Culpa, confissão e ajuda inesperada

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Fez uma semana desde quando cruzei com meu pai. Fez uma semana que o Christian não para de me olhar e tentar ler minha alma. Fez uma semana que me libertei de Pedro. Fez uma semana que descobrimos um podre de Arthur. Fez uma semana que fiz as pazes com Emily.

E eu não sei mais o que fazer. É como um cubo mágico, você ajeita de um lado enquanto o outro lado continua todo bagunçado. Que coisa.

Vai fazer 2 meses desde a morte de minha vó. Estou olhando pra sua foto agora e esperando alguma solução, não sei por quê acredito nessas coisas.

-Você parece longe.-Diz minha mãe se sentando no sofá.-O que aconteceu ?

Me levanto e seguro sua mão. Eu precisava me abrir pra ela, o conselho de uma mãe sempre deveria ser bem-vindo.

-É tanta coisa que não sei por onde começar...-Digo.

-Me conte desde o começo.-Ela diz.-Quero fazer parte da sua vida, quero poder sentir um pouco das suas aflições também.

Então eu conto desde Pedro até o reencontro com meu pai. É claro que não falei nada de Arthur, se ela soubesse não sei o que faria. Minha mãe me ouviu à todo momento e parecia serena com tudo.

-Também acho que se vovô não tivesse ido me buscar naquele dia, ele ainda estaria aqui e vovó não teria falecido.-Concluo.-Me sinto tão culpado por magoar tantas pessoas.

Ela me abraça e por incrível que pareça eu me sinto seguro em seus braços.

-Não pode se culpar por tudo o que acontece à sua volta, Patrick.-Ela disse enquanto ainda estamos abraçados.-Precisa se perdoar pra conseguir seguir em frente.

Perdoar. Eu passei minha vida toda pedindo perdão aos outros, mas nunca à mim mesmo. Nem me havia passado essa ideia pela cabeça.

Mas como eu iria me perdoar ?

-E como eu faço isso ?-Pergunto.

-Aí é só com você.-Ela responde.-Você e seu coração.

Seria mesmo isso que faltava pra eu conseguir seguir em frente ? Um perdão ?

Sempre ouvi dizer que o passado foi feito pra ficar no passado, que não devemos nos apegar à ele, que devemos seguir em frente pra poder alcançar nossos objetivos. É como dizem "Quem vive de passado é museu".

-Só quero que saiba que a culpa não foi sua, você não tem culpa de nada do que aconteceu na minha vida, na de sua avó , na do seu pai e na do seu avô. Precisa se perdoar, precisa se permitir.

Ela estava certa, eu precisava mesmo fazer isso. Mas eu ainda não estou pronto, posso sentir.

-Faça isso com calma e quando se sentir pronto.-Minha mãe conclui e me dá um beijo na testa.

Ela nunca havia me dado um beijo na testa. Nem nunca tinha parado pra ter uma conversa séria comigo assim. Minha mãe sempre viveu pra imagem de socialite que tinha e pra empresa de meu pai.

As coisas estavam mudando. Acho que foi mesmo necessário ficarmos na pobreza pra passarmos a dar valor ao que temos. Por mais simples que fosse, valia muito.

Meu celular toca.

-Eu sei quem pode acabar com aquela bicha safada !-Diz Emily do outro lado da linha.

-Quem ?!-Pergunto.

-Pâmela, a água de salsicha que você odeia.

-Mas por quê logo ela ?-Pergunto aguarando por um bom motivo.-E pelo o que eu saiba ela agora está morena novamente, graças a Deus !

Maus HábitosOnde histórias criam vida. Descubra agora