Capítulo 4: Lorena

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— Você acredita que o idiota do diretor me colocou naquela merda de grupo de babuínos dançantes?

O novato me olhou de forma assustada, como se eu tivesse acabado de passar pelada e com um abacaxi na cabeça. Tudo bem, eu tinha jogado minha bolsa em cima da montagem da matéria de capa do próximo jornal que ele estava trabalhando meticulosamente há dois dias, sob uma pressão fervorosa e ditadora de minha parte.

Não tenho costume de dar ousadia aos novatos no meu jornal, mas eu estava com raiva e a única pessoa dentro da sala era ele, então tive que descontar em alguém.

— Oi? — Ele me perguntou apreensivo e eu peguei minha bolsa enquanto revirava os olhos, me jogando de forma dramática na minha cadeira.

— Sabe André, as coisas já foram mais fáceis nessa escola.

— Meu nome é Anderson.

Eu sabia o nome daquela criatura, mas eu gostava de ver a veia de sua testa saltar cada vez que eu usava todos os nomes com "A" que conhecia no alfabeto.

— Desculpe. – Reprimi um sorriso e tratei de ajeitar a placa de metal da minha mesa onde dizia "Lorena Sanchez – Editora chefe do Jovem Esperança". Ok, o nome não era lá dos mais originais, e até coloquei em votação para mudar esse título do jornal, mas o diretor destruiu meu abaixo-assinado resmungando que aquele nome estava lá antes mesmo dos meus pais nascerem. Não entendi qual era o argumento válido nisso. Se o nome estava lá desde o século passado, não era um bom motivo para mudar?

O novato pigarreou e eu voltei a olhar o rosto sardento do garoto do primeiro ano que tinha se inscrito e entrado nas trincheiras junto com mais cinco outros candidatos por essa vaga. Fizeram uma redação de três folhas falando sobre a importância da preservação ambiental em lugares como Esperança. Sendo sincera? Dispensei dois deles porque tinham letras horrorosas, um porque não entendia nada sobre concordância verbal e o quarto porque ficou olhando para o relógio de dois em dois minutos. Anderson me sobrou e nem podia reclamar, o garoto era bom no que eu pedia para ele fazer. E se ele passasse tranquilo pelo resto desse período de O Diabo Veste Prada, então colheria frutos interessantes de se estar ali. Como eu usar seu nome corretamente, por exemplo.

— Mas você dizia... – Ele voltou a ajeitar o jornal em frente à sua mesa de modo calculista.

— Que o diretor me colocou no grupo de música como punição pelo incêndio.

— Jura? – Perguntou depois de um tempo calado, acho que absorvendo o fato — Por quanto tempo?

— Ele não disse, mas vou ter que participar do festival e apresentar alguma porcaria qualquer sobre musicais. – bufei brincando com um globo de vidro.

O novato me encarou de boca aberta. E então ele passou a gargalhar alto e eu cheguei perto de jogar minha placa de metal pesada na cabeça dele. Eu iria fazer aquele garoto passar o dia inteiro correndo de um canto a outro hoje só por causa disso.

— Qual a graça, Antônio? – Perguntei séria e ele parou de sorrir instantaneamente. Se ele achava que podia tirar sarro de mim, era porque não me conhecia tão bem.

— Desculpe, mas acontece que não dá para imaginar você em cima de um palco cantando na chuva, Lorena.

Ele desvio o olhar, mas ainda estava sorridente.

— Não é? Tentei argumentar isso e os otários começaram a tirar onda de mim dizendo que eu não sabia cantar e que não entendia nada de música. – Fiquei revirando os olhos enquanto lembrava a forma zombeteira que alguns olharam para mim. Odiava ser provocada!

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