Capítulo 10: Lorena

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Eu não conseguia acreditar.

Meu coração parecia que sairia pela boca a qualquer momento e eu não poderia culpa-lo. Anos longe de Diego e de repente ele aparece do nada, no meio de uma apresentação que eu achei que seria um fiasco, mas que acabou sendo maior do que esperava. Eu estava eufórica por ter passado na cara daquele monte de babaca que eu conseguia, e muito mais por Diego estar ali.

Quando bati os olhos nele naquele auditório achei que fosse desmaiar, e se não fosse Dominic provavelmente teria acontecido. Foi uma mistura de medo com saudade, com raiva e principalmente com alívio. Tanto tempo sem notícias de alguém e você começa a se questionar se aquela pessoa ainda está viva.

Costumava ter pesadelos claustrofóbicos com Diego preso em um poço me pedindo socorro. Acordava suada e gritando, e lógico que meu pai nunca veio ver se eu estava bem, nem deixaria minha mãe vir. Ele era do princípio de que as pessoas tem que enfrentar seus temores sozinhas. Pois é, parece estranho para um pregador, mas o que eu poderia fazer?

Estávamos sentados embaixo de uma árvore na fazenda dos Padilha, fazendo um piquenique com coisas que ele tinha trazido na mala do meu carro. Era próximo ao terreno da escola e o mais discreto que poderíamos conseguir. Diego tinha acabado de chegar à cidade e não queria mostrar a cara ainda, sabia que isso renderia muitas fofocas. Eu tinha certeza de que sua aparição na escola já seria o suficiente para causar tumulto.

Contou-me que conseguiu um emprego como meteorologista aqui na cidade, o que foi uma surpresa para mim. Sabia que um dia ele estudaria algo assim, mas jamais imaginei que ele pudesse voltar a Esperança. Diego não tinha o mesmo apego que eu tinha por esse lugar. Mas se eu estava achando ruim? De forma nenhuma. Tinha meu irmão de volta.

— E então – Disse depois de dar uma golada longa e pausada numa garrafa de Coca-Cola. – Você agora é um meteorologista?

Ele sorriu e algo apertou no meu peito, me mostrando como foi absurda a saudade que tive daquele sorriso.

— Sim. Agora seu irmão é um cara sério e importante. Vou chefiar um departamento inteiro e...

— Diego, porque você foi embora? – Não quis ser ofensiva, mas me parecia ridículo falarmos sobre qualquer coisa antes daquilo. Ele me devia essa resposta. Ao menos essa.

Ele ficou com o queixo rígido e travou os dentes. Olhou o horizonte por algum tempo e bateu de leve na calça. E quando eu achei que nunca mais ficaria surpresa com meu irmão, eis que fico.

— Eu sou gay.

Sabe quando você está andando num carro em alta velocidade e ele está subindo um viaduto? Não tem aquele momento que o carro para de subir e fica rente? Conhece aquele frio na barriga que temos, como se por um momento nosso estômago parasse na boca? Foi justamente o que senti. E como se fosse um filminho, tudo se encaixou na minha mente.

Diego nunca pareceu ser gay. Não que soubesse exatamente como era um quando criança, só sabia que a congregação do meu pai não tratava muito bem os homossexuais. Sei disso porque alguns anos antes um rapaz, filho de alguém influente da cidade, tinha ido embora por conta do preconceito que viveu por ali. Nunca escutei nada de outros, mas Diego sempre me contava as barbaridades que as pessoas faziam com esse tipo de gente em cidades pequenas. Ele era indignado com isso, mas jamais achei que era porque ele se sentia ligado à ideia. Jamais achei que isso pudesse acontecer com alguém tão perto a mim.

Tudo bem, eu estava exagerando, não era uma doença terminal, era apenas uma opção sexual. Mas eu fui criada com o pastor de pensamento mais antigo do mundo, lógico que alguma influência tinha ficado em mim. A cidade não destratava os homossexuais, mas os isolava socialmente, e parte disso era culpa do meu pai. Podia imaginar porque o filho gay do pastor tinha ido embora.

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