YOO YOUNGJAE
Eu caí. E minha queda parecia não ter mais fim desde que havia começado a cair.
À minha volta, apenas a escuridão e rápidos flashes que poderiam cegar. Onde, exatamente, eu estava?
Arrisquei olhar para baixo e tive uma forte vertigem com a altura.
Droga, vou morrer!
O contato do meu corpo com o chão, ou o que quer que esteja abaixo de mim, me destroçará. Maldita hora em que fui defender a Terra e ir contra o povo de Saturno. Bosta, merda, estrume!
Nós e os humanos somos bem parecidos. Tirando o fato de que somos mais fortes e... Bem... Mais inteligentes, digamos assim. Isso é ensinado em nossas escolas. Tal como o ódio gratuito contra eles, coisa que sempre achei desnecessária. Por isso estou nessa situação desconcertante: caindo no além, tendo como destino o próprio planeta Terra.
Eu, Yoo Youngjae, o príncipe de Saturno, sempre preguei o amor e a paz, ato que nunca foi bem visto por minha família querida, que insiste em guerrear com qualquer meteoro que se aproxime demais de nossa órbita. Os habitantes do sexto planeta não são nada amigáveis, ainda menos quando contrariados. E eu fui o imbecil que os contrariou e agora estou pagando pelo meu "grande" senso de justiça.
Parece idiota? Talvez seja mesmo. Mas convenhamos: atacar a Terra só porque alguns humanos enviaram uma sonda para os anéis de Saturno foi um motivo bem babaca. Escravizá-los foi uma ideia ainda pior. O que faríamos com esses seres? Um par de humanos zanzando por nossas ruas e vilas não traria benefícios, apenas gastos. Meu pai, o grandioso rei, e meu tio, o aclamado conselheiro, não conseguiam pensar nisso? Ugh, como é frustrante ser o único ser pensante daquele planeta infeliz.
— PAI! Essa brincadeira não tem mais graça. — Berrei para o vazio, tentando convencer a mim mesmo de que aquilo não estava acontecendo. Longos segundos de silêncio e uma queda infinita. É, ele não vai salvar seu filho amado.
...
O que me deixa mais aflito é não saber exatamente onde cairei. Pode ser nos grandes desertos do Saara ou entre montanhas geladas da Antártida. No meio de uma cidade movimentada ou em uma fazenda. Qualquer lugar!
Em um rompante, tentei pegar algo no ar. Talvez um galho, uma parede, um pássaro ou outro que caía assim como eu.
Não! Não havia nada e mal consegui levantar os braços direito. O vento estava forte demais e a gravidade estava contra mim.
Fechei os olhos, desistindo de lutar.
...
Muitos minutos se passaram e eu não via a hora de a tensão passar. A demora estava judiando de mim.
Arrisquei abrir um único olho, finalmente vendo algo distinguível. Toda a escuridão se transformara em uma vista de arrancar o fôlego. O preto virou laranja e vermelho, clássico de um belo pôr do sol. A grande estrela de fogo desaparecia atrás de uma montanha verde. Mais abaixo, alguns pontos se mexiam, uns rápidos e outros lentos, ao redor de uma bola disforme preta, quase azul. Por um momento, esqueci que estava em queda livre e observei as cores vívidas preencherem meus olhos, causando um prazer indescritível.
A velocidade foi aumentando pouco a pouco. E o que estava distante, agora parecia próximo demais. Fui tirado de meu estupor quando algo duro bateu em meu rosto, arranhando minha bochecha esquerda.
Não, eu sou muito jovem. Eu não mereço isso! Tenho longos anos saudáveis pela frente.
Meu corpo, antes, caía como uma pena flutuando na escuridão e naquele momento estava mais para uma pedra afundando. Os pontos que se movimentavam foram ficando mais próximos e consegui distinguir que eram pessoas. Humanos! Seres vivos e pensantes (não 100% do tempo)!
— EI! EI! EI! — Comecei a berrar, sentindo a horrível sensação do vento ressecando minha boca e olhos. Fechei-a imediatamente, percebendo que não surtiria efeito. Ninguém olhava para mim.
Levantei minha cabeça com certa dificuldade e vi várias construções gigantes e brilhantes à frente. Eram de variadas cores, mas todas brilhavam intensamente. Meus pés estavam cada vez mais próximos da bola azul e alguns dos pontos – que agora eu sabia serem humanos – apontavam para cima e balançavam os braços. Aquilo não me faria parar!!!
— É ÁGUA... — Gritei mais uma vez, ao constatar o óbvio. Era azul, grande e algumas aves circulavam ali. Só podia ser a porra de um lago!
Foi questão de segundos até que meus pés tocassem a superfície gelada e um grito esganiçado saísse de minha garganta. Logo, eu todo estava mergulhado naquela dádiva molhada e fria da natureza. Um forte estrondo soou dentro de minha cabeça e perdi os sentidos por um momento.
Assim como caí, subi. Meu corpo boiou e meus dentes começaram a bater involuntariamente. Minhas pernas e braços se mexiam de modo desesperado e estúpido, tentando segurar algo. Sons altos rasgavam meus ouvidos e eu não conseguia me concentrar em nada. Apertei uma coisa macia e miúda, e nela coloquei toda a minha força, temendo me afogar. Senti minhas unhas cravarem no macio e uma sensação de medo tomou conta de mim.
— Está frio. — Susurrei com os lábios trêmulos, me aproximando do "negócio" macio e protetor. Senti-me ser carregado até a superfície dura da terra e tossi como um retardado, tentando trazer mais ar para meus pulmões doloridos. Inspirei. Uma, duas, três vezes. Não estava surtindo efeito, parecia que eu continuava embaixo d'água.
— Você está bem? — Tiveram a coragem de perguntar, cutucando minha testa. Não abri os olhos e nem me mexi. Era mais confortável ficar parado, esperando o frio me consumir e atingir meu coração. Muito digno.
— OH, MEU DEUS! O socorro está chegando. — Alguém gritou à distância, mas eu já estava perdendo a consciência. Minha boca formigou e meu nariz ardeu, perdi a força do corpo e o contato macio entre meus dedos sumiu. Depois disso, a escuridão me rodeou por completo e me prendeu entre seus braços. A última memória que tive foi do sorriso sádico de meu pai ao me exilar de Saturno, dando um chute certeiro em meu peito e fazendo-me cair nesse "novo" mundo.
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The Colors of Yoo
Fanfiction"Seguro a respiração, completamente sozinho num túnel profundo que engoliu toda a luz" Por conta de uma doença que lhe afeta o reconhecimento de cores e luz, o mundo do médico Jung Daehyun é - literalmente - descolorido. A chegada do alienígena Yoo...