Morte

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A morte vem na calada da noite

E leva-nos sem pedir

Mas nem sempre é assim

Por vezes vem de dia

E persegue-nos pela cidade

Levando aos poucos

Pedaços da alma

Pedaços de quem somos


A minha chegou à muito tempo

E não se vai embora

Leva-me aos poucos

E vai deixando para trás

Um velho corpo cansado

Farto de viver


Um dia perguntei à minha morte

O que queria de mim

E ela riu-se e respondeu

Queria o prazer de sentir

A dor de não viver


E de facto não vivi

E de facto não vivi...


Não senti o amor dos meus pais

Não senti as amizades

Não senti a felicidade que dura e fica

Senti um frio distante

Os olhares secos

Uma dor constante


Nunca tive muitos amigos

E os que fiz saíram com o tempo

Vivo traumatizado

Todo o dia agoniado

Preparado para perder os que ainda tenho

Não consigo descansar

Não consigo parar

De pensar

Que este é o próximo a sair

Que ela é a próxima a partir

Que ficarei sozinho um pouco mais que a eternidade


A ansiedade consome-me

Destrói-me

Brinca com a mente

E diz-me que não sou bom

Que sou chato

Que sou ingrato

Que todos me odeiam

Que sou um empecilho

Um pobre esquecido

Se não me responderem numa hora

É porque me odeiam

Se usarem muitas reticencias

É porque me odeiam

Tudo e todos me odeiam!


As paranoias chegaram depois

E brincam como velhas amigas

As paranoias irracionais

Sobem ao topo do mundo

IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora