Como é a minha vida?

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Como é a minha vida?

É acordar sem motivação

É comer sem fome

É estar ansioso todas as horas do dia

É chorar sem saber porquê

É ter mudanças de humor que duram semanas


Ando na rua e vejo caras conhecidas

Pessoas com que em tempos falei

Mas ignoram-me e não sei porquê

Sempre que saio ninguém me agarra

Sempre que fico não faço diferença

Sou fantasma que vive e sofre

Porque não faço aqui falta


Na escola sou corpo presente

Mas alma que voa

Estou horas e ninguém me fala

Ninguém me inclui

Ninguém me ama

Ninguém é meu amigo


Tenho ciúmes de todos

Confesso porque é verdade

Mas não gosto de os ter porque sofro

Tenho ciúmes porque têm amigos e namorados

Têm felicidade e dinheiro e viajam

Têm pessoas que os amam e os agarram quando partem


Eu sou corpo não visível

Fantasma que passa

Alma que não se sente

E odeio-me por isso


Amo facilmente

Amo todos os que me dão atenção

Porque são poucos como a chuva no Verão

Mas vivo num constante medo

Porque sei por experiência própria

Que vão partir, que vão também eles sair da minha vida


Corto-me e tento-me matar

Sempre que as coisas ficam insuportáveis

Aperto o lençol à volta do meu pescoço

Para sentir a vida que não consigo sentir

Aperto o x-acto contra e pele nua para me sentir vivo

Porque todo o dia não sinto nada

Sinto o vazio que me enche

O tédio que me mata

A dor que me come vivo


Faço promessas a este e aquele

De que comerei, de que não tentarei

Mas confesso que isso não ajuda

Porque se o fazer não lhes conto

Porque se me tentar matar será de vez


Dizem para não fazer que eles sentirão saudades

Pois então porque não me mostram o amor que sentem?

Não sinto o seu amor, não sinto o amor de ninguém

Odeio os meus pais

E para ser sincero de vez em quando

Sinto vontade de acabar as amizades com os que sobram

E desaparecer, nunca mais lhes falar

Ficar no quarto dia e noite

E morrer


A vida é dura quando se é partido por dentro

A vida é dura quando somos uma esponja de emoções

A vida é dura quando estamos tristes desde que temos memória

A vida é triste quando se vive assim


Talvez seja só um puto mimado

Mas não consigo ser feliz

A ansiedade é demais

As emoções baças e contraditórias

Atingem-me como ondas de tsunami


O silêncio aumenta

A dor para sempre fica

Dizem que a dor é passageira

Mas desde sempre esteve comigo

É curioso pois

Quando não tinha amigos não tinha emoções

Vivia na minha bolha de racionalidade

Isolado do mundo exterior

Mas quando os fiz começaram os problemas

As emoções que matam

Talvez o truque é não ter amigos


Chamo a morte

Grito o seu nome

Quero partir! Quero partir!

Nunca serei feliz, sei

Nunca serei amado, sei

Nunca serei bom amigo, boa pessoa, sei

Sou monstro que fugiu do inferno

Para entrar noutro pior


Deixem-me morrer da próxima vez

Que me matar

-JM

IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora