Capítulo 1: Klaus

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Ela não me olhava.

A noite estava perfeita, a garota vestida apropriadamente para o cenário em questão e eu, bem, mais do que disposto. Ainda assim ela se recusava a falar comigo, e só porque eu a deixei esperando duas horas pela maldita carona que tinha prometido. Só por isso!

Ok, talvez não tenha sido uma coisa muito bacana, mas em minha defesa, aconteceram coisas preguiçosas no meu dia, e eu realmente achava que Marion não iria conseguir entende-las se tentasse explicar. Até porque não havia explicação plausível.

Então ali estava ela, passando aquele batom de cheiro maravilhoso e incensando o carro inteiro, me deixando com vontade de morder seus lábios carnudos. Eu já tinha dado todos os sinais do mundo de que a queria. Coloquei as músicas de Jazz que nós adorávamos e trouxe o milk-shake de morango — ela fazia barbaridades por um Milk-shake. Ainda assim, ela continuava a não me olhar. Isso estava me deixando nervoso.

— Qual é Marion, eu já pedi desculpas – Falei com impaciência – Você sabe o quanto o delegado pode ser indulgente quando ele precisa de algo.

Ela me olhou pela primeira vez naquela noite, e tinha fúria em seus olhos claros. Mas era uma fúria tão doce e gostosa que...

— Você poderia ter me ligado. Fiquei plantada feito uma babaca na porta daquele consultório esperando meu namorado, que simplesmente havia esquecido de mim.

— Eu teria ligado, mas não sei onde coloquei o telefone. Eu vivo perdendo aquele troço, e isso não é novidade para você. – Respondi virando para o outro lado, tentando me lembrar de onde realmente tinha jogado a porcaria do aparelho.

Ela me avaliou com cuidado. Estava tentando encontrar a mentira nas minhas palavras, algo que estava aperfeiçoando com tempo ao meu lado. Não era difícil me pegar na mentira. Mentia o tempo inteiro para me safar de problemas.

O fato é que eu acabei pegando no sono. Pois é, nada legal da minha parte, mas o jogo estava bom e deitei no sofá para assistir. Seriam só dez minutos e depois eu levantaria para pegá-la. Acontece que acordei quase duas horas depois. E para completar o meu dia, meu pai tinha resolvido estacionar a viatura na frente da saída da garagem onde estava a moto. Tive que vir com o cadilac que ele tinha resolvido comprar em um ferro velho e me dar de presente de aniversário, e não era exatamente um veículo rápido. Se mediam a velocidade dos automóveis com cavalos, o cadilac seria medido com pôneis.

Ok, não posso dizer que não gostava daquele carro, eu o adorava. Acabamos por nos tornar amigos íntimos e invés de usar cantos da cidade e o sofá de casa para namorar, trazia as garotas para cá. Acredito que esse tenha sido o motivo do meu pai ter me dado aquele carro: ele estava cansado de me flagrar em momentos inoportunos.

Enfim, me atrasei um pouco e ali estava minha doce namorada olhando furiosa para mim. Está bem, ela não é tão doce assim. Mas eu queria intimidade hoje, então não podia dizer a verdade, não é? Inventei uma história boba de que meu pai me prendeu na garagem para ajudá-lo no conserto do carro dele e tinha perdido a noção da hora. Eu sabia que isso não colava com ela, não completamente. Meu pai a adorava. Eu suspeitava que ele gostasse mais dela do que de mim.

— Vamos lá, gata – Tentei passando a mão de leve em seu braço – Eu estou aqui agora com você. Não vamos deixar a noite acabar assim.

Ainda tinha desdém no seu olhar. Foi quando resolvi usar minha arma infalível com ela: Romantismo.

— Comprei ingressos para ver aquele filme com a Sandra Bullock que você tanto quer ver — Coloquei minha melhor cara de inocente naquela mentira — mas se não quiser falar comigo, eu posso dar para Débora ou...

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