Minki

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Minki - parte dois.


    "Não se nasce mulher, torna-se"


  Minki olhava para suas unhas decoradas contendo a vontade de devora-las. A alegria de estar com uma roupa preta e branca havia se passado rapidamente quando olhou seu look dois. Um vestido preto e azul com alguns detalhes coloridos. O pior de tudo era o tamanho dele, se a menina estava se sentindo despida, agora com aquele vestido se sentia cem vezes mais.

  Ao chegar no estúdio foi recebida por olhares nada discretos de alguns homens da equipe. Minki se sentia um pedaço de carne sendo observada por lobos sedentos de fome. Realmente ninguém nascia como uma mulher, você se torna uma. No dia a dia, a cada olhar malicioso de um homem para alguma parte de seu corpo sem que você queira, as pessoas te achando o sexo frágil, a menininha que só serviria para casar e ter filhos. Para Minki o buraco era bem mais embaixo, pois se as pessoas soubessem que ela era transgênero, não a considerariam uma mulher de verdade. Bom, a maioria das pessoas.

  Desde pequena a menina se sentia diferente de seus outros amiguinhos da escola, apesar de odiar brincar com bonecas, ela amava maquiagem e se vestir com as roupas da mãe quando os pais não estavam em casa. Certo dia, quando estava se trocando e colocando um vestido que a mãe tinha de quando era mais nova, seu pai a viu no quarto e gritou falando que não tinha criado filho para ser um "viadinho", depois de uns dois anos aquela mesma cena se repetiu mas o pai da pequena Minki havia chegado bêbado em casa e a chamando de apelidos femininos e doces, falou com Minki como se ela fosse uma das prostitutas que ele traía a mãe da menina e a violentou.

  Minki nunca mais foi a mesma.

  Sempre insegura quando ficava perto de homens, sempre se sentindo observada até quando não estava e seus rituais de limpeza diários a faziam ficar com a pele vermelha e dolorida.

  A menina se recuperou um pouco do ocorrido quando foi morar com suas melhores amigas - Tzuyu e JeongHan - e quando estava no início de sua carreira se apaixonou por um rapaz da faculdade - que iniciara assim que terminou os estudos -. Baekho era um rapaz de aparência forte, porém era um cavalheiro e um rapaz muito doce, características que fizeram Minki se apaixonar perdidamente por ele. Quando o momento dito como certo para o jovem casal, e Minki se sentia segura, ela decidiu contar que era trans. Baekho ficou desnorteado e começou a xingar e gritar com a menina que pedia desculpas desesperadamente. Alguns meses depois, Baekho ligou para Minki pedindo desculpas pela indelicadeza e disse que se arrependera muito por ter magoado ela, mas que também não poderiam ficar juntos, afinal o menino não era gay. Pff. Como se ser gay fosse sinônimo de "gostar de pênis", mas a sociedade possui uma mente fechado para pessoas consideradas incomuns. Afinal, a heterossexualidade não é "normal", ela só é comum.

- Minki, sua vez. - Aron disse olhando para a menina, a tirando de seus pensamentos. - Você 'tá estranha hoje, aconteceu algo? - continuou mais baixo.

- Não... Eu só... estou pensativa hoje, me desculpe. - a menina disse corando.

- Okay... se aconteceu alguma coisa, saiba que você pode contar comigo, tá? - o americano disse sério.

- Obrigada, Aron. - Minki disse rápido e se encaminhou para o novo cenário. Agora ela tiraria fotos sozinha apoiada em uma bicicleta e depois com a mesma modelo que tirou fotos antes.

  Quando a outra modelo entrou para as fotos em dupla, Minki bufou e fez biquinho. Por que a outra modelo estava com um saia maior e mais bonita? As vezes Minki era dramática demais.
 
  Após mais fotos e mais dois looks trocados, Minki estava com uma roupa que ela achou a mais linda de todas. Uma longa saia azul e uma blusa branca, para completar um chapéu muito bonito.

- Uou, acho que eu estou vendo um anjo. - uma voz disse surpreendendo a menina.

- JongHyun? Você se perdeu de novo? - a menina disse rindo enquanto os dois caminhavam pelo longo corredor que levava aos estúdios.

- Não... - Jr respondeu sorrindo. - Na verdade tenho fotos agora.

- Mas a minha seção não acabou - a menina disse confusa.

- Então vamos tirar fotos juntos, mocinha. - o de cabelos cinzas respondeu com um ar brincalhão.

- Que estranho... nunca me mandaram fotografar com um homem - Minki respondeu ficando chateada.

- Ah... se você não quiser, nós falamos com eles e... - Jr disse mas logo foi interrompido.

- Não... tudo bem, só espero que não sejam fotos românticas. - Minki respondeu e percebeu que  JongHyun se sentiu um pouco magoado com aquelas palavras. Será que ele pensou que era algo pessoal contra ele? A menina pensou mas logo descartou essa ideia.

- É, tanto faz. - JongHyun disse seco. Minki se sentiu incomodada.

  Chegaram no estúdio com um clima estranho pairando por ambos. - Vou tirar fotos com o JongHyun? - Minki perguntou para Aron.

- Sim, sei que não gosta muito disso. - o americano se lamentou. - Mas o rapaz é uma promessa de sucesso, principalmente nas passarelas.

- Não me incomodo com isso, Aron. Deixe para lá, ok? - a menina disse e viu o fotógrafo assentir. Se aproximou de JongHyun que já estava no cenário decorado com balões. O rapaz entregou um balão para ela e sorriu.

- Vamos logo com isso, pessoal!  - Aron disse e mais trinta minutos foram gastos com belas fotos. Individuais e em dupla.

  Minki se despediu rapidamente de Jr e Aron, indo até o camarim e dando um leve abraço na amiga Nahyeon e dizendo que amanhã elas se veriam.

 
  Chegando no hotel ela retirou as sapatilhas, deixando-as na entrada do seu quarto. Se jogou na cama, exausta por aquele longo dia. Imagens de JongHyun vieram na sua mente e ela sorriu. Só podia estar ficando muito louca. A menina tinha medo do que o rapaz pudesse pensar sobre ela e o que aconteceria se ela tentasse iniciar uma amizade com ele.

Mas não faria mal tentar, não é?

Alguns minutos depois, Minki acordou com um susto.

  Ela havia tido um pesadelo com o que passou com seu pai, porém ao invés dele, JongHyun estava fazendo aquelas atrocidades com ela.

  Tremendo e suando, Minki se levanta e decide tomar outro banho. Entra no banheiro e liga as torneiras da banheira para enche-la. Com a banheira cheia e mais quente que qualquer pessoa normal tomaria banho, Minki retirou suas roupas, ficando apenas de calcinha e entrou na banheira. Com os longos cabelos presos para não dar trabalho de seca-lo antes de voltar a dormir, Minki pega a esponja corporal e com sabão líquido a esfrega pelo seu corpo, tão forte que a pele leitosa já estava vermelha e levemente arranhada em algumas partes. Retirou o sabão do corpo e decidiu apenas deitar e tentar relaxar para se esquecer das cenas que o seu pesadelo pôs em sua mente.

  Após terminar seu banho de quase duas horas, a menina colocou suas meias brancas e grandes com vários gatinhos pretos desenhados e um blusão preto. Os gatos a lembravam sua casa e seu gatinho preto que estava sob os cuidados de Jeonghan, o que a lembrou de ligar para ele, mas se já era uma da manhã em Xangai, em Seul já seria duas horas e ela não queria acorda-lo.

   A menina sentou-se em sua cama, pegou o notebook e decidiu assistir algum filme. Escolheu Clube de compras Dallas, e chorou com a morte da personagem transsexual. Talvez seja esse o seu destino também? Morrer de uma doença horrível, se matar ou ser morta pelo ódio, não importava. Minki tinha o péssimo pressentimento que tinha nascido para morrer.

Contínua...

Born To Die 《 jren 》Onde histórias criam vida. Descubra agora