Final

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Lá estávamos nós.
Eu e minha mãe.  E onde? É inacreditável mas de um jeito irônico, não é. 

Estávamos em Nova York.  Juntas.  Eu finalmente consegui convençe-la a vir ao show,  o último do ano antes da turnê deles.

Conseguimos os ingressos vipes para o festival mas ela só aceitou assistir ao show dele, minha mãe nunca foi fã de rock e naquelws últimos 4 anos juro que tentei fazê-la aprender pelo menos uma letra de algum clássico mas não funcionou, a vovó tem razão quando a chama de cabeça dura.

- Tanta gente num lugar só. - Ela disse balançando a cabeça sacudindo os cachos louros fazendo a luz do pôr do sol iluminar seu rosto bronzeado. Logo após minha formatura a levei de carro até praia e ela adorou o passeio - Me sinto claustrofóbica.

Ignorei a bobagem. 
Estávamos no pé do palco.  A grama fria sob nós.  Todas as pessoas tranquilas após o show de uma banda indie que muito me lembrou o Mumford e Suns.

Quinto e último dia de apresentações, nada como eles para fazer o show de 3 horas que encerraria o festival.

- George não vai conseguir a tempo pro dia dos namorados.  - Disse mamãe finalmente parando de reclamar, do show - Que namorado passa o dia dos namorados sem a namorada? 

- Aconteçe mãe e falando nisso, o show já vai começar e a Rube não...

-Já estou aqui. Já estou aqui. - Ela apareçeu arrastando a pequena Louise pela mão.  - Essa menina dá trabalho.

- Mamãe! - Advertiu a minúscula e linda Louise.  5 anos e pouca altura, Rube surtou quando o médico disse que a genética da garota vinha do pai , ela seria baixinha.  - Eu só pedi isso - Louise exibiu os aneis coloridos de bala na mão livre - Não é trabalho.

Rube riu .

- Que seja pestinha. - Ela a levantou sentando Louise nos ombros - Seu pai vai começar a cantar,  quero que grite muito.

- Vou gritar! - Louise sorriu exibindo os pequenos dentes.  Ela e a mãe vestiam a mesma roupa ; vestido com estampa da logotipo da StrikeOver. 

Mamãe riu da empolgação das duas e voltei a atenção pro palco onde a banda já se posicionava.

O público esperando caladinhos a apresentação.
Gary se posicionou no vocal e acenou para a mulher e filha.

- Papai! Papai ! - Gritou Louise provocando algumas exclamações atrás de nós.

Os fãs dele não notaram a simpática esposa Rube e a mini Gary bem de camarote para o show, elas conseguiram vir pela primeira vez sem causar uma comoção enorme - o dia hoje é deles não delas.

Sam sorriu agarrando o microfone.  Ainda é estranho vê-lo nos vocais.  Foi difícil acostumar com o guitarrista virando vocalista mas enfim, foi o que os fizeram estourar.

- Boa tarde Nova York! - Gritou ele e todos levantaram gritando eufóricos em resposta - Vamos parar de enrolação e ir direto para o show.  Sou péssimo em palavras mas antes, não posso deixar de dar meu obrigada a Susannah Watson ali na platéia - Todos bateram palmas e tentavam olhar para onde Sam apontava, para minha mãe ruborizada feito tomate - Hoje é a primeira vez dela num show nela então; Obrigada por vir! - O baterista começou e Sam sorriu, olhando para mim - Essa é para você amor.

Mais exclamações.
Eu estava fadada a isso.  Namorado roqueiro.  Foi algo provável e igualmente improvável, assim como meu marido Sam que me levou para conhecer toda a sua família em todos os verões naqueles últimos 4 anos . No começo estávamos fazendo as viagens como fois amigos, fomos primeiro no Arozina onde nos beijamos e passamos alguns dias tensos sem saber exatamente o que fazer.  Quando voltei para a faculdade ele me ligou então tudo voltou ao normal, e então quando ele se mudou para NY começamos a planejar a viagem para a Carolina do Norte e em uma noite fria no apartamento dele acabamos indo além do beijo foi aí que ele me pediu em namoro e que eu poderia dizer se já estava me apaixonando por ele? Eu aceitei e a partir dali foi como se eu começasse a viver de verdade.  Do jeito certo.  Mas ainda do jeito anormal . Houveram novos problemas.  Novas soluções.  Mas é o certo escrito por linhas tortas não é mesmo? E no final , ele e eu ainda estamos aqui.

-Eu tive que ser sincero - Ele começou a cantar - Disse pra ela que ela é,  a garota mais sem sorte do mundo todo.  Mas resolvi esse problema.  Ela não poderia ser azarada quando ela era a minha sorte . Ela é minha sorte. Minha sorte.

- Minha sorte. - Sibilei em voz alta e o sorriso de Sam se esticou.
Quando você ama acha que vai sentir a mesma coisao tempo inteiro. É um tremendo engano.  Tem que quando vejo Sam, depois de uma longa turnê,  e sinto uma chama queimando meus órgãos internos de uma vez só fazendo-me implorar por ele, por Sam,  dentro de mim, junto de mim.

Tem os dias em que quando eu o vejo sinto todo o acolhimento de uma casa quente numa peregrinação na neve.

Tem os dias em que quero partir a cabeça dele ao meio por autografado o decote de alguma mulher por aí.

Tem os dias em que sem Sam eu nem quero sair da cama.

Tem os dias em que preciso que ele me diga o quanto me ama e que nunca vai me deixar partir.

Tem os dias em que , caramba, só quero abraça-lo depois de horas dentro daquele studio de gravação. 

Tem tantos outros sentimentos dentro do amor. Outras tantas sensações.  Me sinto dentro de um liquidificador todo santo dia.
Mas nunca, nunca esqueço de agradecer por todos esses dias. Não me canso de agradecer pela minha mãe estar curada.  
Por Rube. 
Por Louise. 
Por mim.
Por Sam, minha sorte e meu amor.

E não me canso de agradecer por Gunner,por não ter pulado do terraço, por não me iludir e  por ter me deixado partir tanto tempo atrás.

E principalmente, agradeço pelo meu pai por ter me dado de presente de aniversário uma maturidade que de outra forma eu não teria conseguido.  Rezo por ele todos os dias. Agradeço pela minha vida todos os dias e ,

     Agradeço pela minha falta de sorte mais gentil de todas. 

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