Sonho que mata

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As estrelas brilham até morrerem

E quando a sua luz cá chega

Já elas morreram há muito

Todo o universo que vemos no céu

Mudou e é diferente do que vemos

Secou, morreu

Como os sonhos bons que tive


O sono tarda em chegar e vem de manso

Não quer entrar, deixa-se ficar

Pela porta a fumar

De mala na mão e chapéu na cabeça

Não fala, apenas vê

O cliente que recusa amar


Mas quando ele entra pela porta

Senhores, como é bom

Fecho os olhos e caio da cama

Num sonho e dois e três

De dor, mágoa e traição

Amor ardente, sexo e paixão


Umas vezes sonho contigo

Outras com ele

Outras com pessoas que nem conheço

Mas que têm aventuras comigo

No mar sem destino

Onde as sereias encantam

E afundam os barcos


Beijo-te na boca, no corpo

Cheiro o teu doce perfume

Sinto a tua pele branca

E sugo-te a vida toda

Mas isso traz-me tristeza

Porque não estás mais aqui

És apenas um sonho que não posso tocar

Sentir, amar

És uma obra da minha mente

E sei e sofro


Também sonho com ele

E abraçamo-nos sobre a cama

Vendo televisão

Como irmãos que somos

Inocentes na tenra idade

Flores por abrir que secam

De não serem regadas

Mas sofro

Porque o amo e não o posso ter

Deitado nos meus braços

Porque ele vive na terra

Depois da terra que odeio


Sonho com pessoas fictícias

Obras da minha imaginação

Misturas de realidade distorcida

Com um pouco de paixão

Partimos em aventuras

Por terras desconhecidas

Dormimos ao relento

Com as personalidades partidas


Sonho mas odeio

Ter um bom sonho

Porque sabe bem e faz-me feliz

Para de manhã me desiludir

Porque não foi real

Foi imaginação, desejo secreto

Foi paixão, necessidade de homem

Foi falso como o que mais odeio


Prefiro antes um bom pesadelo

Que me faça chorar

Porque assim sei bem distinguir

A realidade daquele lugar

Porque é verdadeiro e puro

E faz-me perceber os meus medos

Para um dia os enfrentar


As estrelas são tristes

Partem-me o coração

São como as pessoas que vão

Mas que ficam dentro de nós a brilhar

Pessoas que partem mas que ficam sempre

Até a luz acabar


Será que sou estrela que fica?

Ou sombra negra que passa?

Será que sou memória que marca?

Ou sulco que se apaga?


O universo é pequeno

Para tanta questão

E certas coisas não devem ser sabidas

Pois fazem sangrar o coração


Estrela que brilhas

Deixa-te ficar

Só a ti te tenho

Não te apagues pois

Assim não encontrarei o caminho de volta

À casa de onde parti

Um dia quando morrer

Serei estrela que brilha

E iluminarei o caminho

De vidas perdidas

De volta à casa onde nasceram


A luz é vida

A luz é pureza

E por isso quero ser estrela

E não sombra negra

Quero guiar

E não fazer perder

Quero ser relembrado

E não esquecer


Quero ser estrela que brilha

Quero ter uma nova vida

-JM


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