Capítulo 2

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Beatrice

Os montes eram muito verdes, a grama estava molhada, o Sol no horizonte estava se pondo bem devagar. Caminhei e mal sentia o chão embaixo de mim, como se, na verdade, estivesse flutuando... Era quase como se fosse magia. Só podia ser magia!

Como se o destino quisesse coroar tudo, vi a silhueta dele se formando. Niccolas vinha caminhando na minha direção com aquele sorriso maravilhoso que me fazia perder o fôlego, ah...

— Eu esperava por você — Disse Niccolas, tomando minhas mãos nas dele.

Minha face esquentou e eu não consegui responder. Niccolas era um ano mais velho que eu e estava para terminar o ensino médio, mesmo que estivesse um ano atrasado. Era tão esforçado e tão bom para as pessoas. Meu coração batia forte, acelerado... E conforme Niccolas ia chegando perto, minha visão ficava turva e eu sentia quase minhas pernas cederem. Seria emoção? Ou aquela sensação de estar realizando o que eu sempre quis?

— BEATRICE!

Só podia ser brincadeira.

— BE-A-TRI-CE!

Senti algo me atingir nas costelas. Era fofo pelo menos. Me encolhi e senti as mãos de Niccolas sumirem. Todo o cenário ao nosso redor derreteu e sumiu, deixando apenas a maldita escuridão ali.

John, filho da puta.

Abri os olhos e despertei do sonho, sentando na cama e jogando o travesseiro de volta nele. Meu irmão estava parado na porta, de cueca, rindo de mim. Como ele podia ser tão irritante? Niccolas estava tão próximo. Bufei e revirei os olhos, John parou de rir e uma expressão preocupada assumiu seu rosto.

— O que? O que eu fiz?

— Eu só consigo ficar perto do crush nos meus sonhos e você faz isso — Gritei, começando a rir em seguida — Meu Deus, como eu sou fodida na vida.

John não aguentou e riu também, indo de encontro a minha pessoa na cama. Ele deitou me puxando para deitar ao seu lado, abracei ele e meu irmão jogou as pernas em cima de mim. Encaramos o teto juntos e suspiramos em uníssono. Ambos estávamos apaixonados por pessoas que, aparentemente, nem nos olhavam.

— Por que tem que ser assim com a gente? — John reclamou, querendo rir de novo.

— Porque não somos líderes de torcidas maravilhosas. Quer dizer, você é! Eu sou uma batata.

John riu e ficamos em silêncio novamente. A nuvem negra pairava em cima de nós dois sempre que o assunto era coração. Não tínhamos o mesmo sangue, mas parecíamos ter a mesma síndrome de trouxa. O despertador começou a tocar e eu bufei, jogando John no chão e passando por cima dele, rindo. Tive que correr pra cozinha desviando das coisas que ele jogava em mim.

— Vocês vão cair! — Minha mãe gritou. Uma almofada atingiu o rosto dela — QUE ISSO?

— Ihh! — Falei, sentando na mesa e me fazendo de santa — Bom dia, mamãe.

Minha mãe pegou a almofada no chão e jogou de volta em John, que fez cara de ofendido. Minha mãe não estava rindo. Isso era estranho... Ela sempre dava risada das nossas coisas escrotas. Não falei nada, apenas comecei a tomar meu achocolatado enquanto encarava John. Ele parecia ter percebido a forma estranha que nossa mãe havia reagido também.

Segunda-feira. Aula. Preguiça. Não queria ir pra escola, mas fazer o que? Bufei e isso sempre irritava minha mãe, mas dessa vez... Ela fez cafuné em mim. A encarei, com o cenho franzido.

— Deve ser difícil pra vocês, né?

Olhei dela pra John. Ele tinha a mesma expressão de dúvida que eu. Do que aquela louca estava falando, gente? Minha mãe arqueou as sobrancelhas e mordeu o lábio inferior, nos encarando.

— Ah... Vocês ainda não sabem, não é?

— De que? — John ficou agitado, largando o pão dele em cima da mesa — Mãe, o que aconteceu?

— Wendy Loops foi morta ontem.

Deixei minha caneca de nescau cair e bater no chão. John ficou parado encarando minha mãe. Ficamos esperando ela começar a rir loucamente e dizer que estava mentindo, mas ela não o fez. Invés disso, pegou o celular e desbloqueou a tela, abrindo o whatsapp.

— Rosa... — Era meu pai falando — Não deixem as crianças saírem hoje e as leve no ponto amanhã, na hora de ir para a escola. Não vá trabalhar. Tranque a casa. Acabamos de sair da casa de Wendy Loops. Ela foi morta. A empregada relatou que estava vendo televisão quando ouviu um som na porta, quando a abriu viu a jovem jogada no chão com as genitálias mutiladas e com o rosto sangrando. Não vou voltar para casa hoje, vamos ficar investigando a cena do crime e de manhã vamos atrás dos pais dela, parece estar viajando. Eu amo você, tome cuidado.

O áudio acabou e minha mãe continuou nos encarando, esperando uma reação. Aquilo era real? Meu pai não estava brincando? Olhei para John que engoliu em seco o pedaço de pão mastigado em sua boca, então sussurrou.

— Uau.

Assenti. Nem eu nem ele gostávamos de Wendy, mas... Morta? Não dava pra acreditar, mesmo que a morte não nos abalasse nem um pouquinho. O medo que eu senti, o gelo no meu estômago... Aquilo acontecia em filmes e agora estava acontecendo com a gente! A mão de John agarrou a minha embaixo da mesa, ele sabia tudo de filmes de terror e com certeza estava apavorado agora.

— Vocês podem ficar em casa se quiserem — Minha mãe sugeriu — Podemos ver televisão o dia todo e...

— Não! — John a interrompeu, sorrindo — Vamos pra escola! Não vamos, Bia?

Encarei meu irmão sem entender muita coisa, mas assenti. Eu confiava nele, mesmo que a situação não fosse favorável.

Descemos do ônibus. Todos os alunos estavam do lado de fora, amontoados em pequenos grupinhos aqui e ali. Uma van estava parada na calçada, saíram pessoas com câmeras de dentro dela e uma mulher muito engomadinha com um homem a filmando. John sorriu e ajeitou os cachinhos. Ele adorava aparecer.

— Eu estou bonito? — Ele perguntou, virando-se pra mim. Eu assenti e ele arreganhou a boca — Meus dentes estão limpos?

— Sim, Miss Universo. Vamos.

Puxei ele pela mão até o nosso grupinho de amigos que estava parado, a maioria olhando em volta e muito nervosos. A primeira que veio me abraçar foi Kamilla. Soltei a mão de John e a abracei com força, indo abraçar os outros em seguida. Mexi nas pontas cor-de-rosa dos cabelos de Kamilla, tentando parecer normal naquele cenário tenso ao nosso redor.

— Amei a cor — Murmurei.

Kamilla sorriu e agradeceu segurando minha mão com força.

Nosso círculo de amigos era complicado, porém unido. Tínhamos em nosso meio: Anna, Luna, Kamilla, John, Vyola, Niccolas e Rebeca. James também ficava conosco as vezes, Sasha também. James era muito querido, Sasha não. Queria que ela rodasse junto com Wendy. Pensamentos a parte, ficamos encarando as coisas juntos ao nosso redor. A repórter falava com pessoas aos soluços, pessoas céticas e com pessoas amostradas. Não demorou muito, John se irritou e saiu andando rebolando até a repórter. Corri atrás dele porque não queria deixá-lo sozinho. No meio do caminho, ele respirou fundo e fez uma expressão de choro muio verdadeira.

— Você está entrevistando as pessoas por causa da Wendy? — Ele perguntou para a repórter, aos soluços, com lágrimas rolando — Eu... Eu era muito amigo dela...

— Oh, coitadinho! — A repórter exclamou, segurando o microfone e olhando de forma sugestiva para o câmera — Como soube da morte dela?

— Eu... Estava em casa quando minha mãe entrou no quarto desesperada, dizendo que Wendy Loops havia morrido. Eu... Não tive reação. Minha melhor amiga! — John soluçou — Mal soube como ela morreu!

— Esfaqueada. Dizem que o assassino ainda está a solta — A repórter informou — Você não é John Rodrigues, filho do policial Roger Lopes?

— Sim — Confirmou meu irmão, secando as lágrimas — Ele me disse algumas coisas...

Parei de ouvir e encarei o chão. O assassino ainda estava a solta? Olhei em volta para a escola, para os meus amigos... Quem seria a próxima vítima?

Kill EverybodyWhere stories live. Discover now