Carta aos Deuses e aos Homens

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Saíram, saíram quando eu mais precisava

Saíram quando eu fiquei ao vosso lado

Mas eu também saí, saí quando me ignoraram

A dor aumenta a cada dia, o passado acumula-se como um peso sobre mim

Irá algum dia alguém ficar? Irei algum dia eu deixar alguém se voltar a aproximar?

Traumas que doem e fazem doer

Quero abrir-me mas cada vez tenho mais medo

Porque sempre que me abro espetam-me uma faca no coração desprotegido

Também sou humano, também tenho sentimentos

Embora seja meio máquina também

Perdoo os vossos erros, as vossas falhas

Abro os braços sem duvidar se voltarem

Mas não sei se voltarei a abrir o peito

Afinal sou humano e não quero sofrer

Acredito em vós, Deuses, deposito em vós a minha confiança

Deixo-me ir no rio da vida sabendo que tudo tem um fim

Por mais dura que seja a viagem haverá uma razão

Morrerei, morrerei sim

E não tenho medo pois não tenho nada a perder

Para trás fica dor, dor e perda

Não amei verdadeiramente, pois nunca fui amado de volta

Não vivi verdadeiramente, pois não deixei marca

Mas não faz mal, Deus escreve direito por linhas tortas

E um dia tudo encaixará e serei feliz

E não faz mal que só o seja depois da morte

Pois tudo tem um tempo e uma razão

Perdi a minha infância e adolescência

Talvez vou perder a vida adulta e a velhice

Mas não faz mal desde que tenha salvo pelo menos uma vida

Desde que tenha feito pelo menos um sorriso

E isso eu sei que fiz e por isso tenho tranquila a consciência

Já não sinto amor nem felicidade,

Apenas tristeza e saudade

Já não tenho humor nem vontade

Apenas solidão e vazio

Mas não faz mal

Os Deuses sabem o que fazem

Gostava de não acordar amanhã

Mas se acordar não faz mal

Já nada me importa

Que faça chuva ou Sol

Que caia o Carmo e a Trindade

Nada perco e nada ganho

Porque sou pó e ao pó regresso

-JM

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