Capítulo 19 Mariah

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Quando entrei naquele apartamento senti todo o peso da dor que ele estava sentindo.
Fiquei temerosa para encontrá-lo, mas assim que entrei naquele quarto, o medo deu espaço a compaixão.
Ver Marcelo naquele estado, levou para fora de mim qualquer resquício de medo.
Ficamos deitados na cama abraçados até ele dormir. Quando nos encontramos minutos antes, minha emoção teve que dar lugar a calma para tranquilizá-lo. A fragilidade dele me espantou. Aquele homem viril tinha a aparência de uma criança embaixo daquele chuveiro.

Deixo ele dormir um pouco mais e vou preparar um lanche. Quando estou terminando ouço os passos dele atrás de mim.

- Não acredito que esteja aqui. Eu não gostaria de ter encontrado com você por esse motivo.

Essa voz rouca me dá um frio na espinha. Viro-me para olhá-lo.

- Marcelo, estou aqui para te apoiar. O que houve entre nós já está resolvido, e não vem ao caso neste momento.

- Eu preciso de você. Eu quero você.

- Estou aqui. Agora você precisa comer um pouco.

- Não quero. Não entendo porque Deus sempre me tira as pessoas que mais amo. Por que Mariah? Ela era minha única irmã, tão jovem, cheia de vida, e agora? Como fico? E a Olívia? Como vai ser Mariah?

Marcelo começa a chorar, eu choro junto. Nos abraçamos, sei que toda essa dor é demais para ele, mas precisamos seguir em frente.

- Olha pra mim! Não odeie o mundo. Não se questione. Ela partiu, era o destino, a história dela era essa meu querido. Por favor não chore.

- Tira essa dor de mim Mariah. Eu não vou conseguir.

- Vai sim. Você tem o amor de seus avós, tem uma pessoinha que precisa de você, amigos que sempre estarão por perto. E...

- E...?

- E é isso. Essa dor vai passar e você vai ter só as melhores recordações da Lígia. A saudade vai ser imensa, tenho certeza disso; mas Olívia estará sempre por perto para que você possa de certa forma se confortar com a falta que sua irmã fará.

Eu queria dizer a ele que tinha a mim também ao seu lado, mas não consegui.

- Agora precisamos nos aprontar para a cerimônia.

- Sim. Você vai querer passar em casa para se trocar?

- Estou de carro.

- Eu te levo. Por favor fique comigo aqui.

- Tudo bem. Vamos fazer um lanche e saímos.

Comemos em silêncio. Assim que saímos em diração a minha casa Helena entrou em contato dizendo que já estava desembarcando.

- Você quer entrar? Não me demoro.

- Eu posso?

- Claro que pode Marcelo.

Fiquei tensa com ele ali na minha casa a poucos metros do meu quarto, na sala ao lado. Mesmo com toda essa situação trágica, não podia negar que o desejo ainda estava presente em nossos olhos.

Coloquei um vestido básico preto e sapatilha. Assim que desci ele me olhou como sempre fez ao me encontrar.

- Mesmo de luto você continua linda.

Dei um sorriso tímido e nos apressei para sair.

- Eu decidi cremá-la, assim como meus pais. Acho que ela iria gostar da idéia. Acho essa história de túmulo muito sombria.

- Eu também acho o mais correto Marcelo. Agora precisamos ir.

Assim que chegamos ao crematório ele agarrou a minha mão como se estivesse segurando algo que não pudesse soltar. Encontramos todos os familiares, alguns amigos e funcionários da construtora. Helena já estava no local, e chorando muito nos abraçou.

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