▲Capitulo 8 ▼

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“Tu não te preocupas Niall” disse baixo “na verdade, ninguém preocupa” levantei-me e comecei a caminhar até ao meu quarto.

Arfff… Será que tinha que haver sempre alguém a perturbar os meus melhores momentos? Ouvi Niall resmungar algumas coisas assim que lhe virei costas mas nem me importei em tomar atenção ao que ele estava a dizer. 

Ninguém se preocupa comigo, nunca se preocuparam, nem mesmo os meus próprios pais, eles deixaram-me e não me procuraram uma vez que fosse, não ligaram para saber como estava, não me enviaram uma prenda nos anos, no natal, não me levaram a ver o fogo de artificio tal como fazíamos, simplesmente se esqueceram de mim como se fosse algo que estorvasse na sua vida. Eles deixaram-me aqui já com o intuito de me abandonar, de se verem livres de mim….

Será que alguma vez que eles me diziam que amavam eles estavam a ser sinceros? Será que alguma vez me amaram de verdade como filha? Não, claro que não amaram, se me amassem não desistiam de mim assim, não me deixavam, não com aquela idade. 

Uma lágrima involuntária escorregou pela minha face. “não vou chorar” repetia isso para mim mesma tentando que mais nenhuma escapasse. “Nunca mais choraste, não o vais fazer agora” sussurrei como se fosse uma maneira de o interiorizar melhor. Respirei fundo vezes sem conta mas já outras lágrimas lavavam a minha cara, umas em cima das outras. A minha respiração começou a falhar e alguns soluços se fizeram ouvir ecoando no silêncio da noite. “Eles podem estar mortos”, era isso que eu tentava pensar para que a dor doesse menos, no meio de algumas possíveis explicações para o que aconteceu, essa seria a mais viável, mas isso, isso não fazia a dor diminuir, não fazia o ódio desaparecer ou a minha vida mudar e sair da porcaria de vida que tenho agora. 

“Ou simplesmente podem estar a passar umas férias todos juntos numa ilha paradisíaca” o meu subconsciente fazia-se ouvir e arruinara tudo o que havia pensado mais uma vez. Talvez ele tivesse razão, talvez eles tivessem a viver como se fossem uma família feliz e que eu nunca tivesse vindo a nascer. 

A minha cabeça abanou suavemente para os lados na tentativa de me abstrair desses pensamentos, na tentativa de parar de sofrer por quem não o merece. Dei por mim já à porta do quarto, rodei a maçaneta e estava aberta, tal e qual como o havia deixado. Todas dormiam, talvez isso até fosse algo que me fizesse bem, se o conseguisse fazer decentemente sem ter pesadelos a fazerem-me acordar a meio da noite como tem sido.

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A claridade começara a entrar pelos pequenos vidros da janela, o meu despertador chamava por mim para que fosse tomar o meu habitual banho, mas decidi desligá-lo e permanecer na cama.

Os meus olhos pesavam, o quarto estava silencioso e não tardou a adormecer novamente. Por milagre tive uma noite tranquila, não acordei a cada hora passada e os meus pesadelos decidiram dar-me um descanso. Já não me lembrava de ter dormido tão bem como esta noite, talvez porque nunca dormia bem e porque passou muito tempo desde a ultima noite na minha cama, no meu quarto, na minha casa…

Começou a ouvir-se algum barulho no quarto e despertei olhando em volta.

“Desculpa se te acordei” a voz doce de Eleanor soou. 

“Não tem mal” disse ainda me espreguiçando na cama.

“Como é que hoje ficaste até tão tarde?” ela riu “Até a Anny acordou primeiro que tu” 

“Estava cansada” Justifiquei-me. Estaria mesmo? Não sei, apenas sei que esta noite passou rápido, poderia ficar aqui a dormir por mais umas horas se conseguisse. Um sorriso instalou-se na sua cara e logo voltou ao que estava a fazer.

Mysteries*Where stories live. Discover now