqui até conseguir estragar a felicidade dos seus avôs. - Gabriel nos olhou desesperado. - Eu não sei gente, o máximo que eu já fiz foi ler uns dois livros do Harry Potter, eu sou um falso nerd.

- O Jorge disse que você entedia de magia. -Minha cabeça doía, eu queria me vingar da Olívia e a fazer pagar por ter me traído, mas quando eu olhava para o Jorge eu sabia que não poderia fazer isso,por ele. - Eu não sei o que fazer. Se eu não estragar a festa eu posso ficar aqui para sempre?

- Talvez sim. - Gabriel respondeu fraco e Jorge só me olhava.

- E se eu estragar eu volto e encontro meus pais?

- É tudo um grande talvez, Cindy. Eu não posso garantir. - Gabriel veio em minha direção e depositou uma das mãos em meus ombros, numa tentativa falha de me consolar.

- Estrague a festa! - Jorge falou. - Estrague.

- Como? - Levantei a cabeça para o olhar nos olhos.

- Estrague! Assim você pode voltar para 1966 ou morrer finalmente. Eu não sei. Você pode ir para onde deveria estar encontrar seus pais e sei lá.

- Você tem certeza? - Levantei e caminhei até ele. - Tem certeza?

- Você acha mesmo que eu queria comprar a merda daquele chapéu? - Ele me olhou e eu não soube identificar se ele está a bravo ou triste. - Eu podia dar qualquer coisa para a minha avó. Eu queria mesmo era saber seu nome.

- Queria?

- Eu queria falar com você por que você é tão bonita, é a garota mais bonita que eu já vi, mas você é doida. Você está morta e não está e agora você odeia a minha avó e eu nem sei o que você sente pelo meu avô. - Ele parou, recuperou o fôlego e continuou. - E mesmo assim eu ainda quero que você continue sorrindo e se estragar a festa pela qual meus avôs têm esperado por cinquenta anos vai fazer você feliz e me fazer ver pelo menos que seja uma ultima vez o seu sorriso, então estrague a festa.

- Você gosta dela? - Gabriel franziu as sobrancelhas olhando para Jorge.

- Eu gosto desse jeito louco dela, do vestido amarelo que ela estava usando e até desse jeito moça de família dela. - Ele sorriu. - E isso me faz ficar nervoso perto de você, Cindy.

- Como assim? - Me queixo caiu, eu estava surpresa com tudo aquilo.

- Eu desejo ter mais dias com você, mas você sempre quis entender o que estava acontecendo e encontrar seus pais e talvez se você estragar a festa possa voltar para 1966 e vai ficar tudo bem.

- Não vai. - Segurei a mão dele. - Você não era nascido em 1966. - Ele me abraçou. - Eu não quero voltar agora que comecei a gostar de você.

CindyOnde histórias criam vida. Descubra agora