— E Deus disse: haja luz! — Andy repete, pela quarta vez, de olhos fechados, com os braços esticados e as mãos abertas, apontando para o fogo da lareira.
— Você está tentando fazer alguma magia? — Pergunta Brenda, segurando o bebê Arthur que agora está com os olhos arregalados olhando todos ao redor, tentando entender o que aconteceu para que estejamos todos só à luz de uma lareira, e provavelmente, se perguntando na língua dos bebês o porquê de seu "tio" estar tentando usar de algo impossível: mágica. Malcolm está ao lado do namorado, engolindo um sorriso.
— Deveria falar em latim, ou algo assim, então. — Digo, contendo um riso. Andy respira fundo e fala um pouco mais alto:
— E Deus disse: haja luz!
— Em que dia? — Questiono.
— O quê? — Ele abre os olhos, desconsertado. — Como assim, em que dia?
— Deus descansou no sétimo, certo? — Começo a explicação sem saber muito bem do que estou falando, só para zombar de Andy. Ele se mantém impassível, a expressão dura. Nunca o vi tão cínico. — Ele deve ter feito uma coisa em cada dia.
— Não, Ellen. Ele só disse: Haja luz. No primeiro dia. Pense bem... — Andy entra na minha onda e começa a divagar sobre o que Deus disse ou não disse, e em que dia. — Deve ter sido, pois se não... Ele teria ficado sem luz por uns dias, e isso não é bom.
— Mas, para ele saber que quer luz, tem que ficar sem luz. — Aponto.
— Vocês estão falando sério? — Malcolm pergunta, agora com o cenho franzido. Uma batida na porta chama nossa atenção e Brandon entra com Francesca ao seu lado.
— Estava falando com tia Morgana. Ela estava preocupada. — Ele se explica sem que ninguém pergunte, senta-se ao meu lado e sorri ingênuo. — Do que estão falando?
— Da criação da Terra. — Andy joga, rapidamente. Sorrio para ele e volto o sorriso para Brandon, que olha no rosto de cada um na roda, inclusive de Arthur, que está encantado pelo fogo. Seus olhinhos dourados brilham mais ainda com a iluminação.
— Criação da Terra? — Pergunta ele num sorriso. Ele quer rir, mas não sabe se pode, pois ninguém mais está com ar de riso. — Sério?
— E Deus disse: haja luz! — Andy volta a se concentrar, de olhos fechados, e eu finalmente mostro os dentes, balançando a cabeça em negação, mostrando a Brandon que é permitido gargalhar. Ele torce o rosto numa careta e, para minha surpresa, fecha os olhos e se junta a Andy nos gestos.
Brandon murmura alguma coisa em uma língua inventada – com absoluta certeza — e todo mundo o encara.
— Bran? — Francesca pergunta, cutucando seu braço.
— Não toque no mestre. — Ele diz, sério, mas quando me olha está com um raio de sorriso brotando no rosto, sem mostrar os dentes, só as bochechas levantadas. Volta a fechar os olhos e sussurrar coisas sem sentido. Eu abaixo a cabeça e suspiro, pensando pela primeira vez que grupo de amigos tenho. Até num momento de baixo astral como um apagão e uma nevasca, ninguém se leva à sério. Sacudo os pensamentos acerca de Francesca que percorreram meus pensamentos poucos minutos atrás e me permito esquecer ciúmes — ou o que quer que tenha sido — e apenas aproveitar a brincadeira. Enquanto Brandon "invoca" a luz, ouço a voz de Brenda tentando imitar os sons, e ao levantar a cabeça a vejo imitando o gesto, também. Assim faz Andy, e em seguida Malcolm. Francesca, eu e Arthur somos os únicos seres aparentemente normais e não mágicos do lugar, mas logo me entrego e, sem conseguir conter um ronco de sorriso, sigo os passos dos outros.
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As Listas de Ex-namorados de Ellen
Chick-LitSEQUÊNCIA DE "AS LISTAS DE ELLEN" ***Não é necessário a leitura do primeiro para ler este, mas spoilers não serão evitados.