Capítulo 16: Lorena

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Meu celular tocou às sete da manhã. Menos de três minutos depois e meu pai bateu na porta do meu quarto para me despertar de verdade. O culto começava as oito, e eu era obrigada a ir para poder levar minha mãe, já que meu pai costumava sair de casa uma hora antes para checar detalhes de última hora. Não que eu achasse inteiramente ruim ir a igreja aos domingos, era sempre uma oportunidade de avaliar como as pessoas se comportavam na "casa de Deus", e comparar com como elas se comportavam na escola.

Sei que isso era uma babaquice total, mas todo adolescente é meio babaca, não é? Acredito que se realmente existia um Deus, a casa dele seria em qualquer lugar onde alguém precisasse ou quisesse sua presença. Usava desse princípio para me negar a ir, mas meu pai sabia ser convincente quando queria, sem contar que ainda estava de castigo pelo incêndio. Minha turma em peso ia aos domingos pela manhã, já que o culto da noite era reservado às pessoas com mais idade. Elas achavam que se fosse para a igreja aos domingos, poderiam se livrar dos pecados que achavam que cometiam. Outra babaquice.

Levantei de mau humor e passei direto para o banheiro em anexo do meu quarto. Levei um susto quando encarei a imagem refletida no espelho. Estava com a maquiagem borrada e meu cabelo era uma completa bagunça. Suspirei lembrando os acontecimentos da noite anterior e cai no chuveiro antes que a coragem fosse embora.

Tinha passado por uma sessão de tortura com aquela amiga de meu irmão. Ela era tão doce que eu teria que refazer meu teste de diabetes ainda esse mês. Não suportava tanta docilidade. Sem contar que a mulher não parava de falar hora alguma. Sai com dor de cabeça de tanto que ela puxou e repuxou meu juízo com a porra do secador e a porcaria da matraca. E o vestido que Diego tinha comprado? Certamente tinha sido na mesma loja de vadias que Marion frequentava. Eu me senti uma depravada, mas uma depravada contente com o resultado no espelho. Se eu gostasse de mulher, me pegava fácil.

Daí a pior parte tinha sido encarar a festa, com aquele monte de gente que eu já tinha difamado no jornal, ou derrubado dentro da lata de lixo. Senti-me maravilhosa quando notei que ninguém tirava os olhos de mim, ao mesmo tempo em que quis tacar a porra do salto daquele sapato ridículo no bando de homem besta que ficou olhando para os meus peitos e minhas pernas.

E então passamos para a melhor parte: o namorado imbecil da anfitriã da festa e seu fiel séquito, que não saíam de perto de mim. Usei isso ao meu favor para deixar Hunter desconcertado, mas o feitiço virou contra mim quando ele começou a cogitar coisas demais. Passei a tarde inteira quase nua na casa de Diego e consegui esconder o machucado dele, e em menos de um minuto Klaus já tinha percebido, e pior, tinha tirado conclusões que tinham me deixado assustada. Fugi de lá me sentindo fraca e apavorada. Odeio me sentir vulnerável, e incrível como ultimamente era sempre Klaus o causador desses momentos. E quando ele foi legal comigo, eu quase desmoronei em seus braços. Quase. Não porque ele era a melhor pessoa do mundo, mas por que ele continuava a me perceber mais do que eu gostaria.

Agi por impulso quando o empurrei no chão, e ele agiu premeditadamente quando jogou aquele copo de cerveja em mim. Eu quis beija-lo e soca-lo ao mesmo tempo.

Diego me deixou em casa sendo o irmão chato e interrogador durante todo o percurso, e o resto foi um borrão entre eu chorar até pegar no sono, e acordar com essa cara inchada.

— Lorena? — Minha mãe chamou baixinho batendo na porta, abrindo-a de leve. Ela nunca gritava. Nunca. Às vezes até eu queria ouvi-la gritar para saber como ficaria sua voz nervosa.

— Oi, mãe, estou saindo.

Vesti uma calça jeans branca e uma regata rosa clara. Completei com uma jaqueta bege. Não era o vestido que meus pais insistiam que eu usasse, mas pelo menos não tinha uma caveira ou o nome de satã estampada na frente; sem contar que eram claras. Meu pai dizia que o claro pertencia a Deus. Outra porcaria.

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