Capítulo 3

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- Você está mentindo para mim?

- Não. – Ele disse rápido e caminhou para perto de mim. – Olha aqui a data no meu celular. – Ele colocou uma caixinha com luzes na minha frente onde marcava a data, ele estava certo e eu tinha certeza que nunca havia visto muitos celular na minha vida, pois não conhecia aquela coisa.

- Eu tenho um grande problema.

- E qual é? - Ele me olhou nos olhos.

- Eu não me lembro de nada que aconteceu nos últimos cinquenta anos.

- Você nem tem cinquenta anos. – Ele rio.

- Esse é outro problema.

- Como assim?

- Eu deveria ter setenta anos.

- Cara você é meio doida.

- Eu não sou. – O segurei pela mão. – Se eu te explicar as coisas você me ajuda?

- Moça, eu só queria o chapéu. – Ele se afastou. – Mas pode ficar.

- Não. – O segurei pela mão novamente o trazendo para mais próximo de mim. – Eu não tenho ninguém. Eu preciso que você me ajude.

- Não chora! – Ele se aproximou. – Eu te ajudo sim.

- Que bom! – Sorri secando as lagrimas.

- Por favor, não faça eu me arrepender de te ajudar.

- Eu não farei. – Disse o abraçando. – Desculpa? – Me afastei rápido. – Eu não sei o que me deu. Moças de família não abraçam rapazes. Não pense mal de mim.

- Não pensei. – Ele riu. – Você é estranha mesmo.

- Pare de me chamar de estranha. – Fiz cara séria. – Vamos, me ajude!

- É que hoje não vai dar. Pode ser amanhã?

- Amanhã? – Parei pra pensar. – Amanhã pode ser tarde demais, não?

- É que meus avós vão fazer cinquenta anos de casados na quinta-feira. – Ele depositou uma das mãos sobre meus ombros. – Eu tenho que ir pra casa ajudar nos preparativos da festa. Eu te ajudo amanhã. Eu prometo!

- Se é o único jeito. – Me sentei novamente na mesa.

- Sinto muito. – Ele pegou o chapéu que estava em cima da mesa e se afastou. – Aonde eu te encontro amanhã?

- Pode ser na minha casa. Você tem papel?

- Não tenho. – Ele balançou a cabeça negando. – Mas eu anoto seu endereço no meu celular.

- Ah é mesmo. – Ri. – A caixinha que brilha.

- É na minha caixinha. – Ele riu alto.

- Eu moro na Rua Alice de Castro, aqui na Vila Mariana, o número é 371.

- Eu passo lá amanhã à tarde. – Ele disse caminhando para longe e acenando.

- Leve sua mãe! – Gritei.

- O que? – Ele gritou de volta.

- Leve sua mãe! – Gritei mais alto e ele fez um sinal com a mão.




***


Terminei meu lanche e com ajuda de uma senhora bem simpática consegui voltar para casa, ela se lembrava de como as ruas eram em 1966, do mesmo modo que eu me lembrava, mas ela conhecia as mudanças que ocorrem na cidade, diferente de mim.

Já estava tarde, o sol já estava se pondo, eu não fazia a menor ideia de que horas eram, mas o sol estava prestes a ir embora e minha casa não tinha mais energia elétrica.

Voltei para meu quarto e joguei meu corpo deforma pesada na cama, minha cabeça doía, assim como todo meu corpo. Imaginei que se dormisse eu poderia acordar pra fora desse pesadelo e então fechei meus olhos.

CindyOnde histórias criam vida. Descubra agora