| 15 | Desfoco |

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Minha entrevista para o emprego é hoje à tarde, dois dias antes do natal.

Não comi quase nada durante a semana, sempre afastando a comida quando eu pensava estar com fome. Simplesmente não descia pela minha garganta. Me comportei como se nada tivesse acontecido nesse curto período sem Sam, mas meu pensamento, rebelde como sempre, não seguiu o mesmo caminho.

Não faz nem uma semana que me despedi dele e já sinto falta de seu sorriso, de seus braços ao meu redor, da proteção que ele me causava... De tudo. Eu não consigo descrever esse sentimento, mas sei que sem ele eu sou uma pessoa infeliz e incompleta. Seria amor?

Balanço a cabeça, suspirando. Tento me concentrar na entrevista.

Eu nunca, pelo menos para mim, achei sentido em fazer isso, já que nossas notas deveriam ser o bastante para já trabalhar. Segundo a lógica da universidade, entretanto, a sua boa classificação nem sempre condiz com sua personalidade no mercado de trabalho, razão mais que suficiente para ser entrevistado.

— Boa sorte! — cantarola Mandy, sem desgrudar os olhos da série. — Hum... Você está cheiroso. É bem capaz de conseguir o cargo de chefe em uma única vez. Ou pode ser que acabe conquistando o próprio chefe...

Sorrio, pegando o smartphone na mesa e uns papéis necessários, coisas como cópia de identidade e certidão de nascimento, nota de confirmação de aprovação da universidade e curriculum — este último não necessariamente obrigatório.

— Valeu. Te vejo mais tarde — me despeço, saindo de casa.

Tony me ofereceu carona para me levar onde eu iria, algo que certamente não dispensei por não saber onde ficava o lugar da entrevista. A entrevista dele seria amanhã, na sexta, então ele queria saber como seriam as perguntas para já ficar preparado.

A viagem foi boa e distraída, nada forçado ou tedioso. É ótimo conversar com Tony. É uma pena não podermos fazer mais isso com a mesma frequência esses dias.

— Então tá — diz ele ao estacionar o carro em frente ao prédio. — Tente decorar o questionário e me passe depois.

— Pode deixar — dou um risada, abraçando-o em seguida. A força dele é tão boa que me deixa vazio ao comparar com a semelhança de Sam. — Obrigado, Tony.

— Nada. Me ligue quando acabar. E boa sorte!

Assinto e o agradeço novamente, saindo do carro. Ele segue a estrada, enquanto eu visualizo o imenso prédio à minha frente, todo espelhado. Ele é azulado, mas a cor escurece quando eu me aproximo. No topo aparece o nome MM'S metálico e grande. Não consigo traduzir as iniciais.

As bordas do prédio indicam circunferência, nada retangular. A altura deve ultrapassar vinte andares, mas nem me dou ao trabalho de contar as janelas para confirmar. Faço um chiado, admirando o lindo prédio.

Continuo andando. Ajeito a camisa de frio nos antebraços, deixando os ombros à mostra. Sei o quão gelado são esses prédios, ainda mais quando transparecem ser uma nota, então trazer minha roupa de frio comigo foi a melhor decisão que tomei antes de sair de casa.

Vejo nos papéis qual será meu andar antes de entrar.

A temperatura é fria no interior do prédio, mas agradável. Na parte debaixo, há algumas pessoas em bancadas atendendo outras, todas pecavelmente lindas — tanto em estilo quanto em beleza própria. Uma mulher entre elas sorri para mim, e eu retribuo gentilmente.

Vou ao elevador mais próximo e aperto o 17° andar. Revejo as xerox dos meus documentos enquanto o elevador desce, vendo se não esqueci de nada - detalhe que sempre acontece com frequência comigo.

SENSUALMENTE PROIBIDOOnde histórias criam vida. Descubra agora