Quatorze

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Rube,  Adam e Jason com seu cigarro ilegal nos lábios me encaravam silenciosos.
Era para estarmos conversando durante o lanche mas assim como Gunner, eles me encaravam sem falar nada.

Terminei minha maçã e cruzei os braços sobre o peito.

- Eu estou resfriada.  - Menti.

Os três assentiram esperando por mais, continuei ;

- E tive uma conversa emocionante com a minha mãe.

Eles ainda esperavam mais.
Adam foi quem disse primeiro ;

- Você está terrível.

- Devia ter passado um corretivo nisso aí.

-Quer um baseado? - Jason estendeu o cigarro que recebi sem protestos e traguei devolvendo-o em seguida.  Ele acrescentou ; - Você devia ter se maquiado mesmo.

-Minha cara está tão inchada assim? Será que ninguém pode chorar em paz? - Berrei saindo da mesa e deixando-os boquiabertos.

Atravessei o gramado e entrei na classe, que deveria estar vázia mas não estava.

Gunner balançava as pernas, sentado sobre a mesa olhando fixo para mim.
Pareçeu proposital.
Ele ali, sentado me esperando cheio de perguntas .

- Desculpe.  Não sabia que estava ocupada, até mais.

Girei os calcanhares mas ele me segurou a tempo.  Bem pelos ombros.

Respirei fundo sentindo a cabeça girar.

Merda. Merda. Merda.

Eu tinha que falar com ele.
Não dava pra sair correndo feito uma maluca. 

Fechei os olhos inspirando antes de me virar para ele tentando manter a expressão neutra.
Os olhos verdes esperando por alguma coisa.  Uma explicação lógica por eu estar sendo tão evasiva...Mas eu não podia responder a ele. Gunner precisava enxergar a merda toda sozinho.

-Tchau Gunner.

Ele não entendeu.  Não esperei que ele falasse e saí sentindo uma sensação forte e ruim dentro do coração.  Muito ruim. As lágrimas estavam ali outra vez.
Meus olhos inchados ardiam como se tivesse tido contato com ácido. 

          ***

Eu odeio chorar.
Demais. Minha nossa, chorar é uma porra mas naqueles tempos pareçe que eu só sabia fazer isso. Chorando o tempo todo.  No banho, chorando.  Acordando, chorando.  Dormindo, chorando.  Pensando, chorando.

E no momento em questão ; dirigindo e chorando.

Parada no sinal vermelho tentando conter as lágrimas.
Escorriam e eu as limpava sem fazer som de choro.

Ele só podia ser cego.
Ou então fingia não saber que eu sentia algo por ele.

O sinal ficou verde e quando fui acelerar tomei um baita susto.
Um rapaz bateu as mãos no meu capô me impedindo de sair.

Eu meio que gritei porém ele riu.
Então notei que o conheçia, era o Sam.

Ele deu a volta no carro e sem rodeios, entrou sentando no banco do passageiro -eu destravei .

O sorriso de Sam logo desapareçeu.

- Porque você está chorando?

Dei de ombros.

- Sou apaixonada pelo meu professor.

Ele assentiu.

- Você assim é um perigo no trânsito.

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