XIV

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- Hã,  claro - respondi.

- Bom, vamos de elevador ou escada?

- Se importa de ir pela escada?

- Não. Mas vou avisando, meu quarto fica no sexto andar.

- Maneiro. Vamos?

- O...kay.

Nos dois primeiros andares, subimos em total silêncio,  até que eu resolvi falar:

- Andou sozinho todo esse tempo?

- Não sou muito sociável.

- Ow,  e por isso está me levando para ver o seu quarto?

- Não. Com você é...diferente.

- Como assim diferente?

- Não sei. Acho que sempre quis falar com você e com o Jason. No início não. Pensei que seria mais uma "donzela em perigo". - ele fez aspas no ar. - Mas, depois que vi você criando sua própria reputação, vi que era independente. Meu pai sempre me falou muito de você. Que, você é uma caixa de surpresa.  E possivelmente a mais intrigante que ele já viu.

- O Bolota só sabe falar de mim?

- Haha - riu roucamentente- Ele tem uma enorme afeição por você.

- Isso lhe magoa?

- Não. Acho que também tenho. Quer dizer. Não falávamos muito um com o outro.

- Eu sei. Acho que, nunca falei com você, porque...sei como é querer ficar só.

- Sabe?

- Claro. Tem horas, que não dá para ficar com muitas pessoas ao seu redor. É agonizante. Então, se sente obrigado à encontrar um refúgio. Eu não sei você, mas me sinto muitas vezes assim. Na maior parte do tempo.

- Acho que, penso parecido com você.

- Impressionante.

- O que?

- Como tantos anos uma pessoa igual à você, que se daria tão bem com você e que todo tempo estava ali e você não viu. Nenhum dos dois viu. Mas, agora aqui estamos.

- O destino trás coisas estranhas.

- Não. Ele só não é compreendido. A vida é baseada em escolhas. E essas escolhas regem nosso destino.

- Que profundo.

- Não era você o gótico?

-hahahaha! - rimos juntos.

Despois de mais algumas escadas, chegamos ao dormitório do Jack.

Me vi surpreendida. Era duas vezes maior que o meu. A decoração era incrível, em tons de preto, azul e prata. Tinha uma cozinha, um espaço para a cama e mais uma outra cama na janela, um banheiro e dois closets.

- WOW! - Exclamei.

- Gostou?

- É bem legal! É duas vezes maior que o meu.

- A nobreza trás alguns luxos a mais. Vem, vou lhe mostrar minha biblioteca particular.

Então ele abriu um dos closets e me levou para dentro. Deu dois toques em uma parede e uma passagem secreta se abriu. Lá havia uma biblioteca!

- Isso é...simplesmente incrível!

- Olha, eu não sei quem é seu pai. Mas meu avô me disse que se um dia eu fosse seu amigo, deveria lhe ensinar algumas coisas.

- Que são...?

Ele pegou um livro de capa de couro preta e prata. Com uma lua azul no centro.

- Esse livro conta sobre filhos de semideuses. E filhos de parentes deles. Acho que seu pai deve ser um parente, ou ter alguma coisa haver.

- Sua família não é a única que teve um semideus. Tem os Clow e os Novask e tem uma francesa também.

- Sim. Então, seu pai pode ser de uma dessas famílias.

- Acho pouco provável. - suspirei.

- Ainda assim, meu avô me pediu para fazer uns testes com você.

- Okay. Não tenho a perder mesmo.

- Tá. Então, vamos começar procurando seu parentesco com os deuses. Que pode também vir da sua mãe.

- Está bem.

Ele pegou uma seringa e esperou no meu braço. Tirou um pouco de sangue, e deixou mais um pouco escorrer. O que escorria da minha pele, pingou na capa do livro, que se tornou prata e azul de imediato.

- O que isso significa?

- Que você possui uma herança divina, e como são duas cores, indica que é mais de uma herança. Mas eu tenho que fazer uns testes com seu sangue, para saber de qual deus é.

- Okay.

- Agora vamos ver o livro.

Ele abriu o livro no índice, e uma palavra me chamou atenção.

- Espere. Eu...eu conheço essa palavra. Ela vem do grego, não? Dracaenai.

- Sim. Vem. Mas é de uma língua secreta dos vampiros. No século XV nossa sociedade criou um clã secreto. A ideia era que fosse uma organização para manter os vampiros na linha. Mas quando os Ivashkovi tomaram o poder do clã houve uma guerra. Ela meio que foi apagada da história. Mas os anciãos criaram uma nova lingua, chamada Dracaenai. Ela há muito foi esquecida. Mas reza a lenda, que eles não foram exterminados. Que ainda recrutam aqueles que querem vingança ou apenas um lugar novo. Eles não são maus. Apenas são mal compreendidos.

- Está errado.

- Como assim?

- Falta uma parte na sua história.

- Qual?

- No século XVI os anciãos foram secretamente caçados. Grande parte for exterminada. Mas Rose Soryal sobreviveu. Ela criou a língua nova. Ela é escrita em códigos. Por isso, nunca encontraram o esconderijo deles até hoje. Por isso os livros de historia dizem que são lendas a existecia desse clã.  Mas isso é só porque não sabem admitir a derrota e o fracasso. Não sei porquê,  mas sempre gostei nesses assuntos. Parece que, eles me....atraem. Entende?

- Sim. É como uma paixão?

- Sim...Não..

- Sim ou não?

- Não exatamente.

- Uhum. Vem, vou ligar para o meu avô. E eu estou morrendo de fome. Quer comer alguma coisa?

- Claro - respondi levantando em um pulo e indo para a porta. Não tinha saído do biblioteca quando escutei:

- E quando você não está com fome, Sophye?

Apenas sorri e me sentei na cadeira da escrivaninha dele.

- Oi vô. - disse o Jack sentando em sua cama com o celular no ouvido.

- Ta sim. É a diretora me colocou de castigo....qual o castigo?...andar com a sua...-ele olhou para mim e ergueu uma sombracelha- hã...com a Sophye... Okay...sabe o caminho, não é?.....não se esqueça da comida....tchau vovô.

- Vovô? Que meigo! - disse eu rindo.

- Não enche.

- Ficou nervosinho, é? 

- Você não tem mais o que fazer não?

- Na verdade não tenho, não.

- O...kay. Já vi que essa semana vai ser longa!

- Espero que se divirta!

Então alguém bateu na porta e o Jack se endireitou e foi atender.

- Hey! Oi vovô! Entra.

- Certo. - então James entrou no quarto.

Destino Estranho.Onde histórias criam vida. Descubra agora