I'm wide awake

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YOO YOUNGJAE

Remexi a cabeça desconfortável, sentindo os meus músculos reclamarem. Um sopro frio passou por minhas pernas e tentei me encolher. Sem sucesso. Parecia que eu estava preso a algo. Tentei mais uma vez, com mais força, e um barulho alto de metal soou no cômodo.

Abri o olho direito primeiro, olhando um teto branco acima de mim e paredes da mesma cor. Aquele ambiente tão claro e fechado me deixou sem ar por um momento.

— Acordado? — Uma voz baixa e rouca falou ao meu lado. Pulei de susto, mas não me mexi para ver quem era. Onde diabos estou mesmo? — Ei... Você pode falar?

Estalei a língua e respirei fundo; minha mente girava sem parar. Assustando-me mais uma vez, uma cabeça apareceu em meu campo de visão. O homem de olhos escuros e brilhantes olhava-me com atenção; esquadrinhou meu corpo por inteiro e depois apertou meu ombro de leve. Levantou uma mão e mostrou-me uma luzinha pequena e começou a passá-la de um lado para o outro perto dos meus olhos.

— Acompanhe a luz, por favor. Você consegue me entender? — Concordei com a cabeça e fiz o que me pediu. Por fim, sumiu de vista. Eu podia sentir sua presença ainda. Uma presença quente e agradável.

Tomei coragem para o achar no cômodo claustrofóbico. Demandou mais esforço do que acreditei que precisaria para apenas virar o rosto. Assim que consegui, o vi com uma prancheta em mãos e anotava algo fervorosamente no papel.

— Quem... — Minha voz falhou e precisei pigarrear várias vezes para que se firmasse. Ele esperou pacientemente até que eu pudesse falar. — Quem é você?

— Sou o Doutor Jung, prazer. Estou cuidando de você desde o incidente.

— In-Incidente?

— Oh, você não se lembra? — Avaliou minha expressão e voltou a escrever. — Está sentindo alguma coisa?

— Meu corpo não está se mexendo. — Quando lembrei do fato o desespero se apossou de mim. Em sequência, tudo foi se encaixando na minha cabeça. Saturno, humanos se aproximando, meu pai bravo, uma discussão familiar, eu caindo e me afogando. Um enjoo forte me fez colapsar, trazendo uma tosse ardida à tona. O homem apertou um botão e me senti ser levantado junto com a cama, até estar sentado de um jeito confortável. Os fios ligados ao meu braço me atrapalhavam e incomodavam, porém tentei não dar atenção. — Onde estou?

— Hospital Público de Changwon.

— Onde, exatamente, fica Changwon?

— Capital da província de Gyeongsang do Sul, Coreia do Sul.

Demorei um tempo até me localizar no globo terrestre e entender onde estava a Coreia. Por que meu pai me mandaria para cá? Será que me desviei da rota que ele havia planejando? Talvez ele quisesse que eu caísse na África e morresse desidratado. Ou no mar, sendo devorado por criaturas marinhas assustadoras.

— Por que meu corpo não se mexe?

— Você faz muitas perguntas, meu deus! Espere um minuto em silêncio, sua mente está muito confusa ainda. — Obedeci-o, não querendo causar confusão; ele parecia injuriado. Com os segundos passando, mais e mais perguntas se formam em minha mente. — Você consegue levantar o braço direito?

Concentrei-me no pedido e aos poucos minha musculatura pareceu relaxar, me possibilitando fazer o que fora pedido. Movi meu outro braço, então as pernas e a cabeça. Mais uma vez ele tomou nota.

Aproveitando o silêncio, observei o tal Doutor Jung com cuidado. Sua feição era madura e ele mordia o lábio cheinho toda vez que escrevia, seus olhos – escondidos atrás de óculos grossos – cansados corriam pelo papel com velocidade, acompanhando o caminho que a caneta fazia; os cabelos escuros e bem cortados, as mãos delicadas e a pele um pouco escura, o jaleco branco bem largo no corpo; um humano diferente e bonito, não posso negar. Eu podia ver uma forte luz emergir dele e sua mente era um emaranhado estranho de pensamentos, mas minhas habilidades estavam um pouco debilitadas, assim como eu, logo não pude analisá-lo melhor.

Olhou-me de repente, me pegando no flagra. Ele sorriu, deixando os seus olhos ficarem tão pequenos quanto uma linha reta. Um sorriso grande, no entanto um pouco desconfortável e forçado.

— Bom... Pode fazer as perguntas que quiser agora. Mas antes: qual é o seu nome?

— Yoo Youngjae.

Acenou e escreveu, depois fez um gesto com a mão e entendi aquilo como um "vá em frente".

— Como vim parar aqui... No hospital?

— Você caiu no lago do parque municipal. Alguns pedestres o socorreram.

— Há quanto tempo estou aqui?

— Algumas horas. Você acordou rápido.

— Ah, sim. — Abri a boca para fazer outra pergunta, contudo ele me interrompeu bruscamente.

— Vamos fazer assim: eu faço uma pergunta, depois você faz outra. Todo mundo sai ganhando. — Sem esperar uma resposta, emendou: — Senhor Yoo, quantos anos tem?

— Anos terráqueos? — Comentei despreocupado, quase me socando em seguida. Puta que pariu! Ri para disfarçar e me arrumei no colchão, para observá-lo melhor. Meus dedos esbarraram no metal da cama, fazendo um barulho chato, o que pareceu prender a atenção do outro, me dando tempo para fazer as contas e responder. — Quero dizer... Tenho 31 anos. E você?

— 32. Onde você mora?

— Eu não sei. — O olhar que Jung me direcionou ficou ainda mais estranho e julgador, suas sobrancelhas quase se juntavam de tão flexionadas que estavam. — Quando posso ir embora?

— Dentro de alguns dias. Por que se jogou do prédio? Foi uma tentativa de suicídio?

Espantei-me com a pergunta. Eu nunca quis me matar ou me jogar de qualquer lugar; amo muito a minha vida para descartá-la. Se ele soubesse da verdade, não estaria perguntando tais bobagens.

— Eu não qui...

— Como não? Você se jogou de um prédio.

— Eu não me joguei de lugar nenhum!

— Sinto muito, mas todas as pessoas do parque afirmam que te viram cair de uma grande altura. Um prédio.

— Eu não estava tentando me matar. — Disse com mais convicção, olhando diretamente para os olhos daquele homem. Ele sustentou meu olhar por alguns segundos, logo os desviando.

— Ok. Se você diz... — Anotou de novo na prancheta, me fazendo revirar os olhos. Ele não sabe fazer outra coisa? — Sente alguma dor?

— Não.

— Tontura?

— Não.

— Quer usar o banheiro?

— Não.

— Está com fome?

— Não... Calma, estou. Sim! Adoraria comer.

— O enfermeiro Moon logo trará a sua janta.

Sem dizer mais nada, andou alguns passos para frente, na direção de uma porta. Colocou uma mão na maçaneta e depois se virou.

— Você teve sorte, Senhor Yoo. Pela altura e o impacto, seu corpo não aguentaria. Sofreu danos muito superficiais e só desmaiou pelo nervosismo, provavelmente. A pressão da água também deve ter feito seus sentidos se confundirem. — Abriu a porta e saiu definitivamente, me deixando sozinho.

— Sorte... — Murmurei mal-humorado, cruzando os braços e bufando. Meu pai me queria vivo, então eu estava vivo. Isso não pode ser chamado de sorte.

Agora o que mais me perturba é: por que ele me poupou?

The Colors of YooOnde histórias criam vida. Descubra agora