White Sugar

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JUNG DAEHYUN

Que merda é essa? Qual o seu problema? — As palavras duras de Youngjae me acertaram em cheio. Eu sabia que o meu interesse repentino nele poderia causar tal reação e já estava começando a me arrepender de ter feito um acordo com Choi Junhong. Aquele moleque realmente sabia como convencer as pessoas.

Afastei-me, no mesmo instante, do... Alienígena. A simples menção dessa palavra me faz querer gargalhar alto e desacreditado. Não, não. É impossível de acreditar que ele tenha vindo de outro planeta.

Tirei alguns segundos para observar a figura irritada ao meu lado: rosto redondo, olhos expressivos e lábios cheios. Uma beleza humana e masculina, nada de anormal como um rabo peludo ou chifres na cabeça. Yoo Youngjae era normal (até tedioso), mas algo me fez levar o plano do FBI adiante. Eu ainda não sei com exatidão o que me convenceu a entrar nessa confusão e não tenho certeza se quero descobrir. Temo que esteja apenas querendo provar que ele não passa de um ser chato e estranho, e não porquê estou começando a acreditar que não é humano.

— EI! Vai ficar só me olhando e não vai dizer nada?! — Fui desperto da minha análise pelo próprio analisado, que me encarava com o semblante contorcido. — O que você tem?

— E-Eu... Eu não... — Revirei os olhos e sorvi uma grande quantidade de ar pela boca, tentando permanecer calmo. Eu precisava fazer o plano dar certo e me tornar um amigo desse alien. — Eu não tenho nada. Deve ser o sono. Você está bem?

— Estou. — Respondeu depois de alguns segundos, talvez surpreso com a minha repentina preocupação. Minhas mãos não estavam mais em seu braço, no entanto meu corpo estava completamente grudado ao seu. — Para onde vamos?

— Para a minha casa. Vou conversar com o enfermeiro Moon para tentar ao máximo abafar a sua... Fuga. Quando eu voltar para o meu plantão, daqui dois dias, você voltará junto comigo e ficará bem quieto no seu quarto, entendeu? Precisamos ser discretos.

— Precisamos!? — Não consegui definir se era uma pergunta ou uma afirmação, na duvida apenas acenei positivamente com a cabeça. Suspirando, Youngjae recostou a cabeça no banco do carro e fechou os olhos. Eu não fazia ideia do que ele estava pensando (óbvio!), contudo aproveitei para me perder nas minhas próprias divagações.

Em apenas um dia o meu mundo havia virado de cabeça para baixo. Atendi um paciente suicida louco supostamente alienígena, fui sequestrado pela FBI e praticamente coagido a aceitar uma proposta estranha.

Minha cabeça não está nada fácil de entender. O lado racional diz que eu devo dar um passo para trás e fugir dessa loucura, o lado irracional quer me fazer acreditar que o comportamento estranho de Youngjae é pelo fato de não ser daqui. Eu não sei para quem devo pedir conselhos, é um assunto delicado e não envolve só a mim.

Junhong disse que eu devo me esforçar ao máximo para ganhar a confiança do Yoo e convencê-lo a deixar a agência fazer todos os exames e experimentos possíveis nele, logo ganharia um quarto (tenho quase certeza de que é uma cela) na agência central dos Estados Unidos e trabalhariam juntos para o bem da Terra; não acho que alguém em sã consciência aceitaria se submeter a isso, mas o jovem disse que não custava tentar. Devo coletar o máximo de informações possível, para então eles agirem com rapidez.

Se eu conseguisse, teria minha vida sossegada de volta e ganharia uma ótima quantia em dinheiro. Não me deu um prazo fixo, contudo fez questão de frisar que, caso não haja sucesso, o FBI terá que tomar medidas drásticas e não poderei interferir mais (e, pelo que entendi, isso só acontecerá se o plano for descoberto ou Youngjae começar a apresentar sinais de ameaça à nação). Apenas pensar nisso me parece tão errado e tão certo ao mesmo tempo.

— Merda... — Balbuciei no silêncio do carro, imitando a posição do outro ao meu lado e cerrando os olhos com força.

...

