Chuva, porque molhas a terra de tempos a tempos?
Sol, porque queimas o chão no Verão?
Vento, porque danças com as árvores?
Fogo, porque destróis a vida?
Vazio, porque preenches o céu?
Com o olhar perdido em ti, estrelas que contemplo,
Sonho com o futuro que não chega e desejo o passado que não vêm
Com o oceano à minha espera, água em que me afogo,
Choro o que não tenho e perco-me pelo que tive
Dizem que a luz continua sempre sem parar, mesmo anos depois da morte da estrela
Dizem que o Universo não tem fim, que o infinito continua para sempre
Serei eu como a luz? Serei eu como o Universo? Existirei eu realmente?
No oceano de gente que me rodeia
Isolei-me porque me habituei à solidão
Fechei-me para não sofrer
Construí muralhas para não me perder
Escrevi regras e guias para não cair na tentação
Queimei bibliotecas de memórias para não me lembrar
Perdi o que mais amava e fiquei
Com o vazio nas mãos e nada mais
Para me aconchegar
Chuva, lava-me o rosto uma última vez
Sol, queima-me as memórias que me restam
Vento, leva-me para longe daqui
Fogo, destrói a vida em mim,
Vazio, torna-me em ti
Com o som que repete
A melodia sombria de mais um dia
Com o olhar sem vida que anda pela rua
Sozinho e desamparado
Com a rosa seca na mão e coração numa caixa de ferro
Guardo-o com religiosidade para não sofrer
Com os álbuns de fotos feitos em cinzas, solto-os no rio
Com os manuais de regras, sigo a rotina
Com os fantasmas de coisas perdidas, falo sozinho
Com a dor a beijar-me, perco a virgindade e sangro
Com a solidão que aqui está, faço uma orgia
Com o vazio que me enche, perco os sentidos
Com tudo o que há no Universo, sou nada
Sou nada e nada serei
Sou falta de ar que sufoca, sou amigo que é abandonado, sou mutante de humano
Sou a chuva que cai no Inverno
Sou o Sol que nada ilumina
Sou o vento que não se faz sentir
Sou o fogo que arde em mim
Sou o vazio que me rodeia
Chuva, molhas para fazer companhia aos que sofrem
Sol, queimas para destruir os pecados
Vento, danças porque és alegre
Fogo, destróis porque crias
Vazio, porque sem ti somos nada
-JM
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III
PoetryO meu terceiro livro de poesia pessoal. Estes são os meus sentimentos que mais ninguém conhece. Espero que goste. Por favor não plagie, use a sua criatividade :)