Acordei cedo. 5 da manhã ou perto disso. Mas não saí do sofá confortável. Apenas continuei fitando o teto cinza.
Eu bebi no dia anterior.
Surtei. Me deixei ficar furiosa como há muito não ficava. Foi libertador e meio constrangedor também.Xinguei excessivamente -consequência do álcool.
Agi irresponsavelmente ao dirigir sem rumo até secar o tanque.- Oi. - Sam disse entrando na sala só de cuecas samba canção vermelha de seda.
- Oi. - Franzi o cenho para as canelas cabeludas dele. - Que coisa , não?
Sam balançou a cabeça enquanto ligava a TV.
-Você ainda está bêbada?
- Não.
- Então o comentário foi maldoso?
- Foi.
- Você é bem cruel. - Disse vendo o noticiário e desligando em seguida - Ainda são sete horas, quer comer alguma coisa?
-Não reçebe muita visita não é? - Perguntei vendo o quanto ele pareçia preocupado com o que dizer.
- Para falar a verdade, não. - Sam sorriu e vi a cara amassada dele. - O que quer comer?
- Nada. - Levantei de uma vez - Preciso ir embora. Droga. Eu acho que vou me atrasar pra aula. - Gemi caindo no sofá novamente. - Foda-se. Não vamos ter nada demais mesmo. Ok. Vou comprar uns pães.
Levantei mas me detive ao ver as sobrancelhas elevadas de Sam e a mão direita nos quadris.
- Que foi Sam?
Ele encolheu os ombros.
- Não te conheço muito mas, sei que está nervosa e chateada então vá lá e compre os pães , com seu dinheiro mesmo porque eu não quero gastar com nada. - Revirei os olhos. - Compra um iogurte também.
-Você é bastante folgado.
- E você problemática. Até já.
Saí do apartamento sorrindo desdenhosa. Sam provavelmente se encaixava na categoria adolescentes normais com toda aquela coisa de descolado sofisticado.
Desci os seis lances de escada e poucos passos após entrei na padaria. O aroma de pão fresco é sempre uma tentação.
Fui atendida pelo Sr. Lincoln que enquanto fazia um pacote de croissants me contou sobre a feira que ocorreria em Hillcrest pela manhã e o quanto a esposa dele estava animada para fazer compras mas ele odiava tudo porque ela nunca comprava coisas realmente úteis.
Sorri assentindo , recebi os pães, comprei duas latas de refrigerante e retornei pro apartamento.
Sam estava no pequeno balcão da minúscula cozinha dele -minúscula porém suficiente - com o queixo apoiado nas mãos, ainda de samba canção exibindo seu corpo magro.
- O Sr. Lincoln é uma graça. - Disse eu largando as sacolas sobre o balcão e empurrando uma latinha para ele - A vizinhança é boa?
Sam inclinou a cabeça abrindo a latinha dele.
-Não muito. Depende das pessoas. As mais velhas ; bacanas. Os jovens ; estúpidos.
Beberiquei o refrigerante pensando em como ele chegou a tal conclusão.
- Você transa muito com as meninas do bairro? - Perguntei sem receio. Ele nunca deixou transparecer intimidação com relação a sexo então me senti livre a perguntar.
Sam deu de ombros.
- Não mais que um cara normal.
Cerrei os olhos desconfiada.
- Não acredito em você.
Sam riu com um delicado croissant em mãos.
-Digamos que se eu quiser, não faltará parceiras.
- Hum...Agora acredito. - Experimentei o pão e continuei ; - Hillcrest é um bom bairro?
- Não está pensando em se mudar pra cá está? - Brincou ele - Lydia, você anda questionando demais.
- Engano seu, eu mal te faço perguntas. Nem sei quantos anos tem, se faz faculdade, se trabalha além de tocar ou se tem uma garota na parada...?
-Tenho 20, fiz há alguns dias. Nada de faculdade, por opção minha. E tocar na StikeOver já tem rendido mensalmente até mais que qualquer bom trabalho.
-Sei o que quer dizer, quando fui recontratar vocês tive a surpresa de ter que dobrar o cachê para que desmarcassem em qualquer outra boate no Gaslamp Quarter. Renderam bem, aliás, rendem bem. Muita gente aparece pra assistir vocês .
Sam assentiu pensativo terminando o primeiro croissant.
- As pessoas costumam gostar da minha música.
-E você costuma ser tão modesto sempre?
Deu de ombros sorrindo.
-Estou apenas dizendo a verdade.
Muito convencido.
Terminamos o café em silêncio e ficamos cerca de cinco minutos encarando a bagunça no balcão.- O quê vamos fazer? - Perguntei - Já matei aula hoje Sam , faça valer a pena.
Ele torceu os lábios.
-Tenho grandes compromissos com a banda hoje. - Murmurou fazendo minha expressão ansiosa se dissolver - Gostaria de poder desmarcar mas é importante, temos que tocar pra uns caras de Manhattan.
- Que irado - Sorri - Caras de Manhattan, isso me faz lembrar de quando uns empresários de Seattle vinheram ver o Theo.
- E o que aconteçeu?
- A banda era bem inexperiente e acabaram ficando nervosos demais. Theo foi o único que arrasou, apenas ele foi chamado.
- E?
- Ele não aceitou ir.
- Por você?
- Pela banda. Haviam feito um trato ; todos ou nenhum.
- Você não ficou incomodada com isso?
Dei de ombros.
- Não muito. - Recordo bem daquela época e do quanto eu torcia pro Theo conseguir atingir os objetivos dele, pouco depois ele me traiu lindamente. - Nem cheguei a comentar com ele.
- Que tipo de namorada era você?
- O tipo que quer o bem para o namorado.
- Você o amava mesmo?
-Acho que sim.
- Então deveria ter se importado com o fato de que ele pensou primeiro na banda, não em você.
Entendia o ponto de Sam mas cresci abrindo mão de coisas que amei.
- Eu só queria o bem dele.
Sam não pareçeu acreditar.
- Você perdeu seu pai , certo? -Perguntou ele.
-Certo.
- E cuidou da sua mãe depressiva?
- Exatamente.
-E trabalha?
- É.
- E se fode sempre no amor?
- Uhum, acabou de me derrubar então qual é sua grande conclusão?
Sam inclinou a cabeça para o lado me olhando sério.
- Você é a pessoa mais sem sorte que eu conheço.
Sorri .
Ele provavelmente estava certo mas eu não podia negar que naqueles últimos tempos minha sorte tinha melhorado bastante. Talvez a vida estivesse finalmente vindo até mim.
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Sem Título
RomanceLydia Watson é apenas mais uma garota comum, talvez com alguns problemas a mais que a maioria das pessoas em geral mas de todo, tem uma vida regular. Sem o pai e sozinha guiando a mãe depressiva ela se vê diante de muitas situações difíceis ... T...