Capítulo 8

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- Ah. - Ele riu. – Me Esqueci de te contar. - Caminhamos até a porta da casa que eu supus que fosse a do Gabriel, já que estávamos ali para encontrar com ele. - O Gabriel estudou comigo no colégio. Ele é um cara legal, mas é nerd.

- Nerd? - Interrompi.


- É... Você sabe. - Ele tocou a companhia. - Ele estuda demais, usa óculos e se interessa por coisas estranhas.

- E como é que um nerd vai ajudar a gente?

- Sabe o gostar de coisas estranhas? - Assenti com a cabeça. - O Gabriel escolheu magia pra ser a coisa estranha dele.

- Ele é bruxo?


- Não, eu não sou. - Um menino magro, branco, de cabelos castanhos abriu a porta da casa. - E quem é você?

- Eu sou a Cindy. - Estendi a mão para cumprimenta-lo e ele a apertou sem jeito.

- É a menina que eu te falei. - Jorge disse entrando na casa e nós o seguimos.

- Então você está mesmo morta? - Gabriel perguntou.

- Eu não sei.

- Ela está. - Jorge interrompeu. - Sua mãe está em casa?

- Não, mas vamos para o meu quarto. - Eles começaram a subir escadas e eu fui atrás deles. - Você pode atravessar paredes? - Ele perguntou enquanto abria a porta do quarto, o mesmo era bem diferente do quarto do Jorge, tinha livros espalhados pelo chão e a cama estava bagunçada.

- Não posso.

- Eu acho que ela pode. - Jorge disse se sentando na cama. - Ela só não se esforça.

- Cara ia ser muito legal. Você podia assaltar um banco pra gente. Você ia lá e atravessava o cofre.

- Porque se contentar com um, Gabriel? - Os olhos deles brilhavam. - Se a gente pode roubar quantos quiser.

- Eu não vou assaltar um banco e eu também não sou um fantasma. - Cruzei os braços irritada. - Eu vim aqui achando que vocês iriam me ajudar, mas já que vocês não vão, eu vou embora.

- Ela é sempre irritadinha assim? - Gabriel perguntou para Jorge.

- Ela consegue ser pior. - Ele me encarou da cabeça aos pés e depois desviou o olhar. - Vamos ajudar logo a minha assombração.

- Eu não sou uma assombração e muito menos sua. - Olhei para Jorge com desfeita. - Vamos Gabriel, me ajude?


- Eu ajudo. Mas vocês tem que acabar com esse clima negativo, parece até dois namorados.

- Eu e ela? - Jorge levantou da cama. - Não mesmo.

- Eu digo o mesmo.

- Eu acredito. - Gabriel rio. - Agora me conta Cindy, o que te trouxe aqui?

- Eu não sei. - Soltei o ar triste. - Eu me lembro de ir dormir triste e então quando eu acordei eu achei que era outro dia e que tudo estava normal, mas pelo visto estamos em 2016 e o problema é que éramos pra estar em 1966.

- Já faz três dias que ela acordou.  - Jorge interrompeu nossa conversa.

- E quando você morreu?

- Há quatro dias. - Disse depois de fazer um breve cálculo nos dedos.

- Então você morreu exatamente cinquenta anos depois da noite em que foi dormir triste?

- É. - Disse animada. - Isso significa algo?

- Não sei. - Ele disse e meu animo sumiu. - Mas pode ser que sim.

- Viu? Eu te disse para me contar os detalhes daquele dia. - Jorge resmungou.

- É. - Gabriel se animou. - Do que você se lembra?

- De pouca coisa na verdade. - Sentei no chão do quarto. - Me lembro de ir ver minha melhor amiga e ela me contou que iria se casar. - Comecei a chorar, isso ainda me doía muito. - E então ela disse que se casaria com o rapaz que eu amava.

- E o que houve? - Gabriel perguntou.

- Quieto cabeção! - Jorge bateu na cabeça do Gabriel com a mão. - A deixe falar.

- Bem. - Parei para pensar por alguns segundos. - Então eu comecei a chorar e corri direto para casa, ela tentou me seguir, mas eu corri mais rápido que ela. Quando cheguei em casa mamãe estava na sala, ela me viu passar e foi atrás de mim até meu quarto. - Limpei as lágrimas com a mão e meu coração foi abandonando a magoa e começou a ser tomando pela raiva. - Mamãe disse que eu não poderia me vingar dela, mas eu estava tão irritada.

- Você se vingou? - Jorge perguntou boquiaberto.

- Não! - Falei já totalmente tomada pela raiva. - Mas eu jurei que me vingaria.

- Só isso? - Gabriel perguntou. - Você se lembra do que disse exatamente?

- Já faz cinquenta anos. - Jorge disse decepcionado. - Ela não vai se lembrar.

- Para mim fazem apenas alguns dias. - Fechei os olhos tentando me lembrar do que havia dito. - Eu acho que eu desejei na verdade.

- Não. - Gabriel balançou a cabeça negativamente. - O que você desejou?

CindyOnde histórias criam vida. Descubra agora