Just A Filling

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O som da chuva relaxa-me, ainda mais quando estou deitada. A minha mãe chama-me mas eu, simplesmente não a oiço, não quero. Apenas quero ouvir a chuva, as pingas, a intensidade. Os deuses estão furiosos mas a sua fúria é calma. Sempre me contaram que quando chove, os deuses estão numa disputa lá em cima, no Olimpo. Eram precisamente 07:28h da manhã de sexta-feira 13. As minhas aulas começavam em 32 minutos e ainda não me levantei. Estou tão bem, eu não quero sair!

- Katerine Meredit Thompson levanta-te imediatamente!

A minha mãe gritou assim que abriu brutamente a porta do meu quarto. Detesto quando dizem o meu nome completo. Parece que cometi algum crime, algo proibido. É tão autoritário.

- Já não se sabe bater à porta?

Perguntei abrindo os olhos lentamente. Sei que é errado responder assim à mulher que nos deu a vida mas eu não consigo acordar cedo e ser simpática ou estar de bom humor. Ignorou! Saiu do quarto e deixou-me sozinha no meu quarto. Saí da cama e fui para a casa de banho tratar da minha higiene. A minha primeira semana de aulas está a chegar ao fim. Não consigo habituar-me àquele ambiente, as pessoas são tão antipáticas mas há outras simpáticas demais e sinto o cheiro de falsidade à distância. Apenas tenho uma amiga, Liv. É uma rapariga mulata com cabelos cachos castanhos lindos e olhos pretos. Tem uma aparência tão natural e transmite normalidade e relaxamento. Vesti-me rapidamente para não aturar os gritos da minha mãe. Preto e vermelho são as cores que me definem, um pouco pesado mas gosto desse poder que as cores causam em mim, principalmente o vermelho. É uma cor hipnótica e intensa. Mas hoje vesti algo mas leve, um cinzento, assim como o meu cabelo.

Saí do quarto e nem comi, fui a caminho da escola. A chuva havia parado mas ainda pingava ligeiramente. As ruas estavam molhadas e havia poças por todo o passeio. Vi a carrinha da escola e tive de correr para chegar a tempo. Cheguei a tempo, estavam quase a fechar as portas. Não havia muitos lugares disponíveis, apenas dois. Um deles era ao lado do Gary, o rapaz mais fedorento da escola. Eu de certeza não ia para ali. O outro lugar era ao lado da miúda dos caracois e aparelho. Ela parece estranha...e é mesmo. Cada vez que ela fala, todos desejam ter um guarda-chuva para não apanhar com o cuspo dela. O pior, é que ela não se cala! Era complicado, então decidi ir de pé. Cheguei! O autocarro parou bruscamente e eu ia quase caindo. Corri para a saída e dei a volta ao autocarro para atravessar a rua. Fui andando até  ao portão, quando um carro preto com um faixa vermelha para na minha frente.

- Tens noção que ias atropelando-me cretino? - gritei e continuei o meu caminho.

Nem vi quem estava dentro do carro nem quero saber. Cheguei ao portão e continuei até entrar no edificio. Parei à frente da Liv e abracei-a.

- Olá! Liv, sessão cinema em minha casa, não te esqueças!

Ela assentiu e fomos para a sala. Sentei-me no lugar habitual, o lugar da janela. À minha frente está a Liv e muitas das vezes trocamos bilhetes mas eu tento sempre prestar atenção. O problema mesmo, é que eu só tento. O professor entrou e começou logo a aula, aqui eles são assim, demasiado apressados para o meu gosto. Eu gosto mais de ir aos pouco, devagar. Aliás, gosto mesmo de ir a passo de lesma no que toca aos estudos. De repente a porta é aberta por um grupo de rapazes e no meio deles, havia duas raparigas. A ruiva até parece simpática, já os outros nem tanto. Um despertou-me a atenção, admito. Cabelos castanhos e olhos da mesma cor, tinha um casaco de cabedal e usava óculos de sol. Quem é que usa óculos de sol em dias de chuva?

- Estão atrasados! - o professorr avisa como se não fosse óbvio.

O tal rapaz coloca as mão em cima da secretário do professor e olha bem no fundo dos seus olhos. O professor não desviava o olhar e disse:

- A aula ainda não começou, chegaram a tempo!

O rapaz largou um sorriso e dirigiu-se a mim. Colocou as mão na minha mesa, como fez ao professor e aproximou-se.

- Estás no meu lugar! - avisou.

- Olha mas que pena. Sabes tens um aqui a trás. - digo apontando para a mesa atrás de mim.

Todos se espantaram com a minha atitude. O rapaz aproxima-se mais e fita-me com os seus olhos castanhos. Aquele castanho foi transformando-se em laranja e depois vermelho. Um vermelho intenso. Como é que ele fez aquilo? Fiquei tentada e não tinha saída, aquele vermelho mostrava o pior pesadelo.

- Tens algum problema de pernas ou já podes sentar-te? Estás perto demais, nunca te dei esta intimidade! - disse e ele mesmo espantou-se.

- Como é? - perguntou ele afastando-se ligeiramente.

- Eu não saiu daqui, agora pira-te! - disse e virei-me para a frente.

Ninguém daquele grupo imitiu um som. Quando o rapaz sentou-se atrás de mim, senti um respiração forte no meu pescoço.

- Isto não fica assim!

Ignorei. A Liv voltou-se para trás admirada e disse:

- Tu não sabes onde te meteste. Aqueles são os Lewis e aquele atrás de ti, é o Jason! São todos muito misteriosos, o Larry é aquele rapaz de olhos azuis e cabelo castanho. Ele é o mais velho mas ainda anda nesta turma para "guiar" os irmãos. O Jason é o segundo mais velho e, na minha opinião, o mais giro! - ela balbuciou a última frase apenas para eu ouvir - A Suzanna é a mais nova, também tem olhos azuis como o Larry. O outro rapaz, aquele de gorro, é primo deles e aquela rapariga ao lado dele também. Ela parece simpática, tem olhos verdes e o cabelo...

- Vermelho! - completei ao mirar o seu cabelo incrívelmente bonito.

- Exato! Eles são os mais populares e nunca ninguém os tinha enfrentado antes. Eu não sei, mas parece que eles hipnotizam as pessoas. Eles metem-se sempre em sarilhos mas safam-se sempre.

Hipnotizar? Foi o que eu senti quando ele me olhou. Mas...é apenas um presentimento. Dei de ombros e continuei a prestar atenção à aula. Bem, apenas tento!

Sedenta De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora