Kill Everybody

Capítulo 7

Beatrice

A sensação de vazio era como um fantasma que se arrastava lentamente e sussurrava nos nossos ouvidos que tudo estava acabado. Acordar e saber que não veria mais Luna e Vyola... Meu coração apertava cada vez que eu pensava nisso e eu fazia força para não chorar.

Depois que a polícia chegou, passamos uma noite infernal na delegacia dando depoimentos e tendo que reviver aquela cena horrível no quarto da minha amiga. No meio disso tudo, Kami, Daniel e Laerte chegaram. Kami chorou tanto, mas tanto que passou mal e teve que ser levada pro hospital por conta do bebê. Anna estava desamparada ao lado de Laerte. Ela não havia conseguido dar um depoimento sequer de tanto que chorava. Eu sabia como ela se sentia, mas eu ainda sim conseguia segurar. John estava se sentindo um lixo porque havia xingado Luna antes dela morrer, eu sabia disso mesmo que ele não demonstrasse. Assim que Kamilla foi pro hospital, eu fiquei do lado de Anna o tempo todo. Na verdade, todos ficamos lado a lado.

Nesse momento, Rebeca estava parada com os olhos fechados encostada na parede. Ela havia chorado feito uma criancinha na hora de depor e disse que precisava se recompor agora. John estava ao lado dela, segurando sua mão. Niccolas estava segurando a mão de Anna, essa estava no colo de Laerte e eu estava do outro lado. James saiu da sala do policial com a cabeça baixa, havia sido o único que conseguira se segurar e não chorar loucamente a noite toda. Ele estava segurando as pontas, na verdade. Anna não estava chorando tanto quanto antes, agora só estava murmurando coisas aleatórias enquanto eu tentava ignorar a dor que eu estava sentindo, precisava apoiar meus amigos... Eu estava pensando assim até Rebeca puxar minha mão e me tomar nos braços dela. O abraço de Rebeca me fez desmontar, ela passava a mão lentamente nos meus fios azuis enquanto sussurrava.

— As coisas vão se ajeitar. Vai ficar tudo bem, você vai ver. Eu to aqui, você sabe, não sabe?

Assenti enquanto deixava a blusa dela alagada e meus ombros sacudiam. Antes que eu me desse conta, todos estavam em pé e dando um abraço coletivo. A dor parecia ser tão forte que eu não conseguia suportar.

Luna estava com problemas alimentares, mas desde que fizemos aquela tatuagem... Eu lembro dos olhos dela fixando os meus o tempo todo, a mão livre segurando a minha e nas palavras que trocamos. Eu a amava, muito. Ela era uma das amigas mais importantes pra mim... E agora...

Na hora de fazer a tatuagem, ela derramou algumas lágrimas e disse que se envergonhou por elas, lembro de ter feito cara de brava e sussurrar no ouvido dela: "Você vai chorar assim uma última vez, porque agora você vai se amar por completo, porque você é maravilhosa e você sabe disso, não sabe?"

Na minha vez de tatuar, eu encarava o rosto dela tentando parecer lívida e ela fazia palhaçadas para me fazer sorrir. Quase borrei a tatuagem quando ela fez isso!

E agora...

Vyola era espetacular. Era uma das melhores líderes de torcida que eu já havia visto. Dedicada, bonita, esforçada, inteligente e... Humilde! Tinha tudo para ter o nariz em pé: Dinheiro, todo o homem que quisesse em seus pés, uma aparência perfeita... E havia entregado seu coração totalmente para Luna, mesmo que ela não soubesse. Talvez houvessem morrido sem nem sequer terem trocado beijos e carícias, mas o coração de uma estava atado ao coração da outra e aquilo era tão lindo... Lembro de uma vez que Vyola havia me ensinado a rebolar. No meio do abraço coletivo, eu comecei a rir.

— O que? — Anna sussurrou — O que tem graça?

— Vyola me ensinando a rebolar...

Então a risada foi geral. Porque ela filmou! E enviou pro grupo! Eu não me senti exposta, me senti grata para falar a verdade... O vídeo havia sido gravado no ginásio, eu estava toda torta tentando rebolar direito e ela estava do meu lado me ensinando. No fim, até que deu um jeito e ela me fez rebolar PRA ELA fingindo ser o Niccolas. Eu comecei a rir mais e acabei puxando um coro de risadas dos demais.