Despedi-me dos brutamontes que estavam no carro com uma reverência mixuruca e corri para dentro antes que eles resolvessem nos pegar novamente. Entrei em casa já olhando para o chão, procurando pelo colar de Yoo. Encontrei-o próximo aos pés de uma poltrona e corri como um louco para guardá-lo dentro de minhas calças largas emprestadas. O objeto era frio em contato com meu corpo quente.

Youngjae me cutucou assim que levantei do chão. O toque delicado e gentil em meu braço me fez cambalear um pouco, causando-me uma tontura incômoda quando virei-me para encará-lo, porém esta passou segundos depois. Deve ser o maldito sono!

Ele ficou parado no mesmo lugar, olhando para a própria mão estendida no ar e olhando de volta para mim. Arqueei uma sobrancelha e esperei, tendo uma paciência que nunca tive.

— Você tem café? — Indagou depois de um longo tempo, mordendo o lábio inferior.

Não o respondi com palavras, apenas ergui um dedo e o movimentei, indicando para me seguir. Yoo, curioso, sentou-se no banquinho da cozinha e observou todos os meus movimentos pelo cômodo.

— Você prefere com ou sem leite? — Perguntei enquanto esperava ficar pronto.

— Tem como fazer isso?! — Ele parecia encantado, o que me causou um riso indiscreto. — No meu planeta nós usamos leite só para fazer chocolate. A minha mãe adora...

— No seu planeta!? Deve ser bem sem graça só usar para isso.

— Ahn planeta? Eu quis dizer cidade.

— Ah sim, claro que quis. — Disse sorridente, desencostando da pia e caminhando até estar bem próximo dele. — Então quer dizer que você já lembra da onde veio?

— N-Não, foi só uma lembrança vaga. Algo meio obscuro.

— E açúcar? Com ou sem?

— Com!

— No seu planeta também usam açúcar em tudo? Ou você é feito de açúcar e não se lembra? — Provoquei, recebendo um sorriso amarelo de volta. Ajeitei os óculos no rosto e pisquei o olho direito em sua direção. Se é assim que ele quer jogar, assim jogaremos.

A máquina apitou, sinalizando que o café estava pronto. Peguei uma caixa de leite nova no armário e coloquei em cima do balcão, junto com duas canecas. Servi-me com calma, sendo observado de perto por Youngjae. Assim que posicionei a caneca na sua frente, seus olhos arregalaram consideravelmente. Terminou com o líquido em poucos minutos e temi por sua língua, porque o líquido estava realmente quente. Deleitei-me do meu sem pressa, sorvendo goles pequenos enquanto mantinha um olhar fixo em cima dele. Após terminar e deixar tudo para lavar depois, fui em direção à sala.

— Eu estou com muito sono, já que alguém não me deixou dormir direito. — Caçoei deixando-o corado. Oh, que adorável.

— Não foi por mal, e-eu... Onde irei dormir?

— Tenho um quarto de hóspedes, mas coloquei todas as tralhas lá. Sinto muito, terá que dormir no sofá enquanto não libero o espaço.

Youngjae olhou para o sofá de couro e balançou os ombros, não parecendo se importar. Se ele não se importou, muito menos eu. Levei minhas mãos até seus cabelos e os baguncei, o fazendo me fuzilar, como uma criança levada. Instantes depois já estava subindo as escadas para o meu quarto. Fechei a porta com delicadeza, porém permaneci segurando a maçaneta. Minha cabeça rodava e meu corpo começava a doer. Meus dedos escorregaram para a chave na fechadura e hesitei. Deveria trancá-la ou não?

Enquanto arrumava a calça, lembrei-me do colar em minha cueca e peguei-o, observando cada detalhe seu. Havia um pingente cinza claro – e provavelmente deve ser de uma cor bonita que minha deficiência não me permite enxergar – segurado por um cordão, talvez de ouro. Havia desenhos abstratos e estranhos no pingente, mas um deles me chamou atenção porque era a única coisa distinguível no meio daquela confusão de traços. Um planeta, do lado direito, com um grande anel em volta. Não entendo de astronomia, contudo meu pouco conhecimento pode me permitir dizer que o planeta era Saturno.

Ainda segurando o colar com a mão esquerda, girei a chave na fechadura com a outra mão, assim trancando-me no quarto e me deixando um pouco mais protegido do ser estranho do lado de fora.

Prefiro não arriscar tanto assim...

The Colors of YooOnde histórias criam vida. Descubra agora