A morte vem na calada da noite
E leva-nos sem pedir
Mas nem sempre é assim
Por vezes vem de dia
E persegue-nos pela cidade
Levando aos poucos
Pedaços da alma
Pedaços de quem somos
A minha chegou à muito tempo
E não se vai embora
Leva-me aos poucos
E vai deixando para trás
Um velho corpo cansado
Farto de viver
Um dia perguntei à minha morte
O que queria de mim
E ela riu-se e respondeu
Queria o prazer de sentir
A dor de não viver
E de facto não vivi
E de facto não vivi...
Não senti o amor dos meus pais
Não senti as amizades
Não senti a felicidade que dura e fica
Senti um frio distante
Os olhares secos
Uma dor constante
Nunca tive muitos amigos
E os que fiz saíram com o tempo
Vivo traumatizado
Todo o dia agoniado
Preparado para perder os que ainda tenho
Não consigo descansar
Não consigo parar
De pensar
Que este é o próximo a sair
Que ela é a próxima a partir
Que ficarei sozinho um pouco mais que a eternidade
A ansiedade consome-me
Destrói-me
Brinca com a mente
E diz-me que não sou bom
Que sou chato
Que sou ingrato
Que todos me odeiam
Que sou um empecilho
Um pobre esquecido
Se não me responderem numa hora
É porque me odeiam
Se usarem muitas reticencias
É porque me odeiam
Tudo e todos me odeiam!
As paranoias chegaram depois
E brincam como velhas amigas
As paranoias irracionais
Sobem ao topo do mundo
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III
PoetryO meu terceiro livro de poesia pessoal. Estes são os meus sentimentos que mais ninguém conhece. Espero que goste. Por favor não plagie, use a sua criatividade :)