Saindo do estúdio, já passam das três da tarde e Andy me pergunta se não quero ir até um pub há umas quadras dali, tentar não pensar em seu namorado fazendo as pazes com o ex ridiculamente exibido enquanto bebe algumas doses de tequila.
— Você não acha que é cedo demais para beber? Você é fraco para isso, vai acabar inconsciente antes das oito da noite. — Brinco, mesmo que o que digo seja 100% verdade.
— Ei, você não está dividindo um apartamento com Brenda Willick? Já deveria ter aprendido que não existe "cedo demais" para ir à um bar. — Ele para e reflete um pouco. — Na verdade, nunca é "cedo demais" para nada, segundo ela.
— É, eu sei. Mas, você se surpreenderia com o tanto que Brenda mudou no último ano. — Me pego pensando sobre como era minha amiga um ano e meio atrás, e como ela está agora. Não foram mudanças drásticas, daquelas em que nos perguntamos se a pessoa foi trocada por outra idêntica ou algo assim. Foram mudanças sutis, que só quem a conhece verdadeiramente percebe.
Por exemplo, Brenda está bebendo 50% menos do que, digamos, dois anos atrás, quando nem imaginava que seria mãe. Ela está um pouco mais responsável com seus horários e está mais disposta a conseguir um futuro bom para ela e para o ser humano que agora depende totalmente de seu comprometimento com a vida e um emprego novo. Ela está mesmo disposta a conseguir o que for para preencher o vazio de não ter a vida perfeita que arquitetava mentalmente, quando era adolescente. São pequenas coisas que notamos no dia-a-dia que a fazem mais real, mais responsável e com certeza, mais digna de ter um bebê adorável em seus cuidados.
Eu, sinceramente, me peguei pensando uma ou duas vezes – talvez mais – enquanto Brenda estava grávida, em como ela lidaria com a maternidade. Eu achava que ela seria um pouquinho desnaturada, relaxada, etecetera. Acontece que eu estava errada – e fico feliz por isso. Brenda está se saindo muito bem como mãe de primeira viagem, solteira e morando no apartamento da amiga que, na verdade, ainda é do ex-namorado dessa tal amiga. Parece que se tornar mãe realmente muda as pessoas.
— Você vem ou não? — Andy pergunta, referindo-se ao pub. Estamos em frente à um local todo fechado, com janelas escuras e uma placa em neon que diz "PUB", apenas.
Murcho o rosto numa careta e percebo lentamente enquanto o rosto de Andy também se contorce, numa expressão que não sei se identifico como triste ou emburrado.
— Ah, Andy. Por favor... vamos para casa. Prometo fazer você se sentir melhor com algo que está um pouco relacionado a álcool.
•••••
— Okay, talvez trufa de vinho não tenha sido uma boa ideia, mas eu não disse que era nada muito forte, disse?
— Você disse que tinha relação com álcool.
— Ah, Andy! Você não queria beber. Só estava sem propósito, achando a vida um saco por causa de um... — Começo um discurso certinho, mas sou interrompida por um melhor amigo indignado com a falta de bebidas:
— Ei, não diga que não tenho propósitos na vida! Eu quero começar a beber às três da tarde e dormir até meio-dia!
Eu rio, divertida com o senso de humor de Andy.
— Por favor? Volte a ser o Andy amoroso e fã de filmes comigo? Comprei um box com a coleção do Tarantino. Bastante sangue. Que tal?
*
— Nada melhor do que uma maratona de filmes violentos para me fazer sentir melhor em relação a tudo. — Andy comenta.
— Também meio que nos faz querer assassinar alguém, não faz? — Indago.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Listas de Ex-namorados de Ellen
Literatura KobiecaSEQUÊNCIA DE "AS LISTAS DE ELLEN" ***Não é necessário a leitura do primeiro para ler este, mas spoilers não serão evitados.