Capítulo 7

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29 de julho de 2016.

- Acorda Cindy. - Ouvi a voz do Jorge me chamando baixinho, como se ele estivesse no meu sonho. - Cindy, caramba! Você acorda sempre tão tarde?


- Bom dia, Jorge! - Disse mesmo antes de abrir os olhos. - Você pode esperar mais cinco minutinhos? 


- Não! - Ele se sentou na cama ao meu lado. - Vamos visitar um amigo meu hoje. 


- Vamos?


- É! Você e eu. - Ele puxou o lençol que cobria meu corpo. - Algum problema?


- Onde você dormiu? - Disse puxando o lençol novamente, a camisa que eu vestia havia subido e eu estava apenas de roupas íntimas.


- Eu não fiz nada, dormi no chão.


- Que bom. 


- Mas quero que você saiba que quando eu cheguei aqui esse lençol não cobria seu corpo. - Ele mordeu os lábios com malícia. - Seu corpo é bonito.


- Jorge! - Joguei o travesseiro nele. - Eu não acredito.


- Ei, calma. Já disse que não fiz nada. - Ele recuou. - Olhar não arranca pedaço.


- Depois que você me ajudar eu irei te ajudar a arrumar uma namorada. - Levantei da cama e caminhei em direção ao banheiro. - Seu pervertido.


- Anda logo coisa santa! Eu marquei com o Gabriel em meia hora. Eu já disse que você dorme muito? 


- Sabe por quê? - Perguntei penteando meus cabelos com uma escova que achei no banheiro.


- Não. - Ele soltou o ar pesado.


- Efeito colateral de ser um fantasma.

***


Após fazer minha higiene, sai do banheiro e eleme esperava ainda sentado na cama.


- Demorei? - E ele apenas balançou a cabeça negando. - Eu não posso sair daqui usando só sua camisa e eu me nego a usar aquele vestido amarelo outra vez.


- Eu sabia disso. - Ele levantou e foi de encontro ao guarda-roupa dele. 


- Eu não vou usar roupas de menino. - Cruzei os braços e bati o pé.


- Eu sei. - Ele me encarou sério. - Minha ex-namorada deixou algumas peças de roupa aqui. - Ele me jogou um vestido e uma blusa de frio. - Não combina, mas pelo menos não é nada de menino.


- Eu não sei o que me assusta mais.


- Como?


- Eu disse que não sei o que me assusta mais. 


- E quais são as opções? - Ele arqueou uma das sobrancelhas.


- As roupas horríveis da sua namorada ou você já ter tido uma namorada. - Comecei a rir e quando minha barriga já estava doendo parei e percebi que o Jorge não ria. - Esta tudo bem? Eu falei algo que não devia?

- O que me assusta mais é uma garota morta há três dias dentro do meu quarto. - Ele rio e jogou o travesseiro que eu havia jogado nele em mim. - Se veste logo. O Gabriel vai saber como te ajudar.


Entrei no banheiro, vesti o vestido vermelho e a blusa amarela da ex-namorada do Jorge e fiz uma trança no cabelo.


- Quem é Gabriel? - Perguntei assim que sai do banheiro.


- Te explico no caminho.


- E como vamos sair sem que nos vejam?


- Ainda é cedo, todos estão dormindo.


- Nós também deveríamos estar.


- Não. - Ele abriu a porta do quarto com cuidado e saiu na ponta dos pés. - Nós temos que descobrir o que houve com você. Ou você não esta curiosa?


- Estou. - Disse sem qualquer empolgação.


- Ontem você estava desesperada para que eu te ajudasse, por que me parece que isso mudou? 


- Você não vai acreditar! - Falei um pouco alto demais e ele levou o dedo indicador até os lábios e gesticulou para que eu fizesse silêncio. - Você não vai acreditar. - Repeti num tom de voz mais baixo.- Eu me lembrei das coisas que aconteceram nos últimos cinquenta anos.


- De tudo? - Ele arregalou o olho espantado. 


- Jorge? - Uma voz masculina veio do andar decima. - Com quem você está falando?


- Corre! - Ele segurou minha mão e corremos juntos até o carro dele. 


- Quem era? - Disse assim que recuperei o fôlego. 


- Meu avô. - Ele ligou o carro e saímos sem que seu avô pudesse nos ver.


- Eu adoraria conhecê-lo. 


- Não muda de assunto. - Ele desviou o olhar da estrada e me olhou por um tempo. - Do que você se lembra?


- De tudo que estava na tal da internet. 


- Nada mais? 


- Nada mais tipo? 


- Tipo o porquê de você estar aqui. - Ele estava bem nervoso e já não sorria mais.


- Tem algo de errado com você? - Levei minha mão a dele e ele a puxou rápido. - Algo que você não queira me contar.


- Não se lembrou de nenhum namorado? - Ele parou o carro. - O Gabriel não mora tão longe.


- Namorado? Não. - Abri a porta do carro decepcionada por ele ter mudado de assunto. - Quem é mesmo o Gabriel?



CindyOnde histórias criam vida. Descubra agora