YOO YOUNGJAE
Assim que me separaram do Daehyun, senti toda a minha segurança esvair e somente o desespero tomar conta. Ser deixado com pessoas estranhas em um ambiente estranho não me agradava em nada; mesmo que o doutor fosse um tremendo babaca, era um babaca conhecido.
— Senta e fica quietinho. — Mandou o grandalhão mal-encarado, me jogando em uma sala com um enorme vidro preto no fundo. Havia apenas uma mesa e uma cadeira no centro, entretanto assim que fiz menção de sentar, alguém jogou algo em mim. Assustado, tateei pelo corpo até achar um monte de pano em meu colo. Até que enfim uma roupa que preste. Não aguento mais mostrar a minha bunda para o mundo.
Após me vestir, fiz o que era mandado. Sentei e me calei. Não ousei mover um músculo sequer.
Mexendo apenas os olhos, observei a camisola do hospital e lembrei de como foi fácil fugir de lá. E também do quanto me arrependia por ter feito aquilo. Talvez, se eu tivesse ficado quietinho na maca, esses homens teriam me deixado em paz. Será que voltarei para o hospital? O enfermeiro... Hm... Não me lembro bem do nome dele. Min? Mun? Oh sim, Moon! O enfermeiro Moon deve estar um pouco decepcionado comigo. Assim que ele entrou para me dar comida, implorei para que tirasse aqueles malditos fios dos meus braços. Com pena, me deixou livre. Após comer, pedi para passear. Ele, é claro, foi gentil e cuidadoso ao me guiar pelos corredores vazios e limpos do lugar.
Andamos por todos os andares e até paramos na lanchonete para tomar uma bebida estranha e forte: café. Moon disse que poderia me levar para tomar aquilo mais vezes se eu prometesse não contar para o doutor Jung. Óbvio que concordei. Aquela coisa escura havia me dado uma energia estranha e eu me sentia revigorado. "Seria algum tipo de poção de cura?" cheguei a perguntar e ele me olhou assustado e rindo, no entanto não me respondeu.
Enquanto caminhávamos por um jardim do lado de fora, senti uma presença forte. Por instinto, agarrei o meu colar, porém só encontrei o vazio. Nessa hora fiquei fora de mim. Perguntei para o enfermeiro se ele o havia visto, mas assim que respirei fundo, tive a resposta. A presença forte era do próprio colar e estava me guiando para algum lugar. Sem pensar muito, agarrei os ombros do Moon e o forcei a encarar os meus olhos. Em poucos segundos o homem estava caído no chão, inconsciente. Corri pelas ruas seguindo o rastro.
Para a minha infelicidade, tive que desmaiar mais três pessoas para conseguir invadir o lugar fechado por altos muros. Sentia-me exausto quando parei em frente a uma casa branca e senti a mesma aura que havia sentindo no hospital ao acordar. Era a aura de Jung Daehyun. O resto eu prefiro não lembrar...
Era a verdadeira história, mas se eu a contaria para alguém? Nunca! O enfermeiro não deve ter entendido nada e, acredito eu, os meus poderes devem tê-lo deixado desorientado por algumas horas e ele poderia acreditar que havia sido um sonho. Só soube que fugi quando viu meu quarto vazio.
Se eu voltasse para o hospital, poderia contar a mesma mentira que contei para Daehyun. Se eles não acreditarem... Bem... O problema é deles.
...
Já estava começando a ficar entediado com o silêncio e a demora, até que a porta foi aberta e um jovem alto com uma feição doce passou por ela, caminhando devagar e mantendo os olhos cravados em mim. Pude sentir um pouco de medo em sua postura quando sentou. Contudo o que me chamou a atenção foi a luz que emanava do seu interior; era brilhante e extremamente colorida, poderia ser comparada a de uma criança. Se tivesse gosto, era possível que tivesse gosto de infância.
— Olá, Yoo Youngjae, consegue entender o que eu digo? — Eu juro que foi impossível não fazer cara de paisagem. Ele acha que eu sou burro ou o quê?
Grunhi em resposta e o rapaz deu um leve pulo na cadeira, afastando-se alguns centímetros.
— Tudo bem, tudo bem. Ahn... Como você está?
— Péssimo. Quando poderei ir embora?
— Logo. — Retrucou sucinto. Eu sabia que era mentira. — Meu nome é Choi Junhong e gostaria de saber algumas coisas. Você ficou quanto tempo no hospital?
— Um dia, talvez. Não tenho certeza.
— Quem cuidou de você?
— O homem que vocês forçaram a vir junto comigo. — Rebati sem paciência, causando outro sobressalto no jovem.
— Você lembra quem te acompanhou na ambulância?
— Não.
— Você lembra de qual prédio caiu? — A pergunta parecia uma pegadinha. Definitivamente parecia. Balancei a cabeça em negativa, sem abrir a boca. — O que estava fazendo na casa do doutor Jung?
— Ele... — Hesitei por alguns segundos, ponderando se devia ou não contar a verdade. Ah, dane-se. O interrogatório está confuso demais e as perguntas parecem não seguir uma linha lógica. Não para mim, pelo menos. — Ele tem algo que é meu.
— Tipo um colar?
Olhei o rapaz, desconfiado. Assim que as palavras saíram de sua boca, ele pareceu se arrepender e balançou as mãos na frente do meu rosto, como se pedisse de modo mudo para que eu esquecesse o que ele havia dito. Rapidamente mudou o foco da conversa:
— Onde você mora?
— Não tenho casa. Não me lembro.
— Você mora em outra cidade?
— Eu não sei.
— Quem são os seus pais?
— Eu não sei.
— Onde eles moram?
— Eu não sei! Chega de perguntas, eu não aguento mais ser interrogado nessa bosta de planeta!
Após minha explosão, quem afastou-se fui eu. Estava falando demais, de novo. Choi Junhong bateu com a unha nos dentes pequenos e me olhou em duvida, piscando diversas vezes seguidas.
— Você deve estar cansado. Eu já conversei com o seu amigo...
— Ele não é meu amigo. — Respondi, entretanto o rapaz me ignorou.
— E vocês podem ir embora. Obrigado pela colaboração, Yoo Youngjae.
...
Assim que pisei para fora do prédio, pude respirar novamente. Toda a apreensão saiu em grandes lufadas de ar do meu corpo. Encontrei-me com os grandalhões e Daehyun do lado de fora, parados como estátuas. Abracei-me quando um vento frio passou por nós. Acho que um café quente cairia muito bem agora...
Quando me aproximei, o doutor olhou para os lados e demorou-se um pouco mais em Junhong. Pude notar a apreensão em suas ações quando passou um braço pelo meu ombro e colou seu corpo junto ao meu. Observei-o de esguelha, berrando mentalmente "o que está acontecendo?". Fomos levados até o mesmo carro preto e lá dentro Daehyun quis continuar me agarrando, subindo e descendo sua mão quente pelo meu braço gelado, em uma tentativa pouco eficiente de me aquecer. Em algum momento não consegui manter minha dúvida apenas em pensamento e urrei para o doutor:
— Que merda é essa? Qual o seu problema?
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The Colors of Yoo
Fanfiction"Seguro a respiração, completamente sozinho num túnel profundo que engoliu toda a luz" Por conta de uma doença que lhe afeta o reconhecimento de cores e luz, o mundo do médico Jung Daehyun é - literalmente - descolorido. A chegada do alienígena Yoo...