Era fim de tarde

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Era fim de tarde

O Sol punha-se a oeste

E umas pequenas nuvens vermelhas

Bailavam ao sabor do vento.

No mar, os homens ganhavam a vida

Na terra, reinava o silêncio.

Os animais pastavam

A erva dançava com o vento

E as árvores brincavam umas com as outras.



Um pequeno rapaz,

No alto de um precipício

Olhava o mar calmo

Mas que embatia na rocha

Com uma fúria maravilhosa

Aquilo prendeu-lhe a vista

Não conseguia parar de olhar

Algo dentro de si

Dizia-lhe para saltar

Algo dentro de si

Dizia-lhe para ficar



"Maximus? És tu?"

Não se virou

Preferiu ignorar a voz

"Que estás a fazer aqui?"

Era uma voz que conhecia

Era de uma rapariga

"Não vais saltar pois não?"



Ganhou coragem e respondeu:

"E se saltasse? Que diferença fazia?"

"Íamos ficar tristes..."

"Iam? Nunca se lembram de mim,

Nunca me incluem,

É como se não existisse,

É como se fosse invisível.

Não estão a ser egoístas?

Querem o brinquedo

Mas depois não brincam..."

A voz calou-se

Procurou no ar as palavras que buscava

"A gente gosta de ti,

Íamos sentir a tua falta."

"Tivessem-se lembrado disso mais cedo.

Não fazem ideia do que sofro,

Pois não?

Do que custa ser ignorado,

Posto de parte,

Substituído por tudo e todos,

Esquecido.

Por uma vez na vida quero pensar em mim."



O Sol tocou o horizonte

As nuvens vermelhas acalmaram-se

Como que para ver a cena

Os homens regressavam à terra,

Para junto das famílias.

"Maximus?"

O rapaz começou a desaparecer.

Primeiro as mãos, depois o corpo,

Parte a parte, peça a peça.

Começou a perder a cor, a forma, a consistência.

"Talvez eu seja uma ilusão.

Talvez nunca tenha existido na memória

De ninguém. Estou a desaparecer..."

"Maximus, não! Por favor!"

"É tarde demais agora...

Vou regressar a casa,

A onde era feliz

E de onde nunca devia ter saído"



O rapaz desvaneceu-se

Fez-se em ar

Desapareceu

O seu sonho nunca se concretizou

Nunca ficou na memória de ninguém

A parte boa desta história

É que voltou a casa

E foi feliz para toda a eternidade.


Às vezes, somos invisíveis

Mesmo que não o sejamos.

-JM

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