Mas eu não consigo saber quando posso fazer isso, porque tudo está acontecendo. Um tsunami atingiu a minha praia sem aviso prévio. Estou no meio do caos e não há nada o que fazer a não ser nadar junto com a corrente, porque contra ela está parecendo impossível. É água demais para meus pulmões cansados.
Saio da piscina respirando com dificuldade. Passei tempo demais debaixo d'água, tentando clarear os pensamentos, ficar em silêncio, esquecer o mundo aqui fora. Minha respiração volta ao normal quando inalo profundamente e consigo olhar ao redor. O clube está praticamente vazio, só mais duas pessoas nadam hoje. E é compreensível: o tempo está extremamente frio; não congelante como alguns dias atrás, mas com certeza nada apto para natação. Só que eu estava precisando. Tentei correr esta manhã, mas haviam pessoas demais no Central Park – turistas malucos por Nova Iorque no começo do ano – então a minha única saída foi a piscina.
Não me encontrei com Andy ontem. Acabei desistindo de sair de casa naquela hora e o liguei explicando o que havia acontecido. Contar a cena foi tão complicado quanto vivencia-la. Enquanto eu descrevia os fatos, uma crise de riso me atingiu, mas não divertida. Foram risadas nervosas e trêmulas. Depois disso, passei a noite no quarto, rolando de um lado para o outro na cama, me sentindo uma adolescente com o coração despedaçado.
Quando saio do vestiário, já vestida propriamente para sair na rua, agasalhada e com as bochechas e boca vermelhas, checo o celular. Não há nenhuma mensagem nova, nenhuma ligação perdida e poucas notificações em redes sociais, as quais decido ignorar. A única coisa que verifico é um lembrete, criado um mês atrás para me lembrar de encontrar com Brandon em seu apartamento e comprar itens festivos para o aniversário surpresa de Brenda. Já passa do meio-dia e ele não me telefonou sobre o lembrete – que também está em seu telefone, então apago a notificação e deixo para lá, voltando a caminhar nas ruas de Nova Iorque aos 59ºF*, sentindo o frio gelado no rosto e abraçando meu próprio corpo em busca de aquecimento.
*
— Onde você estava?! — Andy sai de seu apartamento no mesmo minuto em que enfio a chave na fechadura do meu apartamento, como se já soubesse que eu estava ali. Ele parece espantado, então conclui: — Você está um pouco acabada.
— Não estou acabada. Estava nadando. — Esclareço.
— Com esse tempo?! — Andy fecha a porta de seu apartamento e deixa claro que ficará na minha cola. — Está maluca?
— Não. — Sorrio sem vontade — Só um pouco desesperada.
— Desesperada pelo o quê? Pneumonia?
O apartamento está quente e confortável. Tiro os casacos e os jogo no sofá, correndo para preparar uma xícara de café na mesma hora. Sinto a necessidade de cafeína como se tivesse há dias sem uma gota.
— Não, não pneumonia. Eu queria pensar, só isso. Todos os lugares pareciam muito barulhentos, e debaixo d'água não ouço nada, então foi perfeito.
— E você chegou a que conclusão? — Ele quer saber. Andy se senta no banco de madeira do outro lado do balcão.
— De que eu não posso fazer nada. — Olho ao redor e procuro rastros de minha colega de quarto. — Onde está Brenda? Você a viu por aí?
— Acho que teve uma entrevista de emprego e deixou o bebê na casa de alguma babá adolescente.
Assinto, sem pensar muito em sua resposta. Estou divagando sobre os dois últimos dias. Algo que começou tão bem não pode terminar ou ser interrompido por algum tempo por problemas tão insignificantes. Estou tendo problemas em organizar os pensamentos e os fatos; se estivesse pensando com clareza, com certeza conseguiria resolver o que quer que esteja acontecendo, mas não consigo colocar os acontecimentos em ordem.
Eu errei ao não mencionar para Brandon o encontro com Max no estúdio, e também sobre não ter dito ao meu ex-namorado que eu não podia vê-lo, ou que não seria conveniente, pelo menos. Mas não tenho culpa se em minha cabeça tudo não passou de uma besteira. Estou tão à frente de Max que não tive nenhum pensamento tolo quando se tratou dele.
O que está me aborrecendo é o fato de Brandon, depois de tanto tempo, ainda não ter percebido que eu não faria uma coisa desse tipo; eu não o trairia dessa maneira. Não trairia ninguém dessa forma – muito menos com Max.
E o que o está aborrecendo é algo infeliz, uma conversa sem fim; uma mensagem sem explicação e um encontro que não foi marcado hora alguma, mas ele acha que sim. Lembro-me que Max esteve aqui na noite passada, o que piorou tudo, e gemo, remoendo a cena.
— O quê? — Andy se espanta com minha reação repentina. Tenho certeza que ele estava falando alguma coisa. — Você não concorda? Ou estou enchendo seu saco? Desculpe, Ellen, mas eu precisava falar.
— Enchendo o saco? Não é nada com você, Andy. Na verdade, eu não estava nem ouvindo o que você dizia. Desculpe... — Lamento.
— E o que você estava pensando? Ah, Ellen. Estou tão agoniado em ter que lhe ver assim... e não poder fazer nada.
— Você tem seus próprios problemas agora... não vale a pena pensar em mim. O que estava dizendo?
— Estava pedindo sua opinião. Acho que vou terminar tudo com Malcolm de uma vez por todas. Não quero mais ter que sofrer por algo que não sei. A dúvida é o que torna tudo pior, e se eu não confio nele... não posso continuar.
Minha mente gira quando penso em Malcolm e Andy separados e em como o mundo está realmente de cabeça para baixo.
Não respondo de pronto, apenas penso sobre tudo isso. Mais uma fase pode estar se iniciando em nossas vidas, na história de nossa amizade, como se a cada ano algo mudasse tragicamente. Só o que resta é nossa união, nós: Andy e eu.
O abraço, ainda sem falar nada, e ambos suspiramos pesadamente, deixando, nesse momento, qualquer outra lembrança de lado e focando no aqui e agora. E, o que quer que aconteça daqui em diante – com términos ou não – temos um ao outro.
E só isso importa.
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*15ºCelsius.
ANDY <3 <3 <3
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As Listas de Ex-namorados de Ellen
Chick-LitSEQUÊNCIA DE "AS LISTAS DE ELLEN" ***Não é necessário a leitura do primeiro para ler este, mas spoilers não serão evitados.