INÚTIL - Jason

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O caminho até casa foi longo, até porque vivemos muito perto da floresta. A minha mãe gosta mais de ficar nos arredores da cidade. O Larry estava calado, como sempre é, ao meu lado enquanto eu conduzia. A Suzanna reclamava comigo pelo que se passou na sala de aula hoje por causa daquela miúda. Gabriela estava agarrada ao seu telemóvel e Mattews estava a olhar pela janela e a mandar a Suz calar-se a cada cinco minutos.

- Tu colocaste em risco a nossa espécie Jason, não te incomodas com isso? - perguntou furiosa.

- Tanto quanto tu, nem por isso! - respondi.

- Ela tem razão Jason! - Larry repostou.

- Uau, tu tens voz, e a primeira vez que a usas é para argumentares contra mim. - disse irritado.

- A culpa não é nossa se aquela rapariga te resistiu! - respondeu ele.

- Mas minha também não! - repostei.

- É pois, tu não sabes fazer nada sem usares o teu poder! - Suz disse apoiando Larry.

- Já que o tenho, porque não usar? - perguntei confiante.

- Porque assim colocas tudo em risco e se os nossos antepassados quiseram pôr isto em segredo, é assim que vai ficar. Não és tu que vais estragar...como fazes sempre!

Todo o carro ficou num silêncio perturbador. Até casa, mais nenhuma palavra foi
pronunciada. Estacionei e saí do carro. Usei um dos nossos dons, super-velocidade e fui para o telhado, sentei-me e olhei para o horizonte. O sol já se punha e a Lua tornava-se cada vez mais visivel. O negro e as estrelas invadiam o céu a cada segundo que passava. Passei os olhos pelo local e encontrei o edificio onde estão os meus sonhos, o palácio do Conde Drácula! Um dia, vou viver lá! Vou ser o rei da Lua de Fogo, vou encontrar a minha rainha quando completar as minhas 18 luas novas. Já vivi 17, falta-me muito pouco para ser o supremo. Não sei como sobrevivi à base de animais. Nunca provei sangue de humano, dizem que é muito arriscado, se eu consumir apenas uma vez, viciou para o resto da vida. Eu não sou vampiro para matar pessoas!

- Ah estas aqui! - ouvi uma voz femenina atrás de mim.

Virei-me e vi Genevive, a minha mãe, com um sorriso nos lábios, mas preocupação no olhar.

- É, parece que ninguém me quer lá em baixo! - digo referindo-me ao resto da minha familia.

- Vi um furacão atravessar a sala, deduzi que fosses tu! O que se passa Jason? - perguntou preocupada.

- Estrago sempre tudo, eu não sei! - desabafei sem a encarar - Eu só quero estar ali! No alto, sem estragar a vida de ninguém, sem ser um incômodo para a humanidade!

Levantei-me sem esperar resposta e saltei para o jardim. Corri para a floresta ali perto não querendo saber as consequências que isso trazia. Fui para uma zona mais sombria da floresta, onde havia enormes árvores, uma pequena ribeira e vários arbustos. Subi uma das grandes árvores e fiquei sentado em cima de um ramo forte. Encostei as costas ao tronco e fiquei a olhar as estrelas durante algum tempo. Um silêncio reinou por fim naquela zona quando uma brisa surge, olho para trás, de onde vinha a brisa, e nada. Voltei a olhar para a frente e...

- Olá!

Desiquelibrei-me com o susto e acabei por cair na ribeira. Ouvi risos estéricos e identifiquei logo o ser por trás daquele susto...Gabi!

- Oh, desculpa priminho se te assustei! - riu.

Olhei para ela sem paciência e depois percebi que não devia ficar assim com a única pessoa que não me culpa. Ri com ela e saí da ribeira.

- Como sabias que eu estava aqui? - perguntei.

- Eu conheço-te, melhor ainda que os teus irmãos, sei que vens para aqui quando estas triste porque foi aqui que o teu pai ensinou-te a controlar os teus dons.

- É, sinto falta dele sabes! - digo triste.

- Todos nós sentimos! - concordou Gabi.

- Ele compreendia-me, ele ajudava-me a encontrar o meu lugar no mundo porquê que ele teve de ir. Tudo graças aquela caçadora, sinto-me tão culpado! - desabafei e levei as aãos à cara.

- Não te culpes quando não tens culpa Jason! - disse ela passando as mãos pelo meu ombro.

- Não me culpo? Claro que tenho de me culpar, se não fosse eu ele ainda estava aqui entre nós. Saí apenas por dois minutos, o tempo necessário para alguém morrer.

Numa noite, eu e o meu pai fomos à caça pela floresta e acabamos por descançar um pouco numa ladeira. Eu e o meu pai ouvimos algo por trás dos arbústos, eu pensava que era um coelho ou um esquilo. O meu pai pediu que eu fosse buscar ramos para fazermos uma fogueira e quando eu estava a voltar com os ramos, ouvi um grito. Larguei tudo e corri para onde vinham os gritos, quando lá cheguei uma caçadora estava encorralada pelo meu pai mas eu fiz barulho ao pisar algo e o meu pai voltou o olhar para mim, o que foi uma bela oportunidade para a caçadora. Agarrou na sua faca e decapitou o meu pai. Ela olhou para mim mas foi embora. Desde então sinto-me culpado pela sua morte, se eu não tivesse saído ou até mesmo ter feito barulho, o meu pai ainda cá estava. Todos dizem que eu não tenho culpa, que eu tinha apenas 10 anos e que não podia fazer nada. Eu sou vampiro puro, ambos os meus pais eram vampiros então fiquei com o sangue dos dois. Já a Gabi foi transformada pelo irmão e tudo por minha culpa também. Eu contei ao Mattews o que nós eramos e ele insistiu que eu o transformasse. Eu não consegui então um outro vampiro tranformou-o.

Eu, da minha família, sou o único com o dom de hipnotizar as pessoas e obrigá-las a fazer tudo a meu favor. Eu pensava que ao fazer isso, estava a fazer um favor a todos mas não é bem assim, todos estão contra mim e tudo por causa daquela rapariga inútil que resistiu. Não! Eu é que sou o INÚTIL!

Sedenta De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora