▲Capitulo 1 ▼

591 24 1
                                    

Como sempre, o meu despertador tocou mais cedo do que o delas. Sussurrei um “Deixem-se ficar, ainda é cedo” e arrastei-me para fora da cama. Como sempre, ainda meio ensonada, fiz a minha cama. Peguei na pasta de dentes tirada à Anny na noite anterior e meti-a na sua mala. 

O relógio marcara as 6.45 da manhã, estava atrasada. Peguei numa roupa simples e corri até aos balneários, para que acabasse de tomar banho até que os outros começassem a entrar. Refiro-me a eles como os “outros” porque neste campo, temos que tomar banho todos misturados, rapazes e raparigas, apenas existe uma pequena divisória e uma cortina a tapar. 

Já pensaram inúmeras vezes refazer estes balneários, mas isto é como tudo, prometem e nunca cumprem.

Por sorte, o balneário ainda estava vazio, e espero que continue a estar, pelo menos enquanto eu tome o duche. Passei numa prateleira e tirei duas toalhas, fui à arrecadação e tirei um champô e um sabonete individual. As minhas roupas foram pousadas no banco mais próximo. Como não havia ninguém ali, tirei a única camisola que cobria o meu corpo e caminhei até àquele departamento onde se encontrava o chuveiro.

Demorei um pouco até ter a água amena, isso era mais uma coisa que não gostava, antes que a água viesse boa, tinha-mos que esperar não sei ao certo quantos minutos, mas garanto que parecia uma eternidade. Pendurei a toalha na parede ao lado, fechei a cortina e tirei a roupa interior, deixando-ma num canto para que não se molhasse muito.

A água quente batia nas minhas costas, fazendo todo o meu corpo descontrair. Poderia ficar aqui todo o dia se fosse preciso, é algo relaxante. Lentamente, ensaboei o meu corpo eliminando todos os traços de suor que existiam, aquele sabão cheirava a baunilha, um cheiro que sempre gostei. 

Aquela espuma foi retirada do meu corpo, enquanto lavava o meu longo cabelo loiro. O barulho apoderou-se do espaço, não acredito, hoje demorei mais que o normal. Pelas vozes, pareciam rapazes e digamos que não estavam muito contentes, pareciam discutir. 

Retirei rapidamente o champô do meu cabelo e esperei um pouco, na esperança de que eles fossem embora. Um chuveiro ao lado do meu foi ligado, agora teria a certeza que eles não iriam embora tão rápido!

A minha mão desligou o chuveiro e logo a seguir, puxou as toalhas que se encontravam do lado de fora. Com cuidado para que nenhuma caísse, enrolei a maior ao meu corpo, tapando-o todo e logo a seguir a mais pequena cobriu todo o meu cabelo.

Com uma certa velocidade, sequei o meu corpo, para quando chegasse lá fora, fosse apenas preciso vestir-me. Agarrei na minha roupa interior, no champô e no sabonete e sai do chuveiro. Ainda se ouviam vozes, e agora poderia ver de quem eram. Pois claro, só podiam ser dos parvalhões da noite passada.

Quando os vi, virei automaticamente a cara, para afastar todas as recordações da noite anterior, pelo que vi, ainda tinham as caras com vestígios de pasta, o que me fez soltar uma pequena gargalhada interna. Fui até ao caixote do lixo, deitei o que restava do sabonete fora e retomei o meu caminho.

“Bom dia Gely” um deles disse, mas não consegui saber qual.

A minha boca continuou fechada, apenas lhes lancei um olhar calmo continuando até ao banco onde se encontravam as minhas coisas. 

Isto era um tanto desconfortável, era por isso que gostava de vir mais cedo do que o normal, não teria que me sujeitar a olhares intrigantes e incómodos. Por baixo da toalha, vesti umas cuecas lavadas que havia trazido e logo a seguir, vesti um sutiã preto, que combinava perfeitamente com as minhas cuecas, visto que toda a minha roupa interior era escura. 

Olhei em redor e os seus olhares permaneciam em mim, enquanto as suas bocas se movimentavam cautelosamente para que o som saísse baixo o suficiente para que eu não ouvisse, posso afirmar que estavam a falar de mim, devem estar a dizer que sou estranha, ou sou um tanto satânica, tal como toda a gente do campo faz. Isto é irritante sabem? Estão sempre a falar de mim como se eu não estivesse a ouvir, ou como se eu não notasse. 

“Que querem?” disse ainda de costas para eles.

O silêncio foi instalado naquele instante, aposto que agora os olhares lançados eram ainda piores, portanto, nem me atrevi a olhar uma vez que fosse. 

