8 - 72 horas

1.3K 199 101
                                    


— Você não vai atender isso? — A voz de Brenda me chama e eu olho para o visor do telefone, jogado em cima de meu travesseiro. A foto de Brandon aparece na tela, seu sorriso alinhado e brilhoso, mas não tenho vontade de saber o que quer. Enfio o telefone embaixo dos lençóis e suspiro, revirando os olhos com impaciência.

Francesca e os pais de Brandon foram embora há algumas horas. Só que, no tempo em que eles estavam em solo nova-iorquino, muita coisa aconteceu. Ah, muita coisa! É difícil até recapitular os dias e pensar que só se passaram setenta e duas horas. Porque, na minha cabeça, se foram 384 horas da minha vida ou mais. Começou na noite em que faltou energia e continuou na manhã seguinte.

Porque as manhãs sempre tornam as coisas mais claras do que elas pareceram na escuridão da noite.

Acordei precisamente às sete e quarenta e nove da manhã. Estava fazendo um frio congelante e eu quase não sentia a ponta dos dedos, mas mesmo assim me arrastei para fora do sofá e pisei no tapete felpudo da sala, que ampararam meus pés petrificados. Foi nesse momento, quando eu tive certeza de que todo mundo estava dormindo devido à hora e ao frio, que o encanto se quebrou e meu pensamento foi jogado no lixo. Um cochicho saía do quarto de hóspedes. Era isso: nada mais que um sussurro, como alguém contando um segredo sujo para outra pessoa que, em hipótese alguma poderia reproduzir o que ali estava sendo dito. Cocei os olhos banhados de sono e cansaço e me espreguicei sem ousar desgrudar os pés do tapete quente e macio.

E então ouvi outro trincar de vidros imaginário. Olhei ao redor e Brandon não estava no sofá, onde ele pegara no sono ao meu lado. Raciocinando lentamente, só depois de alguns segundos parada como uma idiota no meio da sala dos meus amigos que me ocorreu: Brandon estava no quarto de hóspedes com Francesca!

Caminhei lentamente, ainda pisando na ponta dos pés e sentindo um arrependimento imediato assim que toquei os dedos no chão gelado. Estiquei o pescoço pelo corredor, temendo ser vista ou ouvida, e espiei dentro do quarto de hóspedes, que, como no meu próprio apartamento, ficava por trás da primeira porta do corredor. Quando tive certeza que era Brandon e Francesca lá, suspirei pesadamente e congelei ao ouvir passos vindo na direção da porta – na minha direção. Corri, agora sem me importar com o chão gelado, e me enfiei dentro do banhei.

— Ellen? É você aí? — Batidas ritmadas esmurraram a porta de madeira. Me encolhi inteira ao ouvir a voz de Brandon do outro lado.

Enfiei a cabeça para fora da porta e abracei meu corpo, sentindo frio.

— Oi. — Sorri, mostrando os dentes. — Quer... entrar?

Ele me olhou estranho – ou até mesmo engraçado – e negou.

— Não. — Brandon franziu o cenho e coçou a testa com dois dedos, uma expressão que eu conhecia como preocupação. — Estou cuidando de Francesca. — Ele explicou, mas para mim não havia muita explicação na frase.

— Não sabia que ela precisava de cuidados. — Virei-me de costas e fingi checar meu reflexo no espelho redondo.

— É... — Brandon agora passou a mão para a nuca.

— O que foi que houve? — O encarei, esquecendo a encenação no espelho.

— Você não notou? — Ele arqueou as sobrancelhas e esperou uma resposta. Continuei o encarando. — De madrugada?

— Hã, não. Eu estava muito ocupada dormindo pesadamente para notar qualquer coisa. O que aconteceu na madrugada?

Brandon olhou para os dois lados do corredor, esfregou os braços com as mãos, aquecendo-os, imagino, e entrou no banheiro, fechando a porta atrás de si. Um quadrado minúsculo se tornou sufocante com nós dois dentro. Parece que dividir o banheiro para uma conversa não é tão bom quanto para outras coisas, onde a respiração não é exatamente o foco. Brandon suspirou.

As Listas de Ex-namorados de EllenOnde histórias criam vida. Descubra agora