Tudo passa e nada fica

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Toda a gente sai

Da vida da gente.

Saem como o fumo,

De manso e sem destino,

Numa nuvem trémula

Que deixa no ar

Um amargo cheiro de saudade

Que nos faz doer o peito

E nos molha o coração

Sem cor nem vida

Perdido, sozinho, abandonado


Ao longo dos anos assisti

A várias nuvens de fumo

E sei de cor o incêndio

Acontece sempre da mesma maneira

Deixam-te de falar,

Depois param de te incluir

Fazem amigos novos

E no fim são nuvens que vão

E que te deixam,

Como um animal

Velho, rafeiro e usado


Odeio as nuvens de fumo

Odeio as pessoas

Odeio conhecer pessoas porque sei

Que vão partir, que me vão deixar

Que me vão substituir por alguém

Melhor.


Desisti quando percebi

Que tudo é efémero

Que nada dura, nada fica

Como um peixe morto sigo o rio

Que cai no precipício do fim do mundo

Onde as galés caiam no passado

Nada fica, ninguém fica

Tudo vai


Sonho

Sonho muito

Mas odeio faze-lo

Porque quando acordo a dor é maior.

Porque sei que não consigo alcançar

A outra realidade em que todos vivem.

Olho pela janela da jaula,

Da jaula onde vivo,

E vejo os rostos felizes e as vidas perfeitas

De pessoas que são fumo,

Desenhos esbatidos que conheci

E me trocaram por brinquedos novos.


Odeio-os a todos

Odeio os rostos sem nome

Odeio as vidas perfeitas

Odeio as redes sociais

Odeio os sonhos concretizados

Porque não suporto ver tanta perfeição

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