Eles não se atreviam a falar, pois por aqui, até diziam que eu já tinha sequestrado uma miúda à uns anos atrás. Isso é só uma mentira, tal como todas as outras que aumentam a cada ano passado. Sinceramente? Não me importo. Prefiro que pensem que sou uma assassina do que uma coitadinha, embora não seja nem uma coisa nem outra. 

“Isto é um balneário, não deviam estar a tomar banho em vez de estar a observar cada movimento meu?” perguntei olhando-os sobre o ombro

“Des…Desculpa” Luck disse

“Vai tomar banho!” Ordenei. 

Todos desviaram o olhar de mim, indo em direção ao chuveiro. Amava ter esta sensação de poder, principalmente a rapazes. Apetecia-me rir neste preciso momento, não só pela cara de assustado deles, mas também pela pasta que ainda tinham visível na cara, lembrando-me perfeitamente da noite passada. 

Olhei-os durante uns segundos, confirmando que eles já não estavam a olhar para mim e assim desenrolei a toalha ficando apenas de roupa interior. Ainda com a outra toalha enrolada à cabeça, vesti umas calças pretas justas com alguns rasgões, esses rasgões eram tapados com bocados de renda também preta deixando-as ser o tipo de calças perfeitas e mesmo a meu gosto. Eu adorava aquelas calças, tinha sido a D. Barbara a oferecer-me, estas, tal como toda a outra roupa que tenho. Eram de uma filha dela e quando deixavam de lhe servir, ou quando a filha já não as queria mais, Barbara trazia-as para mim, só ela neste campo sabe realmente a minha história, ela ouviu os meus desabafos durante anos, foi ela que me ajudou a passar por tudo. 

Em conjunto com as calças, vesti uma camisola preta também com uma cruz dourada no meio e por fim, umas sapatinhas também escuras. A toalha foi desenrolada do meu cabelo, secando-o. Fui novamente à arrecadação meter o champô e tirei de lá um saco, a pasta de dentes, a minha escova e o pente para pentear o meu cabelo. Pousei o saco metendo lá dentro a minha roupa interior usada, bem como a toalha e fui até ao espelho. 

Abri um pouco a torneira, molhando a escova e depois meti um pouco de pasta levando-a a boca. Os meus dentes foram lavados e o meu cabelo ainda pingava, sequei melhor com a toalha e depois penteei-o. Com ele ainda molhado, fiz uma trança larga e deixei-a descair pelo lado direito do meu pescoço. 

Pelo espelho podia ver que, pela porta, já começavam a entrar pessoas. O som das gargalhadas cínicas já ecoava naquele espaço, os olhares mais uma vez estavam presos em cada movimento meu e isso era no mínimo desconfortável.

“Precisam de alguma coisa?” Perguntei a um grupo de loiras que não deixavam de admirar cada movimento meu.

“Tu é que precisas filha” riu-se uma delas “Chama-se Gosto isso que tu precisas” concluiu

“E tu precisas é de levar na tromba” disse rude aproximando-me dela. 

Agora, mais que nunca, era o centro das atenções. Sabia que aquilo não acabaria bem, nem para mim, nem para aquela loira falsa que acabara de me picar. Respirei fundo para dizer algo logo de seguida, mas os meus pensamentos foram interrompidos pelo toque de alguém segurando forte o meu braço. Já a tanto tempo que ninguém me tocava, ninguém sem ser a Barbara ou as minhas colegas de quarto, pessoas que não as tinha visto aqui para o fazerem.

A minha cabeça rodou encarando uns olhos azuis cristalinos. Era niall, ele olhava-me com um olhar preocupado e segurava forte o meu braço.

“Não me toques” rosnei soltando o meu braço num só movimento 

Os olhares de todos estavam agora presos nos meus movimentos e nos daquele Irlandês. 

“O que querem?” Disse olhando em volta “Não têm nada para fazer?” disse rude.

Aqueles olhares demoraram apenas mais uns segundos e todos foram desviados, tirando o do Niall. O seu olhar transmitia preocupação, ele estaria preocupado comigo? Não! Claro que não! Ninguém se preocupa comigo, nem mesmo os meus pais se preocupam comigo. Ele deve estar preocupado é com a cara da loira, que se continuasse a provocar ficava amassada para o resto da sua vida.

Vi que os seus lábios se iam movimentar para tentar dizer alguma coisa, mas eu travei-o, apenas com um “não digas nada!”. Voltei para onde estavam as minhas coisas e meti tudo num saco juntamente com a toalha, fui colocar o que tinha tirado à arrecadação, que era onde guardava sempre as minhas coisas e tranquei-a saindo dali o mais rápido possível.

Mysteries*Where stories live. Discover now