Prólogo.
A mesa de jantar nunca havia ficado tão silenciosa como naquele dia. Meu pai e minha mãe me olhavam, ansiosos pela tal conversa que queria ter com eles.
Meu coração dizia para eu continuar, mas minha mente dizia pra eu parar. Eu me sentia numa balança, eu poderia estragar a minha vida nesse exato momento ou poderia melhorá-la. Isso não é uma escolha, eu não pedi pra ser assim e espero que eles entendam.
-O que foi filho ?-Meu pai pergunta enquanto terminar de mastigar seu bife.
Solto um leve suspiro e tento fazer meu coração não saltar pela boca.
-Mãe, pai...-Tento manter a voz firme, porém eu me sentia vulnerável.-Eu espero que independente de tudo, continuaremos sendo uma família.
Minha mãe larga a taça de vinho e pousa o queixo sobre suas mãos. Ela estava séria e eu à ponto de explodir. Meu pai parou de mastigar e se aproximava mais de mim. Eu já podia ouvir meu coração acelerado.
Fecho os olhos e penso: "É só dizer, eles vão continuar os mesmos com você".
E foi aí que eu me iludi da pior forma possível.
-Eu sou gay.-Digo rapidamente.
Minha mãe põe a mão no rosto e meu pai se levanta da mesa.
Dois anos depois...
Morar na Barra da Tijuca não era tão ruim assim, eu poderia ir ao shopping sempre depois da escola com os meus amigos, poderia ir à festas e sem contar que morava num condomínio que tinha vista pro Posto 8 da praia.
Vovó sempre foi um amor comigo, é a única pessoa que amo. Posso sair a hora que quiser e ela nem sequer liga muito, ela diz que sou dono do meu próprio nariz e só tenho 16 anos.
Meu nome é Patrick, estudo num dos colégios mais caros do bairro, e todos me amam digamos assim. Esse é meu último ano de colegial, glória !
A minha vida mudou muito depois que meus pais me expulsaram de casa por eu poder ser uma vergonha pra eles. Digamos que eu poderia prejudicar a visão que a sociedade tinha sobre nossa família. Eu tinha 14 anos e agora estou com 16.
Conheci muita gente quando saí de Copacabana e vim pra Barra da Tijuca, o.k, mudança drástica, mas essa mudança foi até boa pra mim. Meu primeiro amor foi Pedro e o último, garotos em geral não prestam (eu sei que falo como se também não fosse um) mas vocês entenderam.
As coisas não foram fáceis no começo, mas eu acabei ganhando popularidade no meu colégio e fiz bastantes amizades.
Alguém bate na porta, deve ser Léa, a empregada. Merda, estou atrasado.
Abro e vejo Daniel, ele não emagreceu nada nessas férias.
-Nossa, você continua gigante.-Digo.-Eu sei que estamos atrasados, espera aí.
-Oi pra você também.-Ele diz num tom desanimado, Daniel parecia uma mosca morta às vezes.
Eu e ele viramos melhores amigos, foi a primeira pessoa que veio falar comigo na nova escola. Eu era apagado, agora sou o brilho daquele lugar, já Dani, bem...continuou o mesmo. As pessoas não acreditam que nós somos amigos por sermos tão diferentes, nem eu.
Visto uma blusa preta básica e um dos meus jeans e descemos até o térreo. Minha vó já havia ido fazer sua caminhada matinal antes de ir trabalhar.
-Cara, vi a nova foto de perfil da Emily, ela tá muito gata.-Ele puxa assunto enquanto esperamos o motorista de minha vó sair do estacionamento.
Emily é a crush do Dani desde o primeiro ano do ensino médio, ela é minha amiga também, costumamos sair às vezes e beber. Ela é loira, tem um corpo de dar inveja pra qualquer adolescente de 16 anos e namora o Léo. Acho o relacionamento deles uma merda, pois eu já fiquei com o Léo e ela soube e não disse nada.
Enquanto o Dani, bem, o Dani é alto, mas é gordinho, usa óculos e quase ninguém o chama pelo seu nome e sim por bolha. Triste, eu sei.
-Cara, desencana da Emily.-Digo.-Você nunca vai encostar seus lábios no dela nem qure ela esteja bêbada.
O motorista estaciona na nossa frente, faltavam só cinco minutos por sinal bater.
-Tente ser mais ágil da próxima vez.-Resmungo entrando no carro.
-Desculpe Sr. Ferraz.-Wagner me irritava com aquele ar sonso.
Dani não falou mais nada até chegarmos à escola e eu adorei. Odiava quando ele começava a falar da sua vida nada legal, me dava náuseas.
-Precisamos correr, falta um minuto.-Dani se apressa.
-Não vou correr nesse sol.-Digo e avisto Emily e Léo na cantina.-Vou esperar o próximo tempo com a sua crush.
-O quê ?!-Dani se vira pra mim e depois olha pra cantina.
-Vai ficar comigo ?-Pergunto.
-Nã-não sei.-Ele era mesmo um idiota.
Emily e Léo se aproximam de nós.
-E aí como foi de férias ?-Léo aperta minha mão e eu sorrio pra ele, que garoto gostoso.
-Eu viajei bastante com minha vó e vocês ?-Me direciono pra Emily.
-Passei o verão todo numa colônia de férias.-Diz ela e percebo Dani babar. Idiota.
-Eu fui à bastante festas e fiquei morrendo de saudades da minha loira.-Léo agarra Emily e lhe dá um beijão, Dani fez uma cara de merda que me deu vontade soltar uma gargalhada.
Porém eu tinha senso.
-Ei, vou deixar vocês entrarem em sala por ser o primeiro dia de aula.-O inspetor se aproximava de nós.-Vamos e não se atrasem mais !
Dani acena pra Emily e ela sorrir pra ele. Ando ao lado de Dani e faço uma expressão de desaprovação.
-Fui um idiota ?
-Foi.-Respondo.
Ao entrarmos na sala eu me deparo com vários novatos e a minha galerinha no fundo como sempre. Porém, havia um novato que me chamou a atenção.
Pedro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Maus Hábitos
Teen FictionEle tem tudo o que você almeja ter aos 16 anos: Popularidade, dinheiro e liberdade. Porém, faz coisas horríveis dia após dia. E é claro, a vida real sempre dá um jeito de entrar nessa bolha.