Capítulo 11

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30 de junho de 2016.

- É meia noite. - Ele sussurrou com os lábios ainda próximos aos meus.

Eu não me lembrava de como era beijar alguém, eu nunca havia se quer ficado sozinha com o José quanto mais beija-lo. Quando eu me recordei de tudo, enquanto estava no quarto do Jorge, eu não me lembrei de algum namorado ou até mesmo de um marido, talvez eu tenha perdido muito tempo pensando em me vingar que acabei esquecendo de mim e era bem possível que aquele tivesse sido meu primeiro beijo.

Olívia tinha casado, tido filhos e até mesmo netos, Jorge era neto dela e era uma rapaz incrível. E por um breve momento eu não tive raiva dela, agradeci por ela ter traído a minha confiança. Eu havia sofrido muito, durante muito tempo por isso, mas se não tivesse acontecido eu nunca teria tido a chance de encontrar o Jorge.

Era como se toda a dor tivesse que ser sentida para que depois eu conseguisse diferençar o que era bom do que era ruim, e saber dar o devido valor as coisas.

- É nosso ultimo dia?

- Eu espero que não, Cindy. Eu vou ver aonde o Gabriel está. Por favor, não saia do quarto.

- Não vou sair.

Ele saiu do quarto em busca do Gabriel, eu estava tão entretida nos livros e depois na dança com o Jorge que não havia sequer percebido que Gabriel havia deixado o quarto.

Sentei-me no chão rodeada por alguns livros, peguei um deles, sem me importar com o que estava escrito na capa e o abri em uma página qualquer. Eu já estava com sono e as palavras escritas no livro pareciam embaralhadas, encostei minha cabeça na parede e senti meus olhos pesarem de modo que não pude deixá-los mais abertos.

- Ela dormiu. - Ouvi quando Jorge entrou no quarto acompanhado por Gabriel.

- Coloca ela na cama. - As vozes dos dois soavam baixas e eu mesmo querendo não conseguia mais abrir os olhos, toda essa história, as palavras do Jorge e a procura incansável por algo que nós nem mesmo sabíamos o que era estava me deixando esgotada. - A gente continua procurando enquanto ela descansa um pouco.

Senti meu corpo sendo erguido do chão, tentei abrir os olhos mas Jorge  disse que estava tudo bem e que eu podia dormir, ele depositou meu corpo na cama e sussurrou algo que eu não entendi depois de dar um beijo na minha testa.

***

- Você vai acordar ela mãe! - Ouvi Jorge gritar e me mexi na cama. - Eu vou ajudar mas não entre aqui.

- Por que eu não posso entrar ? - Uma voz feminina desconhecida por mim perguntou irritada.

- Vocês estão sozinhas? - Gabriel perguntou.

- Não! - A voz respondeu dessa vez mais impaciente e eu assustada levantei da cama com pressa.

- O que foi? - Caminhei em direção a porta do quarto, onde Gabriel e Jorge se esforçavam para mantê-la fechada, evitando que quem quer que estivesse do outro lado dela entrasse. - Por que estão gritando?

- Volta pra cama, Cindy. - Jorge me olhou desesperado. - A minha mãe está aqui.

- Está ?

- Sim, estou.  - Agora eu sabia de quem era a voz, era a mãe do Jorge. - Abre a porta Jorge! Sua avó está preocupada.

- Eu já vou mãe. - Ele me olhou e apontou com a cabeça a cama. Corri para a cama com pressa e me cobri até a cabeça com as cobertas. - Entra mãe.

- Gabriel, meu filho... - Uma mulher falou e imaginei ser a mãe do Gabriel. - Por que você não me disse que o Jorge viria aqui? E por que vocês não querem nos deixar entrar ?

- A resposta está escondida aqui Laura. - Senti a coberta sendo puxada e em um instante eu estava descoberta encarando a mulher de aproximadamente quarenta anos muito bonita em pé na minha frente. - Quem é você? - Ela me encarou brava e eu senti minhas bochechas arderem, eu provavelmente estava vermelha.

- O que vocês três fizeram nesse quarto? - A mãe do Gabriel nos olhava. - Dois garotos e uma garota?

- Não mãe. - Gabriel começou a se justificar. - Ela namora o Jorge.

- Namoro ? - Perguntei rápido e logo me arrependi por isso, pois as duas nos encarnavam com mais raiva.

- Namora? - A mãe do Jorge me olhou da cabeça aos pés. - Como eu não fiquei sabendo de você?

- É recente. - Jorge disse. - O que a senhora está fazendo aqui?

- Sua avó está desesperada. - Ela cruzou os braços e continuou. - Você prometeu ajudar nos preparativos da festa. Ninguém lá em casa sabe como arrumar as musicas para tocar e você não atende esse celular. Você passou a noite fora de casa Jorge, já é quase tarde, eu liguei mil vezes garoto. Eu sabia que você só podia estar com o Gabriel mas ele também não me atendeu. Vocês já tem vinte anos, não estão mais na escola, precisam ter responsabilidades.

- Eu sei mãe. - Jorge se desculpou. - Eu vou para casa agora e ajudo.

- Espero que você tenha uma boa explicação, por que sua avó irá querer uma.

- Eu explico para ela quando chegar em casa.

- Pode me explicar agora Jorge. - Uma senhora surgiu na porta do quarto.

Ela caminhava devagar para mais perto do Jorge e meu coração saltava no peito, mais um pouco e ele poderia pular para fora pela minha boca. Era ela ? Mas que pergunta idiota. Só podia ser ela.

- Olívia? - Me aproximei devagar, ainda tentando assimilar tudo.

Jorge entrou na minha frente tentando me esconder com seu corpo, eu já não sabia se ele fazia isso por mim ou por ela, afinal, ela era avó dele, era de se esperar que ele não quisesse vê-la sofrer.

- Oi? - Ela respondeu. Desviei do Jorge de modo que pude ver a senhora em minha frente sorrindo. - Jorge querido eu não pude ficar em casa, você me assustou sabia? Pensei que tivesse acontecido algo.

Era possível que ela tivesse mudado tanto com o tempo? Seu modo de andar, seus cabelos brancos e a pele já marcada pelo tempo, foram cinqüenta anos sem a ver mas agora parecia que eu nunca a havia visto antes.

- Você lembra de mim?

- Eu deveria querida? - Ela perguntou com voz doce e eu percebi que ela assim como eu parceria estar de frente para alguém que não conhecia.

- Não se lembra dela vovó? - Jorge a encarou perplexo. - É a Cindy, não se lembra ?

- É uma de suas namoradas? - Ela me olhou por um tempo. - Me desculpe querida? Eu estou ficando velha, minha memória já não é a mais mesma.

- Não é possível! Não...

- Calma Cindy! - Jorge segurou minha mão. - Ela é minha avó.

- Não é.

- É sim, Cindy. Ela errou mas escuta o que ela tem a dizer primeiro.

- Não Jorge! - Gritei. - Não é ela. Ela não é a minha Olívia!

CindyOnde histórias criam vida. Descubra agora