Capítulo 2

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Sentei no chão, no lugar mais afastado da multidão e ali chorei por um bom tempo, desejando que tudo aquilo fosse realmente um pesadelo. Senti minha barriga doer e fazer um barulho bem alto e feio era fome e muita fome.

Procurei minha bolsa e não a encontrei, na pressa em sair de casa em busca dos meus pais eu não havia pensando em pegar a bolsa, tinham lojas enormes e muita gente nas ruas, eu estava perdida e sem dinheiro.

Andei um pouco até encontrar uma loja com muitas roupas penduradas na vitrine, as roupas eram bem feias e estranhas, era evidente que era um brechó, eu poderia vender meu chapéu e usar o dinheiro para comer.

- Seja bem-vinda! Posso ajudar? – Uma moça apareceu sorridente, ela estava bem mal vestida e usava um batom roxo, R-O-X-O, ela era bem diferente de todas as moças que eu já havia visto, porém ela era simpática.

- Obrigada. Eu gostaria de vender meu chapéu. – Sorri docilmente.

- Nós não compramos roupas moça, nós vendemos. – Ela disse.

- Como? – Falei perplexa. – Isso não é um brechó?

- Não. – Ela riu. – Nós somos a Forever 21.

- E aonde arrumam tantas roupas estranhas para vender?

- A senhora quer falar com a gerente?

- Eu adoraria.

- Não precisa moça. – Um rapaz de olhos verdes e cabelos cacheados apareceu, ele era realmente muito bonito. – Eu não pude evitar ouvir sua conversa e eu adoraria comprar seu chapéu.

- Adoraria? – Falei junto com a moça, eu disse feliz e ela pareceu surpresa.

- Sim. – Ele riu. – Minha avó adoraria esse chapéu. Eu andei procurando muito por algo assim para ela, mas não achei.

- Sua avó? – Perguntei irritada, meu chapéu era moda entre as moças da minha idade.

- Sim. Eu pago vinte reais por ele.

- Vinte reais? O que é isso?

- Dinheiro? – Ele arqueou uma das sobrancelhas.

- E isso é muito? Por que esse chapéu veio de Nova York.

- É até demais. – A moça riu. – Ele está sendo generoso.

- Com licença. – Pigarreei.  – Estamos fazendo negócio aqui.

- Vocês podem, por favor, fazer isso fora da loja? – Ela perguntou.

- Claro! – O rapaz puxou meu braço e me levou para fora da loja. – Olha aqui estão os vinte reais. – Ele me entregou um pedaço de papel e eu o entreguei meu chapéu. – Se seu chapéu veio mesmo de Nova York, porque você quer vende-lo?

- Eu estou com fome, preciso comer e estou sem dinheiro. – Suspirei triste, eu realmente amava aquele chapéu.

- Eu te pago um almoço. – Ele sorriu.

- Serio? Não precisa! – Disse sem jeito.

- Vamos? – Ele começou a caminhar e eu andei atrás dele.

- Aonde vamos? – Perguntei depois de alguns passos.

- Ao Mc Donalds.

- É um restaurante?

- É parecido. – Ele riu novamente, ele ficava muito lindo sorrindo, ele tinha covinhas.

- É um restaurante caro? – Perguntei animada.

- Você não sai muito, né? – Ele gargalhou.

- Saio sim. – Revirei os olhos. – Só nunca andei por aqui.

- Em toda esquina tem um Mc Donalds. – Ele me olhou serio dessa vez. – Está tudo bem com você?

- Esta está sendo uma manhã estranha. – Olhei para o chão. – Mas não quero falar sobre isso.

- Eu também não quero saber. Só quero te alimentar.

- Hum. – O olhei um tempo e fiquei imaginando se ele estava sendo grosso ou educado, mas ele sorriu novamente e preferi acreditar que esse era o jeito dele de ser educado. – Vamos comer?

- Vamos!

Entramos em um grande prédio, havia muitas pessoas ali, todas falavam ao mesmo tempo e comiam. Esperei por ele sentada em uma mesa e pouco tempo ele surgiu carregando uma bandeja.


****

- Nossa isso é bom! – Disse dando mais uma mordida no meu lanche.

- Deve ser o molho especial. – Ele deu de ombros.

- E essa música que está tocando. – Balancei a cabeça no ritmo da música. – Quem canta?

- One Direction. – Ele disse sem me olhar, levando seu copo de Coca Cola para boca.

- Quem são? – Perguntei.

- O que? – Ele tossiu um pouco, quase engasgou com a Coca. – Você não os conhece?

- Acho que não.

- Já te saquei. – Ele piscou para mim. – É fã da Taylor Swift, não é?

- Da Taylor o que?

- Eu devia saber. Esse seu vestido. – Ele apontou com a cabeça. – E todo aquele lance com o chapéu. Você curte coisas retros como ela, né?

- Taylor o que? – Repeti.

- Cara você é bem estranha. – Ele me encarou. – Quantos anos você dormiu?

- É isso que eu quero saber. – Inclinei meu corpo na mesa de modo que ficasse bem próximo a ele. – Você sabe quanto tempo eu dormi? Onde estão meus pais? Ou o que está acontecendo aqui?

- Tá, agora você me assustou. – Ele disse se afastando.

- Desculpa? Eu não queria.

- Tudo bem. – Ele voltou a comer o lanche. – Mas que história é essa de onde estão seus pais e quanto tempo você dormiu?

- Olha isso pode parecer estranho. – Falei enquanto ele me olhava calmamente. – Ontem eu descobri que o rapaz que eu amo iria se casar com minha melhor amiga no dia trinta e é claro que eu chorei muito.

- Nossa. – Ele me olhou chocado. – Sinto muito.

- Chorei tanto até adormecer e quando eu acordei meus pais haviam sumido, minha casa parecia abandonada e as coisas aqui, você não acha que elas estão bem diferentes de ontem?

- Diferente tipo?

- É 1966, mas parece que estamos numa espécie de futuro.

- 1966? – Ele arregalou os olhos e me encarou assustado.

- Sim, hoje dever ser 27 de junho de 1966.

- Você usou drogas?

- Porque tudo mundo está me perguntando isso? – Estava ficando irritada com esse tipo de pergunta.

- Deve ser porque hoje é dia 27 de junho de 2016.

- Como? – Gritei ao mesmo tempo em que me levantava da mesa.

Caminhei um pouco e vi meu reflexo em uma janela, eu não havia mudado era a mesma garota de ontem à noite, algo estava bem errado, talvez o garoto estivesse mentindo para mim.

CindyOnde histórias criam vida. Descubra